Na África do Sul, partido hegemônico terá problemas pela primeira vez
O dia ia chegar — e fatalmente chegou, no último final de semana: pela primeira vez em 30 anos, o Congresso Nacional Africano (CNA), principal partido político na África do Sul, perdeu a maioria que tinha no parlamento do país. O CNA ainda terá a maior bancada mas, pela primeira vez desde que Nelson Mandela...
O dia ia chegar — e fatalmente chegou, no último final de semana: pela primeira vez em 30 anos, o Congresso Nacional Africano (CNA), principal partido político na África do Sul, perdeu a maioria que tinha no parlamento do país. O CNA ainda terá a maior bancada mas, pela primeira vez desde que Nelson Mandela foi eleito em 1994, o partido terá de negociar e compor com outras forças menores no país.
Os números revelaram uma tendência de queda da bancada do partido que vinha durando uma década e meia: se em 2007 o partido tinha conseguido 297 cadeiras de um total de 400 na Assembleia Nacional, o número foi murchando até que em 2019, eram 230. Agora, o CNA deve ter 159 cadeiras, o que terá de forçá-lo a negociar e barganhar políticas públicas.
A série de fatores que causou a queda do partido, um dos principais do continente, inclui uma economia em frangalhos, sem crescimento real desde 2008 e com incríveis 32,1% de desemprego entre a população ativa. Com quase 55% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, segundo o Banco Mundial, a sensação da maioria negra no país é de decepção com o partido, que passou a colecionar escândalos de corrupção desde que Jacob Zuma assumiu o cargo, em 2009. Figura forte dento do CNA, Zuma resistiu até 2018 no cargo, quando foi afastado e Cyril Ramaphosa passou a ocupar o cargo que mantém até hoje.
Neste ponto, o estrago estava feito. A imagem do partido e seu poder hegemônico passou a ser tão contestada que até mesmo a figura de Nelson Mandela, líder histórico do partido e considerado o libertador do país do regime de apartheid, é revisitada com viés negativo hoje na África do Sul.
Novos amigos
Desta vez, o CNA terá de fazer o que nunca fez na política pós-Mandela: amigos. "Com esses imperativos [os resultados eleitorais], o CNA começou relacionamentos com partidos políticos no país", anunciou a legenda em um comunicado nesta quarta-feira, 5.
Na mesa sentou-se inclusive o principal partido de oposição, o Aliança Democrática (AD), que terá a segunda maior bancada, com cerca de 90 cadeiras. Partidos menores também entraram na conversa — o plano do CNA é manter o atual presidente, Ramaphosa, para garantir a estabilidade política no país.
Quem não sentou à mesa, no entanto, foi o ex-presidente Jacob Zuma. Líder de um novo partido que abriu no ano passado, Zuma conseguiu eleger 58 parlamentares e terá a terceira maior bancada. Sua condição primária para negociar com o CNA, no entanto, é que ele retorne à cadeira de presidente no lugar de Ramaphosa, o que impede as negociações logo de cara.
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