Por que Trump escolheu Rubio para negociar com o Brasil
Designação de secretário de Estado valoriza a diplomacia entre os países, mas reforça caráter político nas conversas

O presidente Lula e o presidente dos EUA, Donald Trump, reabriram os canais diplomáticos em uma conversa por vídeoconferência nesta segunda-feira, 6.
Segundo nota do governo brasileiro, Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio (foto), para dar continuidade às negociações sobre o tarifaço de 50%.
Pelo lado do Brasil, participarão do próximo encontro o vice-presidente, Geraldo Alckmin, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
"O presidente Trump designou o secretário de Estado Marco Rubio para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ambos os líderes acordaram encontrar-se pessoalmente em breve. O presidente Lula aventou a possibilidade de encontro na Cúpula da Asean, na Malásia; reiterou convite a Trump para participar da COP30, em Belém (PA); e também se dispôs a viajar aos Estados Unidos. Os dois presidentes trocaram telefones para estabelecer via direta de comunicação", diz trecho do comunicado.
Tarifaço
Durante a conversa, Lula solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta aos produtos brasileiros.
O petista também pediu a revisão do cancelamento de vistos de autoridades brasileiras e da Lei Magnitsky imposta ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No entanto, a nota do governo Lula, porém, não menciona os secretários americanos: Howard Lutnick, de Comércio, e Scott Bessent, do Tesouro.
Eles são os responsáveis pela política tarifária dos Estados Unidos.
Peso político
No lugar deles, Trump designou Marco Rubio.
O secretário americano é filho de imigrantes cubanos e crítico dos governos de esquerda da América Latina.
Para o advogado Enrique Natalino, especialista em direito internacional, a designação de Rubio era esperada e tem um peso político.
"Por ser o secretário de Estado, é esperado que ele fale com governo Lula. Mas reforça a natureza política da conversa. Rubio é o republicano com maior prestígio dentro do governo Trump ao lado do vice, JD Vance", afirma.
"Ao mesmo tempo que ele tem tido uma atitude de falcão, ou seja, de endurecimento junto aos países latino-americanos, a ele cabe amaciar e flexibilizar aproximação junto ao Brasil. A escolha tem o objetivo de prestigiá-lo e também uma tentativa de mudar a política externa junto à região. Os EUA têm endurecido em relação à Venezuela. Ele ganha mais poder e uma posição privilegiada de ser o principal intermediário", avalia Natalino.
Rubio tem sido ativo nas redes sociais sobre a situação política brasileira, especialmente em críticas ao STF e à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em uma publicação feita em 11 de setembro, ele afirmou:
"As perseguições políticas do violador de direitos humanos sancionado Alexandre de Moraes continuam, já que ele e outros membros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram injustamente prender o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os Estados Unidos responderão adequadamente a essa caça às bruxas”.
Mais Médicos
Rubio também anunciou a revogação de vistos de ministros do STF e de autoridades ligadas ao programa Mais Médicos.
Ele acusou a iniciativa de ser uma "fraude diplomática inconcebível" envolvendo cubanos.
“O Departamento de Estado americano também está tomando medidas para revogar vistos e impor restrições de visto a vários funcionários do governo brasileiro e ex-funcionários da OPAS cúmplices do esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano. O Mais Médicos foi um fraude diplomática inconcebível de “missões médicas” estrangeiras”, publicou.
Cautela
A conversa de Lula e Trump pode significar uma vitória para a diplomacia brasileira, que até então não tinha interlocução direta com a Casa Branca.
No entanto, o histórico de Rubio indica que as conversas seguirão em um tom político, não apenas focado em comércio.
"Da parte brasileira, a presença deve vista com cautela já que ele é um elemento político. Não é um elemento técnico e diplomático dentro do governo Trump. É preciso olhar a escolha de uma maneira cautelosa e pragmática", afirma Natalino.
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