A negar a política, eles dizem defender a democracia
Lula afirmou que o Brasil foi tomado pelo ódio por conta da negação da política. Põe a culpa em Bolsonaro, que virou o bode expiatório perfeito para todos os males da humanidade. Mas como o brasileiro tem memória curta, muita gente já esqueceu que o PT foi o maior negador da política, antes mesmo de...
Lula afirmou que o Brasil foi tomado pelo ódio por conta da negação da política. Põe a culpa em Bolsonaro, que virou o bode expiatório perfeito para todos os males da humanidade. Mas como o brasileiro tem memória curta, muita gente já esqueceu que o PT foi o maior negador da política, antes mesmo de chegar ao poder. Se negou a apoiar a Constituinte. Se negou a apoiar o Plano Real. Mas nunca negou apoio ao uso de dossiês falsos contra seus adversários. Os petistas ainda passaram a década de 1990 denunciando as relações promíscuas das empreiteiras com a classe política. Por ironia do destino, quando chegaram ao poder, uniram-se a essas mesmas empreiteiras, na organização dos dois maiores esquemas de corrupção da história do país.
O mensalão negou a política ao comprar base parlamentar. O petrolão foi a negação da política quando estabeleceu a corrupção como método de organização do Estado. A demonização de Marina Silva, na eleição de 2014, também negou a política, com os dossiês recheados de fake news edulcoradas cinematograficamente pelo publicitário João Santana para a campanha de Dilma Rousseff. O PT nunca se interessou em fazer política, porque sempre preferiu adotar a antipolítica como princípio.
Criaram uma imprensa chapa-branca, com blogueiros patrocinados pelas estatais para divulgar dossiês falsos contra os inimigos, além de perseguir os jornalistas que ousavam noticiar os esquemas de corrupção. E também o STF, que ousou julgar os crimes cometidos nos governos petistas. O ministro Joaquim Barbosa sofreu ataques racistas por ter sido duro no julgamento do mensalão. Pelo mesmo motivo, em 2018, o prédio da ministra Cármem Lúcia foi vandalizado pelos radicais do PT. Nem o impávido colosso Gilmar Mendes (foto) foi poupado: chegou a afirmar que estávamos lidando com “gângsters divulgadores de notícias falsas”, depois dele ter sido pressionado para atuar contra o julgamento do mensalão. O ministro Alexandre de Moraes também recebeu afagos da antipolítica petista. Em 2019, foi acusado de receber propina e permitir a violência contra os movimentos sociais enquanto secretário de segurança no governo do estado de São Paulo. O PT também ajudou a divulgar a acusação de que Moraes havia sido advogado de uma empresa suspeita de lavar dinheiro para o PCC. Na época, um político do PT chegou a defender o fechamento do STF. Hoje, os petistas alegam, em nota oficial, terem mudado o “pensamento sobre o papel dos ilustres ministros na garantia do Estado Democrático de Direito”.
Gilmar Mendes também mudou o pensamento sobre o papel dos petistas. Em 2015, dizia que eles haviam instalado uma “cleptocracia no país”. E que, graças à Operação Lava Jato, os petistas não conseguiram levar adiante “o plano perfeito para se eternizar no poder, através da corrupção”. Agora, o egrégio ministro diz que a Lava Jato criou Bolsonaro. Decerto não lembra que, já em 2018, afirmou categoricamente que o Partido dos Trabalhadores era responsável pelo momento belicoso que passava a sociedade brasileira, por ter disseminado esse tipo sangrento de fazer política, atacando pessoas, perseguindo os adversários e espalhando mentiras a respeito deles. Aliás, o nosso extravagante ministro contribui com esse tipo sangrento de fazer política ao afirmar, gratuitamente, que “Curitiba tem o germe do fascismo”.
Até porque, o único germe inoculado no brasileiro é o da negação da política. Não há mais ambiente propício para uma discussão racional acerca dos problemas mais urgentes do país. Só sobrou espaço para o radicalismo, seja dos revoltados contra o sistema, a espera de uma intervenção militar; ou os garantistas de ocasião que, revoltados com o Congresso, esperam uma intervenção do STF para impor, de forma autoritária, leis que possam favorecer o governo. É assim, negando a política, que dizem estar defendendo a democracia.
Diogo Chiuso é escritor e autor do livro O que restou da política, publicado pela editora Noétika em 2022
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Comentários (10)
maria
2023-05-11 23:01:05Comentário brilhante , análise perfeita! Infelizmente …
Lucia
2023-05-10 10:35:45Perfeita análise! Gilmar Mendes não merece mais crédito. Infelizmente ainda vamos ter que atura-lo por muitos anos.
Manoel Carlos
2023-05-10 09:50:27Ótimo artigo! Aqui todos a serviço da Cleptocracia! Prisão em segunda instância já! Voto distrital misto Já!
Eduardo
2023-05-10 09:02:31Brilhante comentário sobre política e negacionismo (para mim não só da política, mas, também da Ética). O Ministro Gilmar é um anti-ético supremacista, pois, procura impor-se com toda a arrogância que o poder "supremo" lhe permite. O texto, elegantemente, põem este camaleão do poder nu. Como sapiens, concluo pegando o mote final do último parágrafo com positivismo e questiono: até quando a mídia vai permitir que só "sobre espaço para o radicalismo"? Quantas vezes a mídia poderosíssima
KEDMA
2023-05-10 08:34:21Ótimo artigo Chiuso!
Juerg
2023-05-10 08:31:42A raiva e o odio desse Gilmarzinho que ele sente pelo Sérgio Moro e o Deltan é por causa de uma tremenda inveja que esse moleque de toga tem contra eles! Sérgio Moro e o Deltan têm uma coisa que este moleque do STF jamais vai ter: postura e conduta digna de um magistrado, educação e competência! E ao contrário desse Gilmarzinho - eles estão no lado certo da história!
Max
2023-05-10 00:30:56Só faltou dizer que o Coritiba vai cair para a segundona este ano por causa da Lavajato.
Alessandro
2023-05-09 21:18:22Um sujeitinho dado a cafajestagens esse tuiuiú…
Paulo
2023-05-09 18:31:22Não foi por acaso que o ministro Barroso disse, em plenário, que Gilmar era "horrivel, uma mistura de mal com atraso e pitadas de psicopatia". É que conhece ele muito bem.
Karin
2023-05-09 17:26:08Caro articulista, recomendo cuidado ao falar a verdade, o senhor pode ser enquadrado no inquérito do fim do mundo. Ainda mais, relembrando as falas do nobre ministro, elas foram ditas, mas são falsas. Mas, respeito a sua coragem em resgatar estas palavras.