EXCLUSIVO: Quase vice, príncipe diz que chefe da campanha de Bolsonaro agiu como agiota ao negociar chapa
Luiz Philippe de Orleans e Bragança diz que foi isolado por Gustavo Bebianno, presidente do PSL e um dos aliados mais próximos de Jair Bolsonaro, para não ter a vaga. Ele afirma que, nas conversas para tratar da candidatura e cobranças por “lealdade”, só faltou perguntar: “Olha, quanto é que é para o negócio sair?”
Na última segunda-feira, Carlos, um dos filhos de Jair Bolsonaro, recebeu uma visita especial no hospital em que o pai está se recuperando do atentado a faca. Era o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, candidato a deputado pelo PSL que foi cotado para ser vice na chapa. A imagem, registrada no corredor do hospital Albert Einstein, sintetiza a proximidade do príncipe com os filhos de Bolsonaro. Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro integram o pelotão mais próximo da campanha do pai. O grupo inclui ainda um quarto elemento, tão influente quanto o trio, embora não seja da família Bolsonaro: o advogado Gustavo Bebianno, presidente do PSL, que tem sido uma das vozes mais ativas na definição das estratégias do ex-capitão do Exército. A relação entre Bebianno e os filhos do candidato, porém, não é das melhores. Os ruídos começaram ainda no processo de definição da vaga de vice. O processo foi turbulento. Primeiro, a advogada Janaína Paschoal recusou o posto. Depois, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, líder de um movimento anti-PT, surgiu como opção. Mas também ficou pelo caminho.
Gustavo Bebianno era o encarregado de tocar as negociações. É nesse contexto que surge a história da qual Crusoé trata a seguir, em uma entrevista com o príncipe. O herdeiro da família real diz que, durante o processo, Bebianno e seu braço-direito, Julian Lemos, vice-presidente do PSL, atuaram como “agiotas”. O príncipe diz que eles não chegaram a lhe pedir dinheiro em troca da vaga de vice, mas que estranhou as sucessivas cobranças por “lealdade”: “Era uma conversa em que faltava eu falar ‘olha, quanto é que é para o negócio sair?’”. Luiz Philippe diz que, a certa altura, ouviu um “Me ajuda a te ajudar”, numa espécie de “jogo remunerativo”. Hoje candidato a deputado federal pelo partido de Bolsonaro, o príncipe mantém boas relações com o candidato, apoia seu nome e faz elogios públicos ao general da reserva Hamilton Mourão, que depois acabou escolhido para a vaga. Não se pode dizer o mesmo, contudo, de Gustavo Bebianno e Julian Lemos. Crusoé tentou, sem sucesso, falar com os dois. A seguir, a entrevista do príncipe.
Como foi a sua relação com Gustavo Bebianno durante a discussão para ser vice de Bolsonaro?
A tratativa era com ele. Eu nunca fui o candidato de escolha do grupo. Eu fui colocado lá pelos seguidores (nas redes) do Bolsonaro. Em decorrência da escolha da Janaína, a base do Bolsonaro reagiu negativamente e de certa maneira começou a ventilar meu nome. Eu nem estava no Brasil, estava em férias.
Então foi de fora para dentro?
Foi. O Bolsonaro acatou a voz dos seguidores dele. Ele é muito sensível aos seguidores e, então, resolveu considerar meu nome para ser um dos candidatos e deixou em aberto quem seria. Eu não tive chance de conversar com o Jair. Não houve tempo. Foi isso que aconteceu e ele teve que decidir baseado naquilo mais conveniente, mais conhecido por ele. É um cargo de confiança.
Houve um certo distanciamento? Dizem que consideraram o senhor prepotente.
Procede. Me acham arrogante, prepotente. Não é que eu seja isso. Mas na dinâmica com eles (Gustavo Bebianno e Julian Lemos), eles podem não ter gostado de mim. Eu não acho que eu seja arrogante e os seguidores do Bolsonaro também não acham.
Então o nome do general Mourão foi uma escolha mais tranquila?
Gera uma certa paz de espírito de que “não vai ter golpe”. Eu estou na vida pública há quatro anos, não tenho base, não tenho nada. Mas não estou triste. Comuniquei aos filhos do Bolsonaro: “É só falar: não deu liga. Não tem problema nenhum”.
Houve algum episódio de atrito ou briga com Bebianno?
Não. Mas ele nunca me quis.
Ele chegou a pedir algum tipo de contribuição financeira?
Eu não posso dizer que pediu, de jeito nenhum. Mas a conversa dele e do sócio dele, o Julian, era muito nessa linha. Era uma conversa em que faltava eu falar ‘olha, quanto é que é para o negócio sair?’. Se eu fosse do gênero que eles estão acostumados a lidar, eu teria falado algo do gênero. Mas estou fazendo isso (política) por ativismo. Não tenho ambições de ser eleito para nada, a não ser querer mudar o Brasil. Para mim não cabe fazer esse tipo de jogo remunerativo, que talvez seja o jogo que eles estejam jogando.
Mas como ele insinuou? Falou em valores?
Não teve valor nenhum negociado. Não foi nada negociado. Mas havia o atrito, o bate-papo fútil. Aquele papinho que não leva a nada, ‘me ajuda a te ajudar’.
Eles usaram essa frase?
É, ‘me ajuda a te ajudar. Me mostra lealdade, como é que você vai mostrar lealdade’. Era esse papinho. Eu falei: ‘Como que eu vou mostrar lealdade ao Jair? Eu mal conheço o Jair. Quero conhecer o Jair, me bota junto com o Jair’. E a resposta era ‘se eu te botar você junto com o homem, e aí, como é que fica?’.
Essa insinuação, financeira, era para eles ou para a campanha?
Isso é totalmente desvinculado do Jair. Não tem nada a ver com ele. Ali está acontecendo o contrário. Enfim, é isso. Eu queria deixar registrado que o Jair não participa dessas reuniões. Quando fui chamado para falar com o Jair, eu não conversei com ele. O Jair tomou uma decisão sem me conhecer. Foi uma reunião rápida, tensa. Eles estavam juntos.
O senhor e Bolsonaro não conversaram a sós?
Não houve nada a sós. Eu insisti para ter uma conversa a sós. Os filhos (de Jair Bolsonaro) insistiram: “Luiz, pede uma conversa sozinho. Os caras (Bebianno e Julian) não vão deixar, mas pede”. Eles cercaram o Jair e blindaram de qualquer interação.
O senhor não teve a oportunidade de falar para Bolsonaro que achava que eles pediram dinheiro?
Não. E vou ser sincero: eles não pediram dinheiro. Quero deixar isso bem claro. O que estou dizendo é que eles agiram como se fossem agiotas. Mas não pediram dinheiro.
O senhor ficou com a impressão de que se oferecesse dinheiro talvez o cenário mudasse?
Eu não estou acostumado a entender esse tipo de coisa. Só muito mais tarde é que pensei ‘puxa, será que eles estavam realmente querendo dinheiro meu? Será que era isso?". Não posso especular aqui, não posso afirmar nada. Eles são muito espertos, eles gravam todas as conversas, eles não falam nada, falam só aquele papinho básico, ficam pescando. Então não é um papo, assim, um diálogo aberto, como o que estou tendo com você.
Mas a mensagem que o senhor entendeu foi essa?
Algumas vezes, por telefone, o Julian falou: “Me ajuda a te ajudar". Julian Lemos. Bebianno, o que ele falou: 'Me mostra lealdade. Quero ver, estamos aqui para entender sua lealdade'. E fica naquele vazio. Eu... Como é que eu vou responder uma pergunta dessas? Como é que eu vou responder à altura da pergunta, né? Então, ficou horas comigo falando isso: "Queremos lealdade, lealdade". E eu sabendo que ele não me queria lá, né? Então, por que ele estava falando isso? Por que ele, sendo que o Jair é o cara que decide?
A sua relação permanece boa com a candidatura de Jair Bolsonaro e o general Mourão?
Sim, apoio. Jantei com o Mourão aqui em casa. É uma pessoa culta, muito preparada. Ele agrega.
Atualização: Após a publicação da entrevista, Julian Lemos entrou em contato com Crusoé. O que ele disse pode ser lido aqui.
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Comentários (10)
José
2018-09-14 15:49:39Bolsonaro está fora do jogo. Mandaram ele para o hospital. Perdeu.
Zander
2018-09-14 15:04:15Decepcionante, a entrevista, de responsabilidade do Felipe Coutinho, o seu condutor tendencioso: fofoca e ilações. Pensei que estava lendo Caras ou Capricho, a da minha adolescência. A "ilha do jornalismo" fez obra de imprensa marrom. Onde cancelo a assinatura?
Maria Tereza
2018-09-14 13:13:02Tudo a mesma coisa
Murillo
2018-09-14 02:10:29O príncipe deixou claro desde o primeiro momento que eles não pediram dinheiro. O repórter insiste mil vezes na mesma pergunta. Desculpa, mas o leitor da Crusoé não é retardado!
Liverson
2018-09-14 01:23:28Até tu Crusoé? A quem interessa essa tática de "dividir para conquistar"? O que pretendem?
JOSE
2018-09-13 20:34:04Sr Príncipe: honre seus antecedentes e "esclareça" todo esse "agito".
Marcos
2018-09-13 20:14:25Essa entrevista está com cara de coisa encomendada para minar se campanha. Sendo inteligente o príncipe guardaria o fato para informar ao Bolsonaro sobre o ocorrido na melhor hora o qual decidiria qual atitude tomar. Aqui na Crusoé o tom é de fofoca. O príncipe deveria ter respondido um "não é da conta de vocês" quando foram sugerir essa "reportagem".
JOSE
2018-09-13 19:46:53Espero,que apesar do "contratempo",contribua com o governo Bolsonaro.Descendente dos Pedros estadistas(vide campanhas do I na Europa) será um "reforço" na reconstrução do Brasil.
Luiz
2018-09-13 19:29:48Entrevista clara. Mostra como é o bastidor com nossos brasileiros, viciados em propina. Bolsonaro vai limpar isso.
Edilson
2018-09-13 19:24:21Bom, como o Diego é Amoedo, deve tá querendo queimar a candidatura de Jair para ajudar o Novo, ou então queimar o filme do Príncipe!