Lucas de Souza Martins: Kamala Harris e a democracia partidária
Após ganhar a maioria dos votos dos delegados do Partido Democrata, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, discursará na Convenção Democrata, que começa no dia 19 de agosto, em Chicago. A disputa interna pela indicação do partido, que precisou ser reiniciada após a desistência do presidente Joe Biden, foi breve. Os grandes nomes dos...
Após ganhar a maioria dos votos dos delegados do Partido Democrata, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, discursará na Convenção Democrata, que começa no dia 19 de agosto, em Chicago.
A disputa interna pela indicação do partido, que precisou ser reiniciada após a desistência do presidente Joe Biden, foi breve. Os grandes nomes dos democratas rapidamente apoiaram Kamala. Quem preferiu esperar mais alguns dias foi o ex-presidente Barack Obama e sua esposa, Michelle.
“A teoria para explicar essa demora de Obama é que eles quiseram mostrar algum princípio de democracia partidária na escolha de Kamala”, diz o historiador e jornalista Lucas de Souza Martins, professor de história americana na Temple University, na Filadélfia. “A ideia foi criar nas bases democratas a percepção de que houve um diálogo no partido, um consenso.”
Kamala Harris foi alçada ao topo do Partido Democrata por estar no lugar certo, em 2020. Naquele ano, ela foi convidada a compor a chapa com Joe Biden porque foi uma maneira de aproveitar a onda de protestos que se seguiram à morte de George Floyd por um policial. “Isso levou os democratas a escolherem uma mulher afro-americana para a chapa. Essa escolha, mais tarde, contribuiu de forma fundamental para que o Biden vencesse a eleição contra Donald Trump naquele ano”, diz Souza Martins.
Quando entrou sozinha na disputa das eleições primárias dentro do Partido Democrata, Kamala não se saiu bem. “Ela acabou sendo esquecida pela presença de outras duas personalidades mais conhecidas, que eram o Joe Biden de um lado e o Bernie Sanders, do outro. Foi por isso que ela desistiu da campanha logo no início das primárias.”
Com a candidata Kamala Harris, os democratas buscam ampliar a vantagem entre os eleitores negros. Mas o interessante da história americana é que, no passado, era os republicanos que tinham mais entrada nesse público.
Abraham Lincoln, o presidente que comandou o Norte na Guerra Civil e obteve a abolição da escravidão, era um republicano. O Partido Democrata era o que apoiava os estados Confederados, que defendiam a manutenção da escravidão, explica Souza Martins. A inversão na relação entre o eleitor negro e os partidos políticos se deu na eleição de 1960.
A disputa em 1960 era entre o republicano Richard Nixon, então vice-presidente,, e um jovem senador democrata, John F. Kennedy. “O eleitorado negro estava muito mais próximo de Nixon”, diz Souza Martins.
Quando o pastor Martin Luther King Jr., um defensor da igualdade racial, foi preso, Kennedy ligou para a esposa e ofereceu solidariedade. “Foi algo que o Nixon não fez. O republicano ficou em silêncio. Isso transformou a maneira como o eleitorado negro enxergava o Partido Democrata”, diz o historiador.
Kennedy foi eleito naquele ano, mas morreu vítima de um assassinato, em 1963. Seu sucessor, Lyndon Johnson, aproximou ainda mais o partido do eleitorado negro, com a Lei dos Direitos Civis.
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