Janja, a blogueirinha do Putin
Ao passear por Moscou e por São Petersburgo, a primeira-dama se converte em mais uma agente de desinformação russa

A primeira-dama Janja viajou para a Rússia na sexta, 2, para participar das comemorações do Dia da Vitória, na próxima sexta, dia 9.
Ela chegou seis dias antes do evento, que contará ainda com a participação do presidente Lula.
Assim que botou os pés no país, Janja foi visitar o Kremlin, a sede do poder Executivo.
Nesta segunda, 5, ela visitou o Bolshoi e propôs "ampliar a parceria do governo brasileiro com o governo russo, para que muitos talentos do nosso país possam viver o sonho de pisar nesse solo sagrado que é o Teatro Bolshoi".
Também estão na agenda Museu Hermitage, Catedral do Sangue Derramado e Fábrica de Porcelana Imperial.
Mas a Rússia é um país que segue massacrando a Ucrânia, que por sua vez tenta se defender o melhor que pode.
Cinismo de alto nível
No mesmo dia em que Janja embarcou para Moscou, a Rússia atacou Kharkiv, na Ucrânia, com drones. Cerca de 40 pessoas ficaram feridas.
Na noite de sábado, 3, os russos lançaram 165 drones iranianos Shaked contra as regiões de Kharkiv, Mykolaiv e Kiev.
No domingo, 4, ocorreram ataques massivos com drones e mísseis a nove regiões da Ucrânia. Em Kiev, equipes de emergência combateram incêndios em prédios residenciais e carros. Adultos e crianças ficaram feridos.
"Os russos pedem um cessar-fogo em 9 de maio, enquanto atacam a Ucrânia todos os dias. Isso é cinismo de alto nível: só nesta semana, a Rússia usou mais de 1.180 drones de ataque, 1.360 bombas aéreas guiadas e 10 mísseis de vários tipos contra a Ucrânia", afirmou o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky.
Influenciadora experiente
Como influenciadora experiente que é, Janja sabe que não pode falar mal dos seus anfitriões.
Na sua conta do Instagram, Janja diz que viajou "a convite do governo russo".
Mas a primeira-dama, que representa o Estado brasileiro, tem ido muito além de uma presença protocolar, pois tem adotado e divulgado a narrativa do ditador Vladimir Putin.
"Orgulho do povo russo"
Em primeiro lugar, Janja tem enaltecido a história russa, seguindo o revisionismo de Putin.
Depois de ir ao Kremlin, ela escreveu: "A fortaleza é um dos locais mais conhecidos da Rússia e guarda momentos importantíssimos da história de luta e construção da nação russa, tendo sido a morada de czares e hoje do presidente".
"Durante a visita, pude perceber o orgulho com que o povo russo se prepara para as comemorações do 80º aniversário do Dia da Vitória", escreveu.
Falar em "orgulho do povo russo" antes de assistir a uma parada militar, no meio de uma guerra, demonstra não apenas desprezo com o povo ucraniano, mas também descaso com a população russa, que é vítima do seu ditador e é obrigada a mandar seus jovens para um moedor de carne humana na Ucrânia.
"Forças extremistas"
Em seguida no seu texto para as redes sociais, Janja cria uma oposição entre aqueles que defendem a história e "forças extremistas", sem especificá-las.
Também fala em "conflitos", sem mencionar a Ucrânia.
Mas não é difícil juntar os pontos na sua frase, publicada no Instagram.
"Em tempos tão difíceis como os que vivemos hoje, com conflitos se espalhando e se intensificando, e a retomada de forças extremistas, é necessário e importante preservarmos a memória, aprendermos com a história e, juntos, construirmos um futuro de paz e fraternidade para os povos", escreveu a primeira-dama.
Estaria Janja insinuando que a invasão russa na Ucrânia seria contra forças extremistas?
Suponho que sim.
Agente de desinformação
A mera presença de Janja em Moscou, aliás, já traz uma mensagem.
Não há qualquer liberdade de expressão ou de imprensa em Moscou. Qualquer manifestação pró-ucraniana na rua pode levar uma pessoa à prisão.
A economia toda foi para virar uma máquina de guerra, voltada à produção de mísseis e drones.
O país está sob fortes sanções ocidentais.
Quando Janja passeia por Moscou e por São Petersburgo, ela ajuda Putin a difundir a ideia de que está tudo bem com o seu país, que não sofreu nenhum arranhão até agora com a guerra e, portanto, pode continuar com a sua "operação especial" na Ucrânia.
Ao se prestar a esse triste papel de influenciadora de Putin, Janja se transforma em mais um agente de desinformação russa no mundo.
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Comentários (2)
Mariana Camacho
2025-05-05 17:34:15Perfeito, Duda! Texto espetacular e necessário! Adorei também a sua fala direcionada especialmente para a blogueirinha do Putin durante o "Meio-dia em Brasilia"! 👏🏻
Luis Luz
2025-05-05 15:48:28O Zelenski poderia ajudar muito o Brasil! Que tal esperar o Lula chegar por lá nesta semana e mandar um drone na cabeça do casal?