União Europeia via Wikimedia Commons

Todo mundo odeia o Emmanuel

26.06.24 16:12

O presidente francês Emmanuel Macron (foto) teria perguntado a Patrick Vignal, um ex-parlamentar do seu partido sobre a sua decisão de convocar novas eleições parlamentares para o fim deste mês. Les gens te détestent”, respondeu Vignal, um político experiente no país. Em bom português: “As pessoas te odeiam.”

A cena, retratada pelo jornal francês Le Monde, mostra o que já era sabido — que Macron, um político de centro, mergulhou sua impopularidade ao dissolver o parlamento e receber uma saraivada de críticas da esquerda e da direita. A fala, no entanto, mostra um novo aspecto que só agora emerge: nem os parlamentares do próprio partido, fundado por Macron, estão satisfeitos com as decisões do seu líder.

timing não poderia ser pior para o presidente: depois de ver a direita radical levar a melhor nas eleições europeias no início do mês, Macron colocou a classe política francesa se digladiando por uma eleição marcada às pressas. A quatro dias da primeira rodada de eleições, é muito provável que ele perderá o controle sobre o parlamento. Com as pesquisas indicando uma maioria de direita radical encabeçada pelo partido Reagrupamento Nacional, Macron poderá ter anos difíceis — ou mesmo impraticáveis — até deixar o Palácio Eliseu, em 2027.

Vignal, o ex-parlamentar, não se intimidou ao dizer para o Le Monde que Macron é “um político que está ficando antiquado” e que está centralizando demais as atuações nesta eleição (ele é chamado até de “jupiteriano” por ser dotado de certo narcisismo.). Pelo plano original, a campanha do partido Rénaissance (Renascimento) deveria ser capitaneada pelo primeiro-ministro Gabriel Attal — mas Macron pelo não se aguentou e tomou as rédeas para si mesmo.

Nesta semana, ao querer atacar tanto o Rassemblement National (Reagrupamento Nacional) — partido de direita radical que lidera as pesquisas — quanto a frente unida com todos os partidos de esquerda, Macron disse que um desarranjo desse porte poderá levar o país à guerra civil. Ambos lideram as pesquisas mais recentes, o primeiro com cerca de 35% das intenções de voto, o segundo com 30%.

A fala foi vista como imprópria por membros do próprio partido do presidente, cuja coalizão patina e deve acabar em terceiro lugar nas eleições parlamentares. Se acabar assim, Macron deve amargar os três anos finais de seu governo em coabitação, quando o presidente tem um partido diferente do seu primeiro-ministro.

Leia mais em Crusoé: Traições, alianças e um par de chaves reservas: a política da França em parafuso

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