Diogo ZacariasFernando Haddad: encontro com Mário Leão, do Santander, e executivos do setor financeiro

Capitalismo de laços dá um nó no governo

Por que autoridades públicas têm reuniões secretas, fechadas com setores da sociedade?
14.06.24

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, convocou na sexta, 7, a segunda coletiva de imprensa do dia para desmentir o vazamento de falas após uma reunião com o CEO do Santander, Mario Leão, e pouco mais de dez executivos do setor financeiro.

O ministro teria deixado no ar, de acordo com as mensagens de Whatsapp que circularam na Faria Lima, que Lula poderia não aceitar as ideias para contenção do avanço acelerado dos gastos públicos e nem um possível contingenciamento orçamentário. Haddad então brincou — segundo ele próprio — que pediria para sair do governo se isso acontecesse.

Na segunda chamada aos repórteres, o ministro explicitou que os relatos estariam equivocados e que a conversa não era bem assim. “Sugeriria a vocês entrarem em contato com o CEO do Santander, porque é muito grave o que aconteceu aqui”, aconselhava os jornalistas. “Lamento muito esse tipo de comportamento e penso que tem alguma pessoa querendo vender algo que não foi dito.”

O estrago estava feito. O dólar (+1,74%) e os juros dispararam no dia. O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, afundou 1,70%. Foi o maior recuo diário em nove meses. Mas a pergunta que fica é por que autoridades públicas têm reuniões secretas, fechadas com setores da sociedade? Qual a necessidade de se omitir da sociedade conversas sobre os rumos da economia brasileira? Ou do Executivo ou do Legislativo? Ou mesmo do Judiciário?

Em que pesem situações de segurança nacional ou questões estratégicas para o país, a verdade é que a falta de transparência desses encontros não colabora em nada com a confiança da sociedade nas instituições.

No fim de 2022, esta mesma Crusoé, publicou uma reportagem intitulada “Um choque de anticapitalismo” sobre o PL (Projeto de Lei) 11247/18, que trata do incentivo a eólicas offshore, que acabara de ser aprovado na Câmara dos Deputados e restou arquivado no Senado este ano. A matéria falava sobre como a proposta parecia ter sido desenhada para beneficiar certos elementos, como os negócios de Joesley e Wesley Batista. Os dois tinham acabado de fechar um acordo com o governo para explorar a importação de energia elétrica da Venezuela aos brasileiros de Roraima a preços, digamos, acima da média histórica.

O texto também citava outras tentativas, algumas bem-sucedidas, para beneficiar empresários brasileiros e destacava o poder do capitalismo de laços. Durante a apuração, uma das fontes colaboradoras, empresário do setor, destacava o método em que valem mais os lobistas que os colaboradores criativos ou disruptores, que fazem avançar o potencial de uma nação com descobertas. Afinal, por que investir em um “louco visionário”, cujo resultado é incerto, quando se pode garantir dinheiro público ou informações que extremamente valiosas em conversas a portas fechadas?

O exemplo mais recente, com Haddad, somente exacerbou uma mazela costumeira das elites brasileiras que têm acesso, sabe-se lá a que preços, às canetas que decidem o futuro do país. O semblante do ministro na segunda coletiva, ao tentar explicar o “mal-entendido” – tal qual uma criança descoberta em meio a uma traquinagem – deixou poucas dúvidas sobre o código de conduta das reuniões a portas fechadas: “somente para consumo interno”.

E o brasileiro comum? Ora, quem se importa?

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. São frequentes essas reuniões onde não se tem agenda específica nem ata. Poderiam gravar vídeos e dar publicidade aos mesmos pra aumentar a transparência e a confiança no governo. Reuniões estratégicas seriam só as internas

Mais notícias
Assine agora
TOPO