Pedro Raul via instagramDiante dos números e das altas cifras desembolsadas para contratá-los, é justo questionar: a beleza influencia em suas carreiras?

Feio é não fazer gol

A beleza não pode ser questionada, como dizia o irlandês Oscar Wilde, mas o que importa mesmo dentro de campo é bola na rede
07.06.24

Pedro Raul (foto) retocou a harmonização facial. O atacante do Corinthians já tinha passado pela aplicação de 14 seringas de toxina botulínica para correções na mandíbula, no queixo, no nariz e nas olheiras, segundo sua dermatologista, e foi fazer a manutenção em março. O procedimento causou algum desconforto na torcida corintiana. Mas é como diria Dadá Maravilha: feio é não fazer gol.

O ataque do Corinthians é hoje provavelmente o mais bonito do Brasil. Além do botulínico Pedro Raul, Yuri Alberto também tira suspiros da torcida corintiana, mas não exatamente por marcar muitos gols, nem sequer dos feios.

Após um início ruim, Yuri até melhorou sua média em 2024. Tem 12 gols em 23 jogos, mas nenhum deles no Brasileirão, mais difícil que Paulistão, Sul-Americana e Copa do Brasil — pelo Corinthians, até agora, foram 39 em 116 partidas. Seu companheiro de ataque chegou a peso de ouro, mas tem apenas 3 gols em 17 jogos — para fins de comparação, desde 2019, marcou 58 gols em 155 jogos. Diante dos números e das altas cifras desembolsadas para contratá-los, é justo questionar: a beleza influencia em suas carreiras?

“A beleza é uma forma de gênio – é, de fato, superior ao gênio, pois não precisa de explicação. É dos grandes fatos do mundo, como a luz do sol, ou a primavera, ou o reflexo nas águas escuras daquela concha prateada que chamamos de Lua. Não pode ser questionada. Tem o seu direito divino de soberania. Faz príncipes daqueles que a possuem”, diz Lord Henry em O Retrato de Dorian Gray.

São poucos os jogadores que se distinguem pela beleza e pela qualidade técnica ao mesmo tempo, e a mistura das duas coisas acaba confundindo as avaliações sobre seus desempenhos. David Beckham entrou para a história como um jogador bonito, mas sua importância para o futebol inglês, e em especial para o Manchester United, é evidente.

Kaká também já teve questionada sua habilidade, mesmo depois de ter sido eleito o melhor jogador do mundo em 2007. Nesse caso, a beleza seria um fardo para o craque, como nos casos de Heleno de Freitas e Raí, cujo futebol competiu com a própria estampa. A beleza inquestionável põe em questão o desempenho em campo.

Giroud, Cavani, James, Piqué, o goleiro Alisson, entre outros galãs consagrados, dividem as atenções na história do esporte com Garrincha, Pelé, Messi, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Maradona, Cruyff e Zidane, que fizeram muito mais bonito com os pés do que com os rostos.

Os jogadores, como boa parte da humanidade pós-redes sociais, nunca se importaram tanto com a estética. Cristiano Ronaldo ficou famoso por se assistir nos telões dos estádios. De Bruyne causou furor ao voltar de lesão no Manchester City com um penteado novo nesta temporada. Haaland também fez harmonização facial, assim como o goleiro Fábio e Lucas Lima — e quantos outros?

O meia são-paulino Lucas foi questionado outro dia em entrevista coletiva sobre a coragem de assumir a careca, enquanto o palmeirense Rony viralizou no barbeiro com um vídeo de antes e depois no qual não é possível identificar qualquer alteração no visual.

“Como é triste! Ficarei velho, horrível e terrível. Mas esta imagem permanecerá sempre jovem”, diz Dorian Gray ao olhar para o retrato que dá título ao livro de Oscar Wilde. “Nunca será mais antigo do que este dia específico de junho… Se fosse ao contrário! Se fosse eu quem ficasse sempre jovem e a imagem que envelhecesse! Por isso — por isso — eu daria tudo! Sim, não há nada no mundo inteiro que eu não daria! Eu daria minha alma por isso!”, completa o protagonista, decretando o início de sua tragédia.

“Como a pintura de uma tristeza, um rosto sem coração”, diz Dorian Gray citando Hamlet ao se dar conta do que se tornou por conseguir preservar a beleza da juventude por toda sua vida. No fim das contas, para além dos contratos publicitários — e Beckham ganha a vida com isso até hoje, anos depois de ter pendurado as chuteiras —, o que vai ficar é o futebol jogado. E não há botox que corrija a pontaria.

 

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  1. De repente os atletas também capitalizam com os cliques da internet, daí a preocupação com a imagem, além da vaidade, é claro

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