Em busca de novos Tiriricas: o que o partido de Bolsonaro espera dos candidatos-celebridades
Com uma campanha caracterizada pelo deboche e marcada pelo bordão “pior do que tá não fica”, Tiririca estreou em 2010 na política com o pé direito. Embora neófito, o palhaço fez sucesso: cativou 1,3 milhão de eleitores e tornou-se o deputado federal mais bem votado do país naquele ano. Em busca do quarto mandato, Tiririca...
Com uma campanha caracterizada pelo deboche e marcada pelo bordão “pior do que tá não fica”, Tiririca estreou em 2010 na política com o pé direito. Embora neófito, o palhaço fez sucesso: cativou 1,3 milhão de eleitores e tornou-se o deputado federal mais bem votado do país naquele ano. Em busca do quarto mandato, Tiririca dividirá neste ano com Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente, a responsabilidade de “puxar” os votos necessários para que o PL, comandado por Valdemar Costa Neto, conquiste 20 das 70 cadeiras de deputados federais reservadas a São Paulo, maior colégio eleitoral do país.
Animado por ter se transformado na maior bancada da Câmara dos Deputados com 78 deputados durante a janela partidária, o PL não quer parar por aí. Para se manter como a legenda mais robusta da casa depois das eleições, o partido tenta reproduzir o “case Tiririca” em outros colégios eleitorais de peso. A fim de atingir o objetivo, filiou celebridades em Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro. Nem todas elas, porém, reúnem condições de repetir o feito do palhaço famoso.
Em Minas, segundo maior estado em número de eleitores, a aposta é de que Maurício Souza (na foto abraçado com Bolsonaro) seja um dos principais puxadores de votos do PL. O jogador de vôlei fez barulho ao publicar, em outubro do ano passado, um comentário homofóbico em seu perfil no Instagram sobre a bissexualidade do atual Superman, anunciada pela DC Comics, uma das maiores companhias de histórias em quadrinhos dos Estados Unidos. “É só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”, escreveu. A repercussão do caso lhe custou a vaga na seleção brasileira de vôlei e provocou a dispensa do time em que atuava, o Minas Tênis Clube, mas fez com que ele ganhasse o apoio de Jair Bolsonaro e aumentasse de 250 mil para 2,6 milhões o número de seguidores em suas redes sociais.
A projeção do partido é de que Maurício consiga conquistar de 150 mil a 300 mil votos. Para que alcance o resultado, a sigla pretende colocá-lo em evidência na mídia local, principalmente em veículos ligados ao segmento evangélico. “O Maurício alcança todos os segmentos religiosos e conta com o bônus de ter bom trânsito no esporte”, diz uma liderança mineira. Pelos cálculos dos dirigentes da legenda de Bolsonaro e Valdemar, o jogador ficará atrás apenas de um de seus correligionários — o vereador Nikolas Ferreira, que pode bater de 350 mil votos a 500 mil votos, conforme simulações internas. “Se os dois atingirem esses resultados, temos chance de eleger nove deputados, já que a média de corte é 85 mil votos”, emenda a mesma fonte.
Já para eleger onze deputados no Rio, o PL conta com o prestígio do cantor Belo, celebridade com forte penetração nos meios político e empresarial, além de ter bom trânsito entre as comunidades carentes do estado. Pelas contas de lideranças estaduais, Belo teria hoje 50 mil votos, o que pode até ser o suficiente para elegê-lo, mas não o bastante para levar uma bancada com ele.
Os dirigentes do PL reconhecem que ser famoso não garante eleição, muito menos a repetição do feito de Tiririca. “O simples fato de ser conhecido não quer dizer muita coisa. Se você não tiver um trabalho político-partidário forte e uma base consolidada, não consegue converter em votos”, argumenta o vice-presidente do PL, Capitão Augusto. “Ser popular é positivo, mas muitos artistas ficam para trás e não conseguem se eleger quando contam apenas com o fato de ser famoso. É preciso ter identidade com o estado, com alguma instituição, tem que apresentar histórico de trabalho, do contrário não se elege. O marketing político também é fundamental. Se acertar nos vídeos e jingles, como Tiririca fez em eleições passadas, as pessoas compartilham, acham engraçado, jogam no TikTok, no WhatsApp. Essa é a receita”, afirma Augusto.
Famoso pela música Milla, que no passado virou um sucesso do axé ("Ô Milla/ Mil e uma noites de amor com você/Na praia, num barco, num farol apagado"), o cantor Netinho é a estrela do PL na Bahia. O problema é que ele ainda não empolgou nem sequer seus companheiros de partido, que o veem com um teto de 20 mil votos. O cantor, no entanto, não tem se deixado abalar e parece empenhado na pré-campanha nas redes sociais. Para deslanchar na corrida eleitoral, Netinho tenta colar sua imagem à de Bolsonaro. Na terça-feira, 5, o cantor publicou um vídeo ao lado de João Roma, ex-ministro da Cidadania e candidato do PL ao governo local. “Netinho é um grande apoiador do presidente Bolsonaro e ele tem uma vocação para a vida pública. Sem dúvida nenhuma, será uma excelente opção para aqueles que querem um Brasil de verdade, que querem um Brasil que anda de cabeça erguida e que não tem vergonha de como foi no passado”, diz Roma na gravação.
Em relação ao próprio Tiririca, existe a expectativa no PL de que ele possa voltar a alcançar a marca de 1 milhão de votos. O piso, segundo os mesmos cálculos, seria de 200 mil votos, já que, nas últimas eleições, o humorista contou com o voto de 445.521 eleitores. É uma situação distinta da vivida por Eduardo Bolsonaro, que, na avaliação dos dirigentes liberais, tende a se aproximar do desempenho de 2018, quando se tornou o deputado mais votado da história, com 1,8 milhão de votos.
Para outros famosos, como Mário Frias, ex-ator e ex-secretário Nacional da Cultura, e o ex-jogador Marcelinho Carioca, a projeção é de um resultado mais tímido. Há dois anos, o “Pé de Anjo”, como é conhecido o ex-craque do Corinthians, recebeu apenas 7,5 mil votos na disputa por uma cadeira na Câmara Municipal paulista, no que constituiu sua sexta derrota consecutiva nas urnas. Já Frias, na avaliação de colegas de partido, terá de penar para conseguir 100 mil votos, o mínimo necessário para ser eleito por São Paulo.
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Comentários (7)
Leandro
2022-04-11 20:47:36Perdi td minha admiração pelo Maurício. Mais um oportunista q vai tentar virar deputado e se fartar das vantagens do cargos sem nenhum retorno pro país. Moro22
Marcello
2022-04-11 12:15:15Votar, no Brasil, deveria ser algo democrático: vota quem quer! (ninguém ser obrigado a votar!)
Vilson Klein
2022-04-11 12:11:00esses políticos, não estão preocupados com os problemas do País, estão querendo ou fundo partidário maior, e que se lasque o Bradil
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2022-04-11 11:39:35O que me espantou não foi o Tiririca ser eleito, já que ele foi um "Cacareco" típico. O que me espantou foi ele ser reeleito duas vezes! Decididamente o brasileiro adora votar em trastes e em corruptos.
Valter
2022-04-11 11:34:19Tarcísio de Freitas (o “poste” do capitão), Mário Frias e outros paraquedistas sabem os endereços de seus supostos domicílios eleitorais? São Paulo tem essa triste tradição de dar votos a aventureiros que não têm nenhum compromisso com o Estado. Lamentável!
Marcello
2022-04-11 11:24:29Voto deveria ser distrital, esse voto proporcional é uma cretinice típica de repúblicas de bananas!
PETRUS ALEXANDRE GUEDES DE OLIVEIRA
2022-04-11 11:08:46Tem que chamar o caneta azul. Para ser candidato.