O 'brilhante e darwiniano' parlamentarismo britânico
Ao renunciar à liderança do Partido Conservador e, por tabela, ao cargo de primeiro-ministro, Boris Johnson (foto) deu declarações didáticas sobre como funciona o parlamentarismo britânico. “Como vimos em Westminster, o instinto de rebanho é poderoso – quando o rebanho se move, ele se move. E meus amigos, na política, ninguém é remotamente indispensável”, disse...
Ao renunciar à liderança do Partido Conservador e, por tabela, ao cargo de primeiro-ministro, Boris Johnson (foto) deu declarações didáticas sobre como funciona o parlamentarismo britânico.
“Como vimos em Westminster, o instinto de rebanho é poderoso – quando o rebanho se move, ele se move. E meus amigos, na política, ninguém é remotamente indispensável”, disse Johnson nesta quinta, 7. “E nosso sistema brilhante e darwiniano produzirá outro líder, igualmente comprometido em levar este país adiante em tempos difíceis.”
O "sistema brilhante e darwiniano" de que fala Johnson é o parlamentarismo que acaba de se mostrar à prova de lideranças populistas que tentam se esticar no poder, a despeito da desaprovação geral.
Johnson é um líder carismático, incendiário e com fome de poder, que mudou diversas vezes de opinião — sobre imigrantes, sobre o Brexit — para escalar na hierarquia do Partido Conservador e, em seguida, obter o cargo de primeiro-ministro.
Quando surgiram críticas ao seu comportamento, ele mentiu descaradamente. Nas acusações de que teria participado de festas com assessores durante a pandemia, quando todos deveriam estar confinados, Johnson disse que não tinha acontecido festa alguma. Depois que fotos dos encontros, com garrafas de vinho, apareceram e que um relatório apontou que as lideranças incentivavam as comemorações, ele pediu desculpas. Nas críticas de que teria promovido um assessor mesmo sabendo que pesavam acusações de assédio sexual contra ele, Johnson disse que não tinha essas informações. Mais tarde, retratou-se.
Irredutível, o primeiro-ministro sobreviveu a um voto de não confiança de seus colegas de partido no dia 6 de junho. Com 70% dos britânicos tendo uma visão desfavorável dele, Johnson seguiu fazendo todo o possível para seguir no cargo.
Mas sua força de vontade esbarrou no "rebanho", ou seja, no partido. Johnson foi humilhado pelos seus colegas conservadores, quando mais de 50 deles renunciaram a seus cargos no governo. Mesmo sendo o político mais poderoso do país, ele se viu totalmente incapaz de montar uma equipe de trabalho.
No modelo britânico, eleições ocorrem a cada cinco anos, mas também podem ser convocadas antes do tempo. Quem vence o pleito é o partido, e não o candidato. Após a última eleição geral, de 2019, o Partido Conservador ganhou a maioria no Parlamento e, com isso, passou a ficar encarregado de interpretar a vontade das urnas. É ao partido que cabe a decisão de quem deve governar o país.
O Partido Conservador agora escolherá um novo líder para governar país. Com facilidade, os conservadores se livrarão de todas as patacoadas de Johnson e seu sucessor poderá iniciar um novo governo, do zero. Não é um sistema brilhante? Se o próximo primeiro-ministro for mais evoluído que Johnson, será possível até falar em um sistema "darwiniano". Quando o rebanho se move, ele se move. Ninguém é indispensável.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (6)
Leandro Nogueira de Freitas
2022-07-08 15:06:46É brilhante e dá uma inveja danada. O único problema é que ao invés de Bolsonaro e Dilma, teríamos Cunha, Maia e Lira. Pode parecer solução, mas o buraco é mais embaixo. Além disso, é o Centrão quem manda mesmo, então já temos parlamentarismo de fato. Os ingleses reclamam de pagar as despesas e luxos da monarquia, e nós desses seres inomináveis que nos representam. Será que os ingleses querem trocar?
FRANCISCO
2022-07-07 23:29:47O mais interessante são os políticos tendo que ir ao parlamento dar a cara a tapa aos colegas que os criticam 'na lata'. Aqui o presidente só dá entrevistas no cercadinho e olhe lá.
Marcello
2022-07-07 23:18:51E nos, aqui, com esse sistema político LIXO!
Nilson
2022-07-07 22:13:52Falamos tanto em democracia e não nos espelhamos nos paises onde deram certo como o parlamentarismo. Aqui não saimos dda mesmice, temos um presidencialismo de coalizão que nada mais é que o toma lá da cá e esquemas pra todo lado, o que interessa é o poder pelo poder e se dar bem mamando nas tetas do estado brasileiro.
Ademir
2022-07-07 19:02:32aqui nessa terra de merda, o parlamentarismo será esculachado, corrompido, com participação dos 3 pudê negociando "business as usual"
Wilde
2022-07-07 18:54:14Gostaria imenso de que o nosso sistema de governo fosse semelhante ao do Reino Unido. Sabemos, contudo, que em nosso país não daria certo, em razão do nível deplorável de nossos políticos. Falam até sobre um certo “parlamentarismo misto”. Tenho até medo de saber o que seja isso.