Ricardo Stuckert / PR via FlickrLula visita FHC na casa do ex-presidente em São Paulo: Como cada um vai resolver seu problema grego?  

Fernando Henrique e Lula na pena do poeta

No dilema dos gregos, Lula enfrenta um risco: o de ver sua primeira e segunda passagem pela presidência serem apagadas pela sua terceira
05.07.24

Diz-se que Aquiles, o maior guerreiro grego, estava em dúvida sobre lutar ou não em Troia. Ao consultar sua mãe, Tétis, ouviu que havia dois caminhos à sua frente. O primeiro era virar as costas para os gregos e ter uma vida familiar previsível, segura e feliz. A segunda era engolir toda sua raiva por Agamemnon e partir para o front com boas chances de nunca mais retornar à sua pátria.  

Para Aquiles, foi uma escolha fácil. A vida privada, embora pudesse ser próspera e satisfatória, era o pior tipo de destino que poderia se imaginar para os gregos, porque significaria a opção pela mediocridade e o esquecimento. A busca da imortalidade, por outro lado, só poderia ser obtida por meio de feitos grandiosos, dignos de serem registrados pelo poeta.  

A guerra era o palco por excelência para atos de heroísmo. Dentro da pólis, no entanto, o alcance da transcendência por meio de atos memoráveis acontecia na política. Sair de casa e adentar à arena pública tinha o mesmo efeito de ir para o front, um caminho para os grandes. O termo “idiota”, por exemplo, era utilizado para designar o cidadão comum, que ficava encapsulado na sua vida ordinária e cotidiana, voltada quase exclusivamente para atender os apelos do mundo das necessidades.  

Como os gregos estão impressos no DNA dos ocidentais, é impossível não perceber traços desse anseio ancestral que se confunde com a própria natureza da política. Qualquer vereador da cidade do interior que entende minimamente sua atividade se preocupa em saber como seu nome ficará registrado na história da sua cidade. No mínimo, ele sonha se tornar nome de rua.  

Uma foto divulgada da visita feita por Lula a Fernando Henrique Cardoso nos últimos dias mostrou dois protagonistas da política brasileira desde antes da redemocratização e lançou uma pergunta válida sobre a relação de cada um com a história. Como cada um vai resolver seu problema grego? 

Embora, na foto, FHC parecesse mais fragilizado que Lula, é bem provável ser ele aquele que não precisa mais se preocupar sobre isso. A comemoração de 30 anos do Plano Real fornece a chave para compreender que ele já transcendeu. A comemoração assertiva da maior mudança de regras econômicas “já experimentada por este país” sugere fortemente o tucano será cantado em verso e prosa daqui a 50 anos pelos professores de história – desde que eles não sejam comunistas.  

A mesma celebração, por sua vez, mostra que Lula não tem essa garantia. Pelo contrário, como lembrou Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, a lembrança das três décadas do lançamento do Real foi ainda mais forte porque soou como um protesto contra quem não o aceita e trabalha contra ele. O recado dado ao PT não pode ser mais claro. O Brasil celebra o legado de um e questiona as intenções do outro.  

Lula foi chamado de “o cara” por Barack Obama e sempre terá ao seu lado o mito do “cinderella man”, isto é, aquele que não tinha nada e se tornou tudo. Mas, fora o carisma pessoal, o que vai sobrar digno de registro? Lula tem como referência Getúlio Vargas que, goste-se ou não, criou o modelo de Estado que, depois, FHC anunciou que tentaria desmontar. Mas, qual será o legado de Lula? 

O risco que ele enfrenta é o de ver sua primeira e segunda passagem pela presidência serem apagadas pela terceira. E o motivo é simples. Toda a sua atuação social foi promovida pelas condições de estabilidade plantadas pelo plano Real. Enquanto seguiu nessa trilha incremental aberta por outros, foi bem-sucedido. Quando saiu dela e resolveu abrir seu próprio caminho, que é algo corajoso (ou inconsequente?), discursando como se o mundo nascesse, terminasse e renascesse com ele, coloca dúvidas sobre sua própria capacidade. 

Feitos históricos demandam tempo para serem compreendidos. FHC está sendo incensado já no seu crepúsculo da vida, o que é uma dádiva, considerando o quão curto é o período da existência física. Lula quer entrar no panteão antes de 2026, visando um controle da memória da história e dos poetas que nem Aquiles pretendeu.   

 

Leonardo Barreto é cientista político e sócio da I3P Risco Político

 

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  1. FHC foi um estadista. Nos 1º e 2º mandatos. Mas....passou a mão na cabeça de Lula pilhado no mensalão. Por que? Conhecendo a canalhice de Lula e seu PT pergunto: O que será que Lula sabia sobre FHC para ele colocar panos quentes: "Deixem ele sangrar até morrer". Um verdadeiro e puro estadista não faria isso, ainda mais ouvindo seguidamente que seu governo foi uma "herança maldita". Quem deixou heranças malditas foram todos os governos do PT, incluíndo o atual

  2. Nao esqueci que Fernando Henrique Cardozo nos prometeu pra retornar ao mandato,l que o dolar seria prestigiado,porem foi so triste promessa.

  3. A foto mostra dois picaretas. FHC nos deixou como legado a maldição da reeleição e o supremo gilmerd 1°.,ao menos nao é um iletrado como seu sucessor. O que lhe permitiu deixar um legado na economia. Já luladrão roubou "como unca antes na história deste pais" e passará a historia como o kanalha dentre os kanalhas da triste politica nacional..

  4. Não psicólogo, mas experiente em co hecer malandragem. Gostaria muito que ufparana publicasse a tese monografia da Sra Janja na seu término de curso basico de sociologia.de

  5. Essa lesma invertebrada é tão tão infame que recebeu um país sanado de presente em 2003 e ainda chamou a gestão anterior de herança maldidita. Psicólogos, vejam o olhar desse covarde ao o sr. FHC. Não não olha no rosto. Infame. Covarde. Paraná, expulsa glesi, isso é um câncer. Lula tem uma primeira dama que desonra o país, mesmo a sra Marisa letigi , a mais banal de todas fame

  6. Lula já é imortal pelos feitos do Mensalão e do Petrolão , pelo menos, dos quais foi o gestor, podendo alardear tais feitos como os maiores escândalos de corrupção já desbaratados, pelo menos por aqui. Tem é que descer do palanque e governar

  7. Excelente! Bem, pela segunda vez (já toquei no assunto em artigo anterior do articulista aqui na revista), a única possibilidade de Lula entrar para a história, seria renunciar ao cargo (já deu o que tinha que dar), em prol de Alckmin, que não é lá essas coisas, para um mandato tampão até 2026; isso poderia mitigar a polaridade política (talvez, já que a estupidez dos extremos é irremediável), abrindo o caminho para novas lideranças mais centradas; fica a dica.

    1. E o melhor, Lula sairia da política para entrar para a História, não precisando recorrer à atitude extrema de Getúlio; o problema seria o que fazer com a Janja no day-after... Ah, o mesmo conselho serve para Biden.

  8. Lula não tem competência. Nós dois primeiros mandatos surfou na onda de acertos do plano - que chamava de herança maldita - e no cenário de bonança internacional. Depois veio desastre Dilma. Agora, confrontado com uma realidade econômica adversa, não tem plano nenhum. O único plano é gastar sem controle e culpar certeiros pela sua irresponsabilidade.

  9. Lula quer poder e imortalidade, mas é apenas um semianalfabeto descondenado. Não sabe fazer outra coisa senão discurso de palanque. Não sabe trabalhar e não quer ( vídeo dedo que lhe falta). Enfim, só luloafetivos irao imortalizá-lo, os demais lembrarão sempre com orgulho é da LAVA-JATO.

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