Candidata de López Obrador, Claudia Sheinbaum é eleita presidente do México
Popularidade de AMLO foi principal ativo da campanha; Sheinbaum será a primeira presidente mulher do México
A candidata da situação, Claudia Sheinbaum (foto), foi eleita presidente do México neste domingo, 2 de junho.
Ela será a primeira mulher a ocupar o cargo quando for empossada, em outubro.
Até às 0h de segunda, 3, no horário local (3h, em Brasília), Sheinbaum tem entre 58% e 60% dos votos.
Trata-se dos resultados preliminares revisados do Instituto Nacional Eleitoral (INE), órgão autônomo responsável pela organização do pleito.
O anúncio, feito pelo próprio INE, atrasou em mais de duas horas.
A segunda colocada, a senadora Xóchitl Gálvez, tem apenas entre 26% e 28%.
Segundo Sheinbaum, Gálvez reconheceu a derrota e a parabenizou em telefonema.
No México, a eleição presidencial é realizada em turno único, mesmo que nenhum candidato obtenha mais de 50% dos votos.
As pesquisas eleitorais apontavam uma vantagem de 20 pontos percentuais de Sheinbaum sobre Gálvez.
O favoritismo era reconhecido desde antes mesmo do início oficial da campanha.
Às 8h deste domingo, enquanto abriam os locais de votação, a produção já montava o palanque em frente ao palácio presidencial para o discurso da vitória.
A base da estrutura estava montada havia dias, também porque foi usada para o ato de encerramento de campanha de Sheinbaum, na quarta-feira, 29.
Como Crusoé reportou ao longo da campanha, o grande ativo da campanha de Sheinbaum foi a popularidade do atual mandatário, Andrés Manuel López Obrador, o AMLO, que escolheu sua sucessora a dedo.
Antes da chegada de Sheinbaum na festa da vitória, o canto que a militância presente mais gritou era uma homenagem ao presidente que deixa o posto: “Es un honor estar con Obrador” (“É uma honra estar com Obrador”, em espanhol).
Os principais desafios da nova presidente serão reativar a economia do país, que registrou queda ao longo do governo de AMLO, e encerrar a guerra ao narcotráfico, motor da atual crise de segurança pública no México.
Uma reforma constitucional sancionada pelo atual presidente prevê a continuidade do uso das Forças Armadas na Segurança Pública até 2028, pelo menos.
Como o mandato presidencial no México é de seis anos, Sheinbaum estará na Presidência até 2030.
Outro importante desafio para a nova mandatária é apaziguar a crise institucional promovida pelas brigas de López Obrador com a oposição e os órgãos de controle do Estado.
As ofensivas do atual mandatário em especial sobre o Instituto Nacional Eleitoral, o TSE mexicano, tem mobilizado a classe média das grandes cidades contra a situação.
"Sheinbaum vai ter que conquistar uma legitimidade a partir do exercício do governo e de bons resultados. A aceitação social por ser herdeira de AMLO deve durar apenas alguns meses", diz o jornalista mexicano Hernán Gómez.
Ele é autor de um dos principais livros de análise sobre o lopezobradorismo, “AMLO y la 4T: una radiografia para escépticos” (2021).
Apesar de não ser tão carismática como seu padrinho, a presidente eleita deve conseguir ter maioria qualificada no Congresso. Em outras palavras, os dois terços dos assentos na Câmara e no Senado para aprovar reformas constitucionais.
López Obrador a teve na primeira metade de seu sexênio e pode aprovar reformas constitucionais sem negociar coma oposição.
Desde que perdeu a maioria qualificada, o atual mandatário optou pela polarização e intensificou as brigas com a oposição e os órgãos de controle do Estado.
Em eco ao discurso de AMLO, Sheinbaum questionou a integridade do processo eleitoral ao longo da campanha e continuou a defender as ofensivas de seu padrinho sobre o INE.
A ver se ela continuará assim na Presidência.
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Fato é que, sem o mesmo carisma, a presidente eleita precisará sair da sombra de seu antecessor.
"O México é um país de caudilhos. Só vamos saber se ela conseguirá se impor quando AMLO deixar de existir no cenário político", afirma Ezra Alcázar, militante do Morena, partido de López Obrador e Sheinbaum.
AMLO vem dizendo que vai se retirar da política quando sair da Presidência. Outra expectativa que se deve esperar para ser confirmada.
A eleição de Sheinbaum recorda à de Dilma Rousseff, em 2010, no Brasil.
Entretanto, além da diferença na personalidade e experiência política entre as duas, a nova presidente do México não terá de lidar com o Centrão, crucial na articulação do impeachment da petista.
"O sistema político gera condições muito diferentes. Dilma teve de compor governo com dezenas de partidos no parlamento para ter uma base. No México, isso não é preciso", diz Gómez.
A coalizão governista envolve, além do Morena, apenas outros dois partidos.
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