Um Leão em Roma
Combinando o carisma pastoral com uma sólida formação teológica, Leão XIV parece disposto a manter a tradição de diálogo promovida por Francisco, mas com uma ênfase própria

Vigoroso aos 69 anos, com voz forte e postura firme, o novo Leão de Roma parece ter chegado não para ser apenas mais um pontífice, mas para deixar sua marca.
Como o leão Aslan, de As Crônicas de Nárnia, personagem inspirado em Cristo, Leão XIV (foto) parece determinado a ser um líder que vai equilibrar energia e acolhimento, liderança e justiça, força e fé.
Ao escolher o nome de um papa histórico, Leão XIII, conhecido por sua defesa da justiça social na encíclica Rerum Novarum, o novo pontífice se posiciona em continuidade com uma visão de Igreja que dialoga com o mundo sem perder a identidade.
O anúncio foi recebido com surpresa por muitos, mas para quem conhecia a trajetória de Robert Francis Prevost, parecia inevitável.
O Ordo Amoris de Santo Agostinho
Leão XIV não é apenas o primeiro papa da Ordem de Santo Agostinho, mas seu antigo prior geral de 2001 a 2013. Impossível ser mais agostiniano que ele.
Ele traz consigo a visão profunda de seu fundador, que definia a virtude como ordo amoris — a ordem correta dos amores.
Santo Agostinho ensinava que o problema da humanidade não é simplesmente a ignorância, mas a desordem no amor: "A virtude é a ordem do amor" (Cidade de Deus, XV, 22).
Para Agostinho, o verdadeiro desafio é amar corretamente, colocando Deus em primeiro lugar.
O papa Leão XIV, formado por essa tradição, traz uma compreensão clara de que o mundo moderno muitas vezes ama o que é passageiro mais do que o eterno.
Seu pontificado pode ser uma chamada a reorganizar os afetos da humanidade, a reencontrar a verdadeira paz que vem de amar a Deus acima de todas as coisas.
Leão XIV é o primeiro papa da Ordem de Santo Agostinho. Mais do que uma tradição, isso é um chamado.
Santo Agostinho, o grande bispo de Hipona, escreveu: "Inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti" (Confissões, I, 1). Esta busca incessante por Deus, marcada pela interioridade e pela vida comunitária, define o espírito agostiniano.
Leão XIII: o papa da justiça social
Leão XIII foi um gigante da história e um verdadeiro farol moral em um século marcado por intensos conflitos entre o liberalismo e o comunismo.
Seu pontificado (1878-1903) não apenas marcou o retorno da Igreja ao debate público, mas também definiu uma posição clara em defesa da dignidade humana e da justiça social.
Na encíclica Rerum Novarum (1891), Leão XIII estabeleceu os fundamentos da Doutrina Social da Igreja (DSI).
Rejeitou tanto o socialismo revolucionário quanto o capitalismo selvagem, afirmando que "o direito de possuir propriedade privada é inato ao homem" e que "o trabalho não é uma mercadoria, mas uma expressão da dignidade humana".
O discurso de posse de Leão XIV
Em seu primeiro discurso, Leão XIV saudou a multidão com palavras de paz: "La pace sia con tutti... Esta é a paz de Cristo ressuscitado. Uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante."
Falando diretamente aos fiéis, ele evocou o exemplo de Cristo como o Bom Pastor: "Deus nos ama a todos incondicionalmente... O mal não prevalecerá. Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos, mão na mão com Deus e entre nós, vamos em frente."
Em um gesto de continuidade, Leão XIV fez questão de lembrar seu antecessor: "Ainda conservamos nos ouvidos aquela voz fraca, mas sempre corajosa, de Papa Francisco, que abençoava Roma e o mundo inteiro na manhã de Páscoa." Francisco morreu no dia seguinte.
Quem é Robert Francis Prevost?
Nascido em Chicago, Illinois, em 1955, Robert Francis Prevost cresceu em uma família de ascendência francesa, italiana e espanhola. Desde jovem, seu interesse pela fé levou o aspirante a matemático a ingressar na Ordem de Santo Agostinho em 1977.
Seu caminho foi marcado pelo estudo e pela missão: bacharelado em Matemática pela Universidade Villanova, mestrado em Divindade pela Catholic Theological Union em Chicago e doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (Angelicum), em Roma.
Um missionário no Peru
Sua verdadeira formação, no entanto, veio do campo missionário. Entre 1985 e 1998, Prevost serviu em comunidades do Peru, onde lidou diretamente com a pobreza e a espiritualidade popular.
Como prior geral da Ordem de Santo Agostinho entre 2001 e 2013, sua liderança globalizou sua visão, levando o novo papa a conhecer e orientar comunidades ao redor do mundo.
No Vaticano, sua trajetória levou Robert Prevost ao Dicastério para os Bispos, onde desempenhou papel crucial na seleção de novos bispos.
Com dupla cidadania (EUA e Peru) e fluente em inglês, espanhol e italiano, Leão XIV traz uma experiência que vai além das fronteiras, reforçando sua imagem como líder verdadeiramente universal.
O peso do cargo de Pedro
Ao aceitar o cargo de Papa, Leão XIV abraça o fardo de Pedro, aquele a quem Cristo disse: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16,18).
Este é o fundamento da fé católica: a Igreja permanece porque é sustentada por Cristo, não pelas fraquezas humanas.
Combinando o carisma pastoral com uma sólida formação teológica, Leão XIV parece disposto a manter a tradição de diálogo promovida por Francisco, mas com uma ênfase própria.
Seu pontificado pode ser marcado por uma abordagem que mistura justiça social, fidelidade doutrinária e proximidade com os fiéis.
Em um mundo fragmentado por ideologias, o novo papa pode buscar inspirar uma Igreja comprometida com o bem comum, em continuidade com a DSI e o legado de Leão XIII.
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Comentários (1)
ANGELO REAL PEREIRA JUNIOR
2025-05-08 17:23:16Ótimo introdução!