Aaron Phillipe / PSB via FlickrJoão Campos discursa durante "Ano de Eduardo Campos", em agosto de 2024, em homenagem a seu pai

Dinastia renovada 

Filho de Eduardo Campos deve conseguir uma reeleição tranquila em Recife 
16.08.24

O prefeito de Recife João Campos, de apenas 30 anos, é o mandatário de capital que deve ter a reeleição mais tranquila este ano. Ele tem 60,5% das intenções de voto, segundo pesquisa do instituto Simplex, feita em maio. Seu maior opositor, Gilson Machado Neto, ex-ministro do Turismo de Jair Bolsonaro e nome do PL, tem apenas 6,8%. Em julho, um levantamento do Datafolha mostrou uma vantagem ainda maior. O prefeito teria 75% das intenções de voto, ante 7% de Daniel Coelho (PSD) e 6% de Gilson Machado. Filho de Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014, João representa uma dinastia que soube se adaptar aos novos tempos e fazer um governo bem avaliado na capital pernambucana.

João é o fruto mais jovem de uma das últimas grandes dinastias políticas da Nova República. Filho do Eduardo Campos, neto de Ana Arraes e bisneto de Miguel Arraes, João acabou por dar a renovação que famílias como os Sarney no Maranhão, os Gomes no Ceará e os Caiado em Goiás não conseguiram realizar nas últimas décadas.

Há dez anos, quando seu pai Eduardo Campos, então governador de Pernambuco e presidenciável, morreu em um acidente aéreo, João estudava Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele então prometeu que terminaria os estudos, e que também defenderia o legado do pai. Antes de pegar o diploma, João já era chefe de gabinete do sucessor de Eduardo. Em pouco tempo, virou deputado federal pelo PSB e prefeito.

João se enquadra em um projeto político mais amplo. Não é um voo solo”, diz Ernani Carvalho, professor do departamento de Ciências Políticas da UFPE. Em uma família tão imersa na política, um dos primeiros e mais significativos embates se deu em 2020, quando ele teve de disputar o cargo contra a petista Marília Arraes, sua prima. João acabou prevalecendo, e hoje ela é cabo eleitoral em sua campanha.

Na prefeitura do Recife, João conduziu uma comunicação eficiente, respondendo rapidamente a críticas que eram veiculadas em rádios e jornais e usando uma linguagem que criava engajamento nas redes sociais. Nos últimos meses, ele dançou vestido de Batman no TikTok e apareceu com o cabelo “nevado” no Carnaval da cidade — e foi com o cabelo descolorido que ele recebeu Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, em um camarote para discutir o apoio do partido de Lula à sua candidatura.

A base política de João —e de seu pai e bisavô— também conta. O PSB, apesar de ter o “Socialista” no nome, é de centro-esquerda e se pauta por uma atuação menos ideológica. Ao contrário de Lula e do PT, o PSB não apoia a ditadura venezuelana de Nicolás Maduro. João Campos se manteve fora de qualquer discussão do tipo.

Antes uma força dominante no estado, mesmo o PT foi obrigado a capitular e ceder a Campos. O partido esperava ter a vice-prefeitura na chapa, mas nem isso o prefeito cedeu, e a garantiu para o PCdoB. “O PT  tem essa cultura de disputa interna e chega sem unidade. Só foram construir a unidade depois que viram que tinham perdido a indicação a vice”, explicou à reportagem um nome nacional da cúpula do PSB. Lula também não teria buscado o confronto nesta situação, segundo este articulador, para não estressar sua relação com o partido.

Com apenas 6% da população desaprovando o governo do prefeito, há poucos pontos que podem ser explorados pela oposição. Um dos temas é ser a única cidade do Nordeste em que a Guarda Civil Metropolitana ainda não usa armas, mesmo em uma capital com uma taxa de homicídios de 44 mortos para cada 100 mil pessoas— a sexta capital com mais homicídios por 100 mil habitantes, de acordo com o Atlas da Violência. Ainda que existam outras capitais nordestinas em situação ainda pior, o índice é três vezes maior que o de São Paulo.

A incongruência foi explorada por Daniel Coelho — que promete armar a corporação ainda no primeiro dia. “É injustificável o fato de sermos a única capital do Nordeste que ainda não tomou essa decisão. São doze anos de governo do PSB e só agora consideram a possibilidade”, disse Coelho, durante um ato de campanha no mês passado. Em entrevistas, ele ainda acusa o prefeito do básico, isto é, de usar o poder municipal como trampolim para tentar o governo estadual em 2026 — algo que nem seus correligionários escondem mais.

A segurança pública é a segunda maior preocupação do recifense, atrás apenas da saúde. Por isso, Coelho tem investido, no início da campanha, no mote “Recife Sem Filtro”, buscando mostrar como a cidade tem ampliado as desigualdades sociais durante o mandato. “Ele criou uma cidade imaginária para os ricos e outra para 70%, 80% da população”, disse em um dos vídeos recentes.

João tem a sorte de não ter uma oposição estruturada que possa atrapalhá-lo. A governadora do estado Raquel Lyra (PSDB), única com força política para se contrapor ao prefeito, não é tão bem-vista na capital. Com 48% de reprovação na cidade, ela não conseguiu emplacar o nome do ex-deputado Daniel Coelho.

O ex-presidente Jair Bolsonaro passou pelo estado na semana passada, mas perdeu mais tempo no interior, visando a campanha para prefeituras menores. Coelho e Machado Neto parecem estar mais interessados em 2026, quando o primeiro deve tentar retornar à Câmara e o segundo, uma das duas cadeiras em disputa no Senado.

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  1. Junte-se a ignorância política e o coronelismo ao bairrismo tipicamente pernambucano: uma mistura explosiva para propagar a desgraça por mais 100 anos.

  2. Até quando a população brasileira continuará dormindo, achando que não tem responsabilidade na administração de sua cidade? Enquanto não houver essa consciência, continuaremos elegendo pessoas sem compromissos com a população mais necessitada do serviço público (saúde, educação e segurança). ACORDA BRASIL!!!

  3. Interessante a “renovação” oligárquica em recife. A capital do estado tem quase 20% do território ocupado por favelas. Um prefeito bem avaliado assim? Não é um esquerdista raiz? Exploração da miséria, curral eleitoral…é de provocar vômitos . Nada disso abordado na matéria

  4. Exemplo brilhante do bom e velho coronelismo brasileiro. Mas se é bosta que o eleitorado deseja, que se lhe encha o prato para ficar de barriga cheia

  5. Arraes pontificou na miséria nordestina com seu oportunismo populista e nada mais e se eterniza sob descendentes idolatrados por idiotas que pouco se importam em lhes ceder o pobre rabo.

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