As declarações mais controversas do papa Francisco
O pontífice defendeu inocência de Lula, disse ter "relação humana" com Raúl Castro e buscou justificar atentado da Al Qaeda e invasão da Ucrânia

Em doze anos à frente da Igreja Católica, o papa Francisco deu mais de 50 entrevistas.
Francisco expandiu, assim, a tradição inaugurada pelo papa João Paulo II, que ficou conhecido como um papa "pop", por tratar de questões atuais e abrir um generoso espaço para conversas com a mídia.
Foi João Paulo II que inaugurou as entrevistas coletivas em voos, durante as viagens apostólicas.
Mas, ao falar com jornalistas e responder suas perguntas sobre os mais variados temas, Francisco disse frases que incomodaram fiéis católicos e não seguidores da Igreja.
Lula e Dilma Rousseff
Em uma entrevista ao canal argentino CHN, em 2023, o papa disse que Lula foi condenado sem provas e que Dilma tinha "as mãos limpas".
“O lawfare abre caminho nos meios de comunicação. Deve-se impedir que determinada pessoa chegue a um cargo. Então, o pessoal o desqualifica e metem a suspeita de um crime. Então, faz-se todo um sumário, um sumário enorme, onde não se encontra [a prova do delito], mas para condenar basta o tamanho desse sumário. ‘Onde está o crime aqui?’ ‘Mas, sim, parece que sim…’ Assim condenaram Lula”, afirmou o papa.
Durante a conversa, Francisco também criticou o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
“Não puderam [comprovar]... Uma mulher de mãos limpas, uma excelente mulher”, disse.
No final da entrevista, quando o jornalista afirmou que “inocentes são condenados”, Francisco disse que “no Brasil, isso aconteceu nos dois casos”, referindo-se a Lula e a Dilma.
Lula e o papa se encontraram em fevereiro de 2020 (foto).
Al Qaeda
No dia 7 de janeiro de 2015, dois terroristas da Al Qaeda, armados com fuzis Kalashnikov, invadiram a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, e massacraram doze pessoas. Cinco ficaram feridas gravemente. Os terroristas alegaram que os jornalistas tinham publicado charges do profeta Maomé.
Depois, em uma conversa com jornalistas em um avião, Francisco criticou o comportamento dos jornalistas assassinados. "Temos a obrigação de falar abertamente, de ter esta liberdade, mas sem ofender", disse Francisco.
"É verdade que não se pode reagir violentamente, mas se Gasbarri (um dos seus colaboradores), grande amigo, diz uma palavra feia da minha mãe, pode esperar um murro. É normal!", afirmou.
Invasão russa da Ucrânia
Em uma conversa com jesuítas em junho de 2022, o papa comentou a invasão russa da Ucrânia.
"É preciso se distanciar do padrão normal de que a Chapeuzinho Vermelho era boa e o lobo era mau", disse o papa.
Francisco então falou de uma conversa sua com um chefe de Estado, que falou de sua preocupação sobre como a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, estava se movendo para perto da Rússia. "Não entendem que os russos são imperiais e não permitem que uma potência estrangeira se aproxime", disse Francisco. "É preciso ver também todo o drama que se desenvolve por trás desta guerra que talvez, de alguma maneira, foi provocada ou não impedida."
No ano seguinte, o papa gravou um vídeo para jovens católicos russos e, propositalmente ou não, enalteceu a "Grande Rússia".
“Não esqueçam sua herança. Vocês são os herdeiros da grande Rússia, a grande Rússia dos santos, dos reis, a grande Rússia de Pedro, o Grande, de Catarina 2ª, o grande Império Russo, culto, tanta cultura, tanta humanidade. Vocês são os herdeiros da grande Mãe Rússia. Adiante!”, afirmou o papa.
O Kremlin gostou da fala — e a Ucrânia ficou tão irritada a ponto de Francisco ter de se retratar, dias depois. “Talvez, não tenha sido a melhor maneira de colocar a questão, mas ao falar da grande Rússia, eu estava pensando não tanto geograficamente, mas culturalmente”, afirmou.
Frociaggine
De acordo com veículos de imprensa italianos, o papa teria criticado o "excesso de bichas" em uma reunião a portas fechadas com 250 bispos, em 20 de maio de 2024.
A expressão italiana que ele usou foi "frociaggine", que poderia ser traduzido também como "viadagem".
De acordo com alguns veículos, o pontífice teria afirmado que "existe o risco de alguém que é gay escolher o sacerdócio e acabar por levar uma vida dupla".
Em seguida, o diretor de imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, disse que o papa Francisco pediu desculpas pelas afirmações.
“O papa nunca pretendeu ofender ou expressar-se em termos homofóbicos, e se desculpa com quem se sentiu ofendido pelo uso de um termo, referido por outros”, afirmou o comunicado no site do Vaticano.
Raúl Castro
Em 11 de julho de 2022, os cubanos lembraram dos protestos ocorridos um ano antes, quando milhares foram às ruas pedir o fim da ditadura.
A repressão que se seguiu foi brutal, com 1,8 mil pessoas sendo detidas. Mais de cem foram torturadas apenas por terem participado das manifestações contra a ditadura. Entre os torturados, três eram menores de idade.
Para lembrar da data, duas jornalistas mexicanas da rede Univisión perguntaram ao papa Francisco sobre o episódio.
Na resposta, em vez de demonstrar compaixão pelos cubanos presos e torturados, o pontífice quis deixar sua clara sua boa relação com o ditador Raúl Castro, que manda no país através de seu poste Miguel Díaz-Canel.
“Eu amo muito o povo cubano. Tive boas relações humanas com o povo cubano e também confesso: com Raúl Castro tenho uma relação humana. Fiquei feliz quando se obteve aquele pequeno acordo com os Estados Unidos, que o presidente Obama queria na época, e Raúl Castro aceitou e foi um bom passo em frente, mas agora parou”, disse o papa.
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Comentários (1)
Regina Celia Fonseca Silva
2025-04-22 10:14:50O Papa é humano como qualquer um de nós. Argentino que viveu uma Argentina da ditadura. Acredita como todo bom esquerdista que a esquerda e boa e honesta e a direita e ruim e explora os homens. Promoveu avanços no mundo católico e dele a primeira encíclica que trata de meio ambiente, mexeu na corrupção grave da igreja e nos crimes de pedofilia. Espero que seu sucessor, humano que é venha com defeitos sim, mas com uma pauta que nos permita avançar como humanos no planeta.