Trump catalisa deterioração da governabilidade lulista
Para Motta e Alcolumbre, está claro que a estratégia de reduzir a atividade no Congresso para controlar a pressão das alas bolsonaristas não funcionou

O arranjo de governo lulista está sob imensa pressão.
A intervenção americana sobre o Brasil claramente acelerou processos de realinhamento que se encontravam latentes e que ameaçam o status quo.
Nesta quarta, 6, dia em que começam a valer as tarifas aplicadas pela administração Donald Trump (foto), começa também a ser testado o plano de contingência elaborado por Fernando Haddad, ao qual ninguém ainda tem conhecimento.
Essa provocação estressou o universo político institucional.
Ninguém vai se lembrar de situação semelhante à vivida ontem no Congresso, com ocupação e interdição dos plenários por oposicionistas e sumiço dos presidentes Hugo Motta e Davi Alcolumbre.
Para quem acreditava que se tratava apenas de um feito de radicais, o susto veio quando, no início da tarde, lideranças da federação União e PP avisavam que iriam aderir, pelo menos parcialmente, à obstrução. Está-se falando de 109 deputados e 14 senadores.
Para Motta e Alcolumbre, está claro que a estratégia de reduzir a atividade no Congresso para controlar a pressão das alas bolsonaristas não funcionou.
As casas, que deveriam estar mobilizadas em torno do enfrentamento do problema das tarifas, estão, por ora, interditadas.
No campo empresarial, a volta de Paulo Skaf ao comando da Fiesp é um fato a ser anotado: espera-se um aumento das críticas direcionadas ao governo.
Em entrevista no Estadão, o novo-antigo presidente afirmou que a prioridade deve ser pressionar o governo a reduzir os gastos para ser possível diminuir a taxa de juros. Tudo o que Lula diz que não irá fazer no seu discurso de ontem ao Conselhão.
No STF, o clima mudou.
Luís Roberto Barroso deixou vazar que se aposentará antes do tempo e outros ministros usaram fontes tradicionais da imprensa para dizer que discordavam da decisão de Alexandre de Moraes de decretar prisão domiciliar de Jair Bolsonaro.
A fratura do arranjo de governabilidade que funcionou até aqui — e que envolve Judiciário, Executivo e o compromisso da cúpula do Legislativo de não dar andamento a pautas consideradas radicais — dá sinais de que pode caminhar para um colapso, se nada for feito.
Não há dúvida de que a pressão exercida pelos Estados Unidos funcionou de catalisador de tudo isso, de que Lula e sua base, ao comemorar o “presente enviado por Trump” subestimou seus efeitos e que o país não está suficiente unido para enfrentar os prejuízos que estão para começar.
Diante da divisão existente, nem é bom lembrar que no final de junho o governo comemorava o “sucesso” da campanha das redes sociais do “nós contra eles” tocada contra o Congresso Nacional.
Lula terá que refazer seu arranjo com a crise no auge, prejuízos econômicos, desconfiança política e ressentimentos por todas as partes.
Leonardo Barreto é cientista político e colunista de Crusoé
Instagram: leobarretobsb
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