Um Mercosul mais inóspito para Lula
Brasileiro não consegue projetar influência no bloco por causa do argentino Javier Milei e do paraguaio Santiago Peña
Com viés protecionista, apesar de ser um bloco de livre comércio, o Mercosul é um bloco estagnado.
Presidentes do Uruguai e da Argentina já cogitaram abertamente fazer acordos externos com outros países de maneira individual, deixando o Mercosul de lado, o que não é permitido pelas regras do bloco.
Para apaziguar os ânimos, o Brasil, que lidera o grupo, tem prometido que novos acordos devem sair em breve.
Mas a esperança de um acordo com a União Europeia naufragou após a recusa de países europeus, como França e Itália.
O Mercosul, assim, segue apenas como um palco para discussões de natureza política ou ideológica, principalmente em torno da ditadura de Nicolás Maduro, na Venezuela.
E, quando a Venezuela surge na roda de conversas, Lula tem ficado cada dia mais isolado.
Em 2023, o brasileiro foi o único a não citar a opositora María Corina Machado pelo nome.
Naquela época, a venezuelana, vencedora do prêmio Nobel da Paz deste ano, foi inabilitada por quinze anos, o que a impediu de se candidatar nas eleições do ano passado.
"Eu não conheço os pormenores do problema de uma candidata na Venezuela. Não conheço os pormenores. Pretendo conhecer. Eu estive com o papa Francisco agora e assumi o compromisso de falar com o Daniel Ortega para falar da disputa lá com setores da Igreja. Naquilo que a gente puder contribuir, quem tiver relação, quem puder dar um palpite, nós temos de conversar. O que não pode é a gente isolar (a ditadura) e levar em conta que os defeitos estão apenas de um lado. Os defeitos são múltiplos", disse Lula na ocasião, insinuando que a oposição a Maduro também teria problemas.
Os outros três presidentes do Mercosul, Alberto Fernández da Argentina, Luis Lacalle Pou do Uruguai e Mario Abdo Benítez do Paraguai, citaram María Corina e criticaram a inabilitação pelo regime venezuelano.
Dois anos depois, esses três presidentes não estão mais em seus postos e foram substituídos. Mesmo assim, Lula continua indo na direção contrária dos demais chefes de Estado.
Na cúpula do Mercosul que aconteceu no sábado, 20, em Foz do Iguaçu, Lula afirmou que uma crise humanitária poderia ter início com uma invasão militar, sem citar os Estados Unidos.
"Passadas mais de quatro décadas desde a guerra das Malvinas [nas ilhas Falklands], o continente sul-americano volta a ser assombrado pela presença militar de uma potência extrarregional. Os limites do direito internacional estão sendo testados. Uma intervenção armada na Venezuela seria uma catástrofe humanitária para o hemisfério e um precedente perigoso para o mundo", disse o presidente.
O presidente argentino Javier Milei foi na direção oposta: "A Venezuela continua sofrendo de uma crise política, humanitária e social devastadora. A ditadura atroz e desumana do narcoterrorista Nicolás Maduro amplia uma sombra escura sobre nossa região. Esse perigo e essa vergonha não podem continuar existindo no nosso continente", afirmou Milei.
"A Argentina saúda a pressão dos EUA e de Donald Trump para libertar o povo venezuelano. O tempo de ter uma abordagem tímida nessa matéria se esgotou", disse o argentino.
Milei e o paraguaio Santiago Peña assinaram um comunicado paralelo, com representantes da Bolívia, Equador e Peru, sobre a Venezuela. No texto, eles defendem o retorno da democracia no país controlado por Maduro.
Lula, que foi eleito em 2022 com o lema "o Brasil voltou" tem tido enorme dificuldade em projetar influência no resto do mundo.
E não consegue fazer isso nem mesmo no Mercosul, o nosso quintal mais próximo.
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