Por que drusos, beduínos e o exército entraram em confronto na Síria?
Crise se intensifica no sul do país; governo é acusado de favorecer beduínos

Confrontos entre tribos beduínas, forças do exército sírio e membros da comunidade drusa deixaram dezenas de mortos nos últimos dias na Síria.
Desde a queda do ditador Bashar Assad, em dezembro do ano passado, vêm sendo registrados enfrentamentos entre forças pró-governo e combatentes drusos, especialmente no sul do país.
De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, os novos confrontos começaram após membros de tribos beduínas, em Sweida, instalarem um posto de controle e atacarem um homem druso.
Em resposta, a minoria atacada retaliou, dando início a uma escalada de confrontos.
O exército sírio foi enviado à região para restaurar a ordem, mas há acusações de apoiarem os beduínos contra os drusos.
Intervenção israelense
As Forças de Defesa de Israel (FDI), que constantemente mantém laços com os drusos, informaram ter atacado tranques militares no sul da Síria.
Em março, as FDI intervieram em favor do grupo étnico na cidade de Jaramana, em Damasco, após confrontos com as forças do novo governo sírio.
Drusos
Os drusos são uma comunidade étnica religiosa árabe composta por cerca de um milhão de pessoas na Síria, Líbano e Israel.
Nas Colinas de Golã, eles compartilham o território com mais de 25 mil judeus israelenses em mais de 30 assentamentos.
No norte de Israel, cerca de 130 mil drusos israelenses vivem na Galileia e no Carmelo.
Em Israel, diferentemente de cidadãos árabes de outras culturas, homens drusos acima de 18 anos são recrutados pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) e já ocupam cargos de alto escalão dentro do exército.
Além disso, eles têm os mesmos direitos de cidadãos israelenses, podendo participar da vida política do país.
Beduínos
Os beduínos são povos nômades de origem árabe que vivem em áreas desérticas do Oriente Médio.
Na Síria, estão organizados em tribos, especialmente nas províncias de Sweida, Deir ez-Zor e Homs.
Eles mantêm estruturas tribais tradicionais, com lealdades baseadas em clãs e chefes locais. Apesar da modernização parcial, muitos ainda vivem da pecuária, comércio e agricultura de subsistência.
Durante a guerra civil síria, parte se aliou a diferentes facções.
Algumas ficaram ao lado de rebeldes e do Estado Islâmico.
Incerteza
As comunidades étnicas e religiosas da Síria expressam receito quanto ao seu papel no novo sistema político.
O novo presidente, Ahmed al-Sharaa, - que chefiava o grupo terrorista jihadista Hay'at Tahrir al-Sham (HTS) - prometeu proteger e incluir as minorias étnicas.
No entanto, os drusos estão divididos sobre como lidar com o novo governo.
Uma parte apoia o diálogo, enquanto outros defendem uma abordagem mais conflituosa.
Durante o regime de Assad, os drusos tinham suas próprias milícias, em parte para se defenderem de militantes fundamentalistas muçulmanos que os consideravam hereges.
Em 2018, membros do Estado Islâmico atacaram os drusos na província de Sweida, matando mais de 200 pessoas e fazendo mais de duas dezenas de reféns.
Sharaa, contudo, tem tratado as minorias como parte da Síria.
Nas últimas semanas, o presidente americano, Donald Trump, retirou as sanções históricas contra a Síria como parte da aproximação do novo governo com o Ocidente.
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