O consequencialismo de Dino é o fim do constitucionalismo no STF
Ministro indicado por sua "cabeça política" quer julgar os casos calculando, ele próprio, quais são as consequências futuras para o país de suas decisões

O ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino (foto) defendeu o consequencialismo na sessão desta quarta, 26, que decidiu tornar réus Jair Bolsonaro e mais sete denunciados pela Procuradoria-Geral da República.
O consequencialismo é a ideia de que os juízes devem julgar pensando nas consequências das suas decisões.
Quando analisa um caso, o magistrado faz um cálculo político, pensando se sua decisão vai ajudar a aquecer a economia do país, melhorar a aprovação do governo, beneficiar partidos, fortalecer as instituições democráticas ou qualquer outra coisa que ele dê importância.
É uma decisão de caráter subjetivo, pois depende do cenário que cada magistrado vislumbra para o futuro.
Mas quem deve tomar decisões políticas pensando nos resultados é o Poder Executivo ou o Legislativo, nunca o Judiciário.
O problema do consequencialismo é que vai contra o conceito de um tribunal constitucional, em que o objetivo principal é a obediência da Constituição.
No consitucionalismo, os juízes devem se basear na Constituição, que foi elaborada previamente pelo Legislativo.
Ao se deparar com uma nova lei ou com uma ação penal, o juiz constitucionalista procura ver o que diz a Constituição e tenta dar o encaminhamento mais de acordo com as leis existentes.
Ainda estou aqui
Nesta quarta, 26, Dino defendeu o consequencialismo no STF ao comentar o filme Ainda estou aqui, que venceu o Oscar de filme estrangeiro este ano.
"A arte é a fonte do Direito também, bem sabemos. Nas telas, pela pena de um lado de Marcelo Rubens Paiva e de outro, pela genialidade de Walter Salles, Fernanda Torres e tantos outros que orgulham a cultura brasileira. Fonte do Direito. O que eles estão fazendo ali? Remarcando o caráter permanente e hediondo do desaparecimento de pessoas, de tortura, de assassinatos. Que derivam do quê? De um golpe de Estado. Então, aqueles que nos anos 20 e 30 do século 20 normalizaram a chegada de [Benito] Mussolini ao poder dizendo 'este é um processo normal', certamente se arrependeram quando viram as consequências nos campos de concentração vitimando o povo judeu e outras tantas minorias na Europa. Portanto, golpe de Estado é coisa séria. É falsa a ideia de que uma tentativa de golpe de Estado não resultou em mortes naquele dia é uma infração de menor potencial ofensiva ou suscetível de aplicação do princípio da insignificância", disse Dino.
"Isto é uma desonra à memoria nacional. Esse tipo de raciocínio é uma agressão às famílias que perderam familiares em um momento de trevas da vida brasileira. E isso reverbera em um tribunal na medida em que nós não estamos aqui friamente cumprindo a ordem jurídica, sem levar em conta aquilo que o ministro Fux sempre lembra em relação ao consequencialismo, que é um mandamento legal. Um tribunal constitucional não pode ser consequencialista. Ele é obrigado a ser consequencialista. É da natureza dele", afirmou Dino.
O que Dino quer é julgar qualquer evento de acordo com os cálculos que ele próprio faz sobre quais são as possíveis consequências para o futuro do país, sem ter de se ater à Constituição.
Em vez da Carta de 1988, o ministro que foi colocado por Lula no STF por ter uma "cabeça política" prefere se basear nos filmes do Walter Salles, na Bíblia ou na inteligência artificial.
É o direito ao improviso.
Ou, nas palavras de Dino, o "constitucionalismo sorridente".
O consequencialismo de Dino é o fim do constitucionalismo do STF.
Assista ao Papo Antagonista:
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Comentários (6)
Amaury G Feitosa
2025-03-27 16:38:46Este sapo comuNAZIsta deveria dizer onde enfiou os vídeos do 8/1 que cinicamente diz que "terceirizados" deletaram e que provam sua omissão no combate ao tal movimento grave crime de responsabilidade e prevaricação.
Carlos Renato Cardoso Da Costa
2025-03-27 13:50:16Um tribunal que age politicamente é nocivo à nação. Um tribunal com políticos dentro é um perigo ainda maior. A postura do Dino não surpreende ninguém. Só podemos agradecer ao Lula pela escolha e ao Senado pelo carimbo.
Luis Eduardo Rezende Caracik
2025-03-27 06:12:38Lembra-se de quando Marco Aurélio decidiu soltar um perigoso e comprovado traficante que estava preso alegando que o prazo para prisão preventiva havia se esgotado sem que um denúncia formal tivesse sido apresentada? Pois é. Um excelente exemplo de insconsequencialismo, quando o juiz se atém à letra fria da lei sem interpretar seu espírito à luz das circunstâncias, do tempo e das consequências de sua decisão.
Matheus Biaggi Machado de Mello
2025-03-27 02:11:39Acho que os ministros do STF têm utilizado a ascenção dos líderes do eixo durante o período da 2ª guerra de maneira preguiçosa, como se pudessem romper com princípios da democracia liberal - como contraditório e devido processo legal - sob o pretexto de que na ausência deste ativismo ascenderá novamente um líder nazi fascista. Comparar o contexto atual com a ascensão de líderes do Eixo na Segunda Guerra pode ser uma forma de alertar sobre os perigos do autoritarismo, mas também pode ser visto como uma simplificação que ignora nuances importantes. Romper com princípios fundamentais da democracia liberal, como o contraditório e o devido processo legal, pode gerar um efeito contrário ao pretendido: enfraquecer as próprias bases democráticas que se busca proteger. A concepção tradicional do papel dos juízes foi expressa há milhares de anos por Aristóteles, ao afirma que -um juiz deveria ser autorizado a decidir o menor número possível de coisas-. Logo, um juiz não pode fazer justiça, em nome de qualquer ente abstrato, nos casos que lhe são apresentados.
Andre Luis Dos Santos
2025-03-26 22:55:23Falou tudo Cesar! Mas os "golpes" ou "tomadas do poder" (como gosta de dizer um certo FILHO DA PUTA de iniciais JD, pai da Tchutchuquinha) contra a democracia, que Hitler, Stalin, Castro, Putin, Xi, Ortega, Diaz-Canel, etc., cometeram ou seguem cometendo, sao "golpes do bem", manja?
CESAR AUGUSTO DIAS MARANHAO
2025-03-26 20:24:37Pq ele dá um exemplo apenas usando o Benito Mussolini? Deveria citar também Hitler, Stalin, Fidel Castro e mais recente o outro amigo do lula, o criminoso de guerra condenado Putin.