"Rosto de uma Igreja mais humana", diz Cristina sobre papa Francisco
Relação entre a ex-presidente da Argentina e papa Francisco foi marcada por divergências e tensões

A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner lamentou a morte do papa Francisco nesta segunda, 21.
Em publicação no X, Cristina relembrou seu primeiro encontro com o pontífice, que distanciou-se do kirchnerismo ao longo dos anos.
Na ocasião, segundo a ex-presidente, ela comparou a narrativa do livro "Megafón o la guerra", do escritor argentino Leopoldo Marechal, às batalhas que Francisco enfrentaria como pontífice.
Segundo Cristina, o papa Francisco era "o rosto de uma Igreja mais humana, com os pés na terra e o olhar fixo no céu".
"A primeira vez que estive com Francisco, em março de 2013, disse-lhe que, tal como o Megafon, batalhas celestiais o aguardavam.
Ele riu muito e disse: “É meu livro favorito, adoro Marechal”. Concordamos que “Megafón, o la guerra”, obra marcante de Leopoldo Marechal, era um dos nossos romances favoritos.
Essa foi a primeira vez que o conheci como Papa.
Ela era o rosto de uma Igreja mais humana, com os pés na terra e o olhar fixo no céu. Sentiremos sua falta, Francisco. Nossa tristeza é infinita", escreveu.
Tensões
A relação entre Cristina e o papa Francisco foi marcada por confrontos públicos.
Entre 2004, Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, criticou em homilia o “exibicionismo” de governantes.
No ano seguinte, o governo suspendeu sua presença na tradicional missa de 25 de maio na catedral metropolitana, e o arcebispado cancelou a celebração.
Mandato de Cristina
A crise se intensificou quando Kirchner passou a se referir ao arcebispo como “chefe espiritual da oposição”.
Durante o governo de Cristina Kirchner (2007–2015), as divergências se acentuaram.
Em 2008, no auge do conflito entre o Executivo e o setor agropecuário, Bergoglio manifestou apoio aos produtores e pediu “gesto de grandeza” da presidente. O então vice, Julio Cobos, que rompeu com Cristina durante a votação no Senado, também foi recebido pelo cardeal.
Em 2009, Bergoglio afirmou que a pobreza na Argentina violava os direitos humanos. Cristina respondeu dizendo que preferia ações concretas a declarações.
A crise atingiu seu auge em 2010, durante o debate sobre o casamento homossexual. Bergoglio liderou a oposição à proposta, classificando-a como “mentira que pretende confundir os filhos de Deus”.
Cristina, em viagem oficial, acusou o discurso da Igreja de remeter “aos tempos das cruzadas”.
Outro ponto de tensão foi o papel de Bergoglio durante a ditadura militar.
O jornalista Horacio Verbitsky, ligado ao kirchnerismo, acusou Francisco, de maneira infundada, de ter colaborado com os militares na ditadura.
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