Quem ainda dá ouvidos a Fernando Haddad?
Inicialmente tido pelo mercado como "o adulto na sala", logo Haddad foi se percebendo escanteado pelo governo

Fernando Haddad (foto) disse, em entrevista à GloboNews na sexta-feira, 27 de junho, não acreditar que, no contexto atual, a taxa de juros (Selic) siga subindo. "Eu não vejo mais espaço para aumento da taxa de juros". Era o equivalente econômico de dizer que acredita haver umidade na água.
Gabriel Galípolo, o presidente do Banco Central, já havia dito na última ata do Copom que a taxa de juros não deverá subir se algo disruptivo não ocorrer no cenário internacional ou nacional (mais descontrole fiscal?), portanto, Haddad, com ares de profundidade, só falou o que todos que acompanham a economia já sabem.
Haddad também disse: "A inflação está caindo, e o patamar da Selic vai ficar nessa altura quanto tempo? Acredito que o BC vai ter que calibrar o momento do ciclo de corte, que eu não sei quando vai acontecer". Nada de novo também. E, se tivesse prestado mais atenção na referida ata do Copom, saberia que a sinalização do BC indica só para o ano que vem.
Projeção
E, ainda assim, a depender, mais uma vez, dos nossos dados econômicos. Se o governo não esgarçar o tecido do populismo com mais gastos fora do orçamento e não ampliar o (des)equilíbrio fiscal, pode ser que a taxa de juros comece a cair no primeiro trimestre do próximo ano, senão, só no segundo.
Se o governo der uma guinada e começar a fazer tudo muito certo e a geopolítica mundial conspirar a favor, quem sabe Galípolo, indicado por Lula, consiga sinalizar algo, num arroubo de otimismo, já no finzinho do ano.
E sua aparente ignorância não aparece somente nessas declarações. As mudanças mal ajambradas e mal costuradas com o Congresso no IOF, que o obrigou a sucessivos recuos e, por fim, sua derrubada, mostram que de sua tripla formação — bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia — o segundo item é o que menos parece dominar. Pior: indica não ter se cercado de pessoas mais adequadas a lhe trazer os insumos necessários para balizar suas decisões.
Adulto na sala?
Inicialmente tido pelo mercado como "o adulto na sala", aquele que faria Lula ser mais fiscalmente responsável, logo Haddad foi se percebendo escanteado pelo governo que integra, que só quer ampliar gastos e benesses de olho num governo sem projeto, que nunca pareceu deslanchar, e passou a mirar a reversão da queda de popularidade.
Enfraquecido, desprestigiado, sem autonomia real e ainda vendo seus mais recentes intentos arrecadatórios (para agradar Lula, não a si) naufragando, decidiu ecoar o novo discurso do PT fomentando o velho "pobres contra ricos", colocando de lado a veste de ministro da responsabilidade, que sob Lula 3, mais se assemelhava a uma fantasia de festa junina.
Mas o que será de Haddad daqui para frente? Seguirá rumo a irrelevância como ministro coadjuvante de um governo que só pensa no curto prazo? Vai pendurar o chapéu, vendo que não é ouvido ou considerado por seu chefe, buscando reconstruir sua imagem de gestor responsável?
Ou vai abraçar de vez e com afinco a bandeira vermelha de governo dos pobres, na tentativa de se tornar, quem sabe, popular e herdeiro de um Lula que se aproxima dos 80? Veremos.
Leia mais: Nem Gleisi foi tão longe, Haddad
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (1)
MARCOS
2025-06-30 12:39:59O "TAXAD" TEM QUE COLOCAR O NARIZ VERMELHO DE PALHAÇO, GUISOS E GORRO E DANÇAR PARA O LULA POIS ELE É O "BOBO DA CORTE".