"Ocidente subestimou capacidade de resiliência da Rússia"
Na semana onde se completou dois anos da invasão russa ao território ucraniano, ficou claro que a brava resistência civil e militar dos ucranianos não tem parado a investida ordenada do Kremlin de Vladimir Putin. Como mostramos na Crusoé desta semana, o horizonte desanimador em Kiev contrasta com os planos cada vez mais ambiciosos de Putin não...
Na semana onde se completou dois anos da invasão russa ao território ucraniano, ficou claro que a brava resistência civil e militar dos ucranianos não tem parado a investida ordenada do Kremlin de Vladimir Putin. Como mostramos na Crusoé desta semana, o horizonte desanimador em Kiev contrasta com os planos cada vez mais ambiciosos de Putin não apenas contra a Ucrânia, mas a todo o bloco de países ocidentais, como a Europa, Estados Unidos e Canadá.
Para o analista militar Rodolfo Laterza, a Rússia chega em vantagem porque conta com uma série de fatores — puxados principalmente pelo que chama de um "erro de cálculo". "O Ocidente subestimou a capacidade de resiliência da Federação Russa", argumenta.
Ele ainda defende que o Ocidente não deve ignorar as ameaças nucleares feitas pelo autocrata russo nesta semana.
A seguir, trechos da entrevista:
Como a Rússia conseguiu chegar a estes dois anos de guerra em situação superior à Ucrânia?
O Ocidente subestimou a capacidade de resiliência da Federação Russa. Primeiro, a coesão majoritária da sua sociedade em prol da operação militar na Ucrânia; segundo, a força do seu complexo industrial militar que hoje produz mais munições que todo o ocidente; e fundamentalmente a capacidade da Federação Russa de burlar as sanções ocidentais e obter crescimentos econômicos até superiores ao G7 e superior ao próprio Brasil
O quanto essa ameaça nuclear deve ser levado a sério pelo Ocidente?
O Ocidente tem de levar a sério porque, na medida que se configure uma ameaça existencial ao Estado russo, a doutrina de segurança nacional da Federação Russa é de utilizar armas nucleares, iniciando por armas nucleares táticas para deter qualquer tipo de escalada que leve em risco a segurança nacional e principalmente a unidade nacional da Federação Russa.
A declaração do Macron, ainda que tenha sido para fins de demonstrativos e políticos de não descartar o envio de tropas francesas para Ucrânia foi irresponsável, porque a doutrina de segurança nacional russa não permite um determinado nível de escalada que leve ameaça a unidade e a segurança nacional do país.
Há um risco real de confronto?
Se, por exemplo, operadores militares dos países da Otan que estão atuando na Ucrânia (como comprovadamente declarou o chanceler [da Alemanha] Scholz), operando o sistema de misseis táticos de longo alcance, atingirem centro de decisão em Moscou, isso pode levar uma grave escalada. Ficou comprovado que não é Ucrânia que opera, mas sim próprias estrangeiras dentro da Ucrânia que estão operando por exemplo os mísseis de Storm shadow. Se esses ataques forem deflagrados no território nacional russo e nos centros desses de decisão, pode ser que tenhamos uma crise pior do que de 1962 é e e como que essa crise.
Como seria o papel de Vladimir Putin nesse processo?
Putin é um pragmático e, por mais que haja críticas inúmeras a ele, ele é um pragmático. Ele busca ali primeiramente colocar em prontidão máxima de utilização determinado sistemas de armas nucleares, notadamente mísseis balísticos móveis e de alcance intermediário.
Poderia ser assim um ataque retaliatório, demonstrativo de aviso, mas não seria uma resposta em relação a um ataque nuclear
E como seria o papel dos EUA neste momento?
A população americana está cansada do conflito e principalmente com a ausência de auditoria, da enorme quantidade de gastos empenhados para armar a Ucrânia e com a perda da iniciativa operacional ofensiva de Kiev e o fracasso da ofensiva ucraniana do ano passado.
Começou-se a ver questionamentos na opinião pública na sociedade e dentro das próprias Forças Armadas Americanas de os EUA, em detrimento por exemplo de ameaças muito mais tangíveis como os houthis no Mar Vermelho, focar num conflito por procuração que tende a se revelar altamente prejudicial aos próprios interesses de segurança nacional dos Estados Unidos.
Leia, na Crusoé #304: A Rússia vence pelo cansaço
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