Edmundo Gonzalez Urrutia e Maria Corina MachadoUrrutia e Corina Machado: muito à frente de Maduro nas pesquisas - Foto: Reprodução/Instagram

O maior desafio à ditadura chavista

Venezuela realiza eleições neste domingo, 28 de julho, com regime de Nicolás Maduro em franca desvantagem e dúvidas sobre a disposição dos militares em apoiá-lo caso perca
25.07.24

Os próximos dias parecem representar o maior desafio à ditadura chavista na Venezuela desde janeiro de 2019, quando Juan Guaidó foi proclamado presidente interino do país com apoio dos Estados Unidos, do Brasil e de dezenas de outros países.

Os venezuelanos votam neste domingo, 28, para o Executivo. Nicolás Maduro afirmou que a Venezuela cairá em um “banho de sangue” caso ele perca o pleito. A declaração foi forte demais até para o aliado Lula passar pano. Fato é que a oposição venezuelana lidera as intenções de votos, em muito. Os levantamentos mais recentes dos três maiores institutos de pesquisa dão de 50% a 70% das intenções de votos ao candidato da oposição, o diplomata Edmundo González Urrutia. Maduro nem passa dos 18%. Além das pesquisas, os comícios da oposição vêm atraindo milhares de pessoas, enquanto que os do oficialismo são protagonizados por pelegos que cobram gasolina e dinheiro para comparecer. 

O que Maduro mais deve temer é uma alta taxa de participação no domingo. Quanto maior for a taxa de comparecimento entre os 21,5 milhões de eleitores da Venezuela, mais difícil será fraudar o pleito, porque o regime não tem controle total sobre a contagem. “A maioria dos mecanismos de segurança da votação funcionam”, diz o cientista político venezuelano José Vicente Carrasquero, da Faculdade de Miami-Dade, na Flórida. A eleição é realizada por voto eletrônico com recibo impresso. Quando a oposição boicotou as eleições legislativas de 2017, o regime fabricou ao menos um milhão de votos de um total de oito milhões, segundo relatório da empresa responsável pelas urnas eletrônicas, Smartmatic. Essa foi a única vez que a Smartmatic detectou fraude na contagem desde 2004, quando começou a fornecer as urnas eletrônicas na Venezuela. A empresa não viria a participar da votação de 2018, que reelegeu Maduro. 

Como qualquer autocrata, Maduro se sustenta no poder menos pela fraude na contagem que pela perseguição aos opositores. Apenas nesta campanha eleitoral, o regime barrou duas candidaturas. Dentre elas, a da líder de facto da oposição, María Corina Machado, que ganhou as primárias da coalizão com 90% dos votos. Após ser barrada, María Corina indicou a candidatura de uma professora de filosofia, que também veio a ser vetada pelo regime. A líder da oposição ainda viu uma dezena de funcionários de campanha serem sequestrados pelo regime. Mesmo assim, ela segue em atos promovendo a candidatura de González Urrutia. 

O segredo para reprimir opositores é o apoio de um círculo de aliados fortes. Para Maduro, como na maioria dos ditadores, trata-se da alta cúpula das Forças Armadas. O regime chavista ainda consegue comprar seu apoio, apesar do colapso da economia venezuelana, que encolheu quase 75% entre 2014 e 2021. “Em ditaduras, o líder só precisa pagar bem algumas centenas de pessoas, aquelas das quais ele precisa do apoio. Mesmo uma economia miseravelmente pobre tem dinheiro para pagar esse pequeno grupo”, diz Bruce Bueno de Mesquita, cientista politico da Universidade de Nova York e autor do livro The Dictator’s Handbook: Why Bad Behavior Is Almost Always Good Politics (O Guia de Bolso do Ditador, em tradução livre). Ele cita como exemplo o regime da Coreia do Norte, há sete décadas no poder. Hoje, o país asiático é sete vezes mais pobre que a Venezuela em PIB per capita.

Fatores econômicos podem ser menos relevantes em uma ditadura que em uma democracia, mas isso não significa que eles não importem. O principal motivo da impopularidade de Maduro e, por conseguinte, da força da oposição, é o colapso econômico da Venezuela. A inflação anual passou dos 300% em 2022, ou seja, os preços mais que dobravam a cada semestre. A situação levou mais de 20% dos venezuelanos a deixarem o país na última década. 

“A população se revolta se não recebe o mínimo de bens sociais. Nesse cenário, os aliados do regime podem apoiar o líder e reprimir as massas. Isso é o que tem acontecido na Venezuela”, diz Bueno de Mesquita. Entretanto, acrescenta ele, outra possibilidade é que os aliados antecipem a instabilidade no futuro e concluam que seria melhor aplicar um golpe de Estado para evitar uma revolução. O ministro da Defesa chavista, general Vladimir Padrino López, afirmou que as Forças Armadas não intervirão nas eleições. Nas legislativas de 2015, vencidas pela oposição, Padrino López reconheceu o resultado antes de Maduro. 

Revoluções sem apoio militar são raras. Houve apenas 35 bem sucedidas nos últimos 200 anos, contabiliza Bueno de Mesquita. A expectativa é que uma eventual queda de Maduro se dê pelo fim do apoio das Forças Armadas, as mesmas que derrubaram a última ditadura venezuelana antes do chavismo, em 1958. Não houve resistência do então ditador general Marcos Pérez Jiménez naquela ocasião. Quanto mais ordenado for o processo de transição de poder neste ano, se ele vier a ocorrer, menores as chances de um “banho de sangue”. 

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  1. Infelizmente não consigo acreditar numa derrota do maduro justamente por sabermos que o narco estado que é hoje a Venezuela sustenta muita gente graúda nas FA que vão dar carta branca para a fraude. Maduro tem jogado baixíssimo nessa eleição, desde a retórica belicosa, ao banimento da candidata preferida até ao confisco do direito ao voto de milhões possíveis eleitores oposicionistas, ele não vai ficar de braços cruzados e aceitar qualquer derrota

  2. Torço demais para que Maduro perca as eleições. Vai ser uma vitória até para os brasileiros. Além do fim de uma Ditadura, que tanto nosso acéfalo presidente dignifica, quanto imagino quantos venezuelanos gostarão de voltar para seu país. Isso vai aumentar até nosso mercado de trabalho! Tem muita coisa boa para acontecer. Força Venezuelanos.

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