Celso de Mello: 'Censura é perversão da ética do direito'
Em um comunicado enérgico, o decano do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello (foto), condenou nesta quinta-feira, 18, a censura a Crusoé e ao Antagonista ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes em inquérito instaurado pelo presidente da corte, Dias Toffoli. "A prática da censura, inclusive da censura judicial, além de intolerável, constitui verdadeira perversão da ética do direito e...
Em um comunicado enérgico, o decano do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello (foto), condenou nesta quinta-feira, 18, a censura a Crusoé e ao Antagonista ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes em inquérito instaurado pelo presidente da corte, Dias Toffoli.
"A prática da censura, inclusive da censura judicial, além de intolerável, constitui verdadeira perversão da ética do direito e traduz, na concreção do seu alcance, inquestionável subversão da própria ideia democrática que anima e ilumina as instituições da República!", criticou o ministro.
No comunicado, Celso de Mello também mostrou desagrado com o inquérito que levou à proibição da reportagem "O amigo do amigo de meu pai". O ministro mais velho do Supremo diz que "eventuais abusos da liberdade de expressão poderão constituir objeto de responsabilização 'a posteriori'", mas "sempre, porém, no âmbito de processos judiciais regularmente instaurados nos quais fique assegurada ao jornalista ou ao órgão de imprensa" o direito de defesa.
A íntegra a nota segue abaixo.
A censura, qualquer tipo de censura, mesmo aquela ordenada pelo Poder Judiciário, mostra-se prática ilegítima, autocrática e essencialmente incompatível com o regime das liberdades fundamentais consagrado pela Constituição da República! O Estado não tem poder algum para interditar a livre circulação de ideias ou o livre exercício da liberdade constitucional de manifestação do pensamento ou de restringir e de inviabilizar o direito fundamental do jornalista de informar, de pesquisar, de investigar, de criticar e de relatar fatos e eventos de interesse público, ainda que do relato jornalístico possa resultar a exposição de altas figuras da República! A prática da censura, inclusive da censura judicial, além de intolerável, constitui verdadeira perversão da ética do Direito e traduz , na concreção do seu alcance, inquestionável subversão da própria ideia democrática que anima e ilumina as instituições da República! No Estado de Direito, construído sob a égide dos princípios que informam e estruturam a democracia constitucional, não há lugar possível para o exercício do poder estatal de veto, de interdição ou de censura ao pensamento, à circulação de ideias, à transmissão de informações e ao livre desempenho da atividade jornalística !!! Eventuais abusos da liberdade de expressão poderão constituir objeto de responsabilização 'a posteriori', sempre, porém, no âmbito de processos judiciais regularmente instaurados nos quais fique assegurada ao jornalista ou ao órgão de imprensa a prerrogativa de exercer, de modo pleno, sem restrições, o direito de defesa, observados os princípios do contraditório e da garantia do devido processo legal!
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Comentários (10)
Cássio
2019-04-19 10:42:44Pelo menos alguém comprou a briga lá dentro. Senti falta que fosse o Luis Roberto Barroso!
Carmen
2019-04-19 01:20:07Enfim o reconhecimento do erro !!!
LUCIA
2019-04-18 21:59:22E sobre o inquérito contra os outros internautas? Ninguém fala nada?
Jose Renato Pinto
2019-04-18 19:58:41Não consigo entender o porquê da AGU ter dito que a censura era correta. Bolsonaro pode ter certeza que tem inimigo na AGU.
ANTONIO
2019-04-18 19:52:45Mas... o que Lewandowski e Mendes acham disso? Deixa prá lá.
ROBERVAL
2019-04-18 19:43:34Parabenizo oMinistro Celso de Melo pela sobriedade da decisão. Mas vale ressaltar que o estrago que os ministros Alexandre Moraes e Dias Toffoli fizeram em suas próprias imagens não se apagará com facilidade.
Jose Renato Pinto
2019-04-18 19:11:52O comentário mais difícil de se fazer é quando a obviedade é desafiada por alguém que conhece ou tem a obrigação de saber.O ministro Alexandre de Moraes queira Deus levou e aprendeu uma lição.
ROBERTO
2019-04-18 19:09:22Parabéns Ministro Celso de Mello. A região de Tatui, sua terra natal sempre teve orgulho de suas posições. Neste momento, o Brasil precisa dos seus conhecimentos e liderança para"endireitar" o q está errado.
Jose
2019-04-18 19:01:58Demorou decano. Deveria ter saido antes. Aproveita e nos diga qual foi o papel da AGU neste escândalo?
Anarquista
2019-04-18 18:55:27Essa é a atitude q o pais espera de alguem com p peso do anos, da historia e do saber juridico. Incompreensíveis no entanto, sao seus votos a favor da soltura dos ricos e qualificados bandidos q relatam gilmar mendes e levandowski na mesma Camara. Ai o pais perde a referencia do cara q mais criticou juridicamente o mensalao e acertadamente votou. Entao, caro ministeo, seja de fato o decano, a baliza q evita essas molecagens