Tarifa de Trump: o que Lula quer?
Lula parece querer conduzir as negociações de tarifas com os EUA como se estivesse num jogo de truco. Só que ele não tem as melhores cartas

Responder a essa pergunta de forma direta é difícil — especialmente para quem não faz parte do núcleo duro do Planalto — já que o presidente Lula não costuma ser exatamente claro. Mas há sinais.
A julgar pelas declarações de Lula desde o anúncio do tarifaço, que começa a valer em 1º de agosto, ele parece até disposto a um entendimento. Ainda assim, prefere apostar nos dividendos eleitorais que a crise pode lhe render.
Lula se apresenta como vítima da imprevisibilidade de Trump, parcialmente a serviço do clã Bolsonaro que, para ver Jair livre ou vingado, estaria disposto a transformar o Brasil numa terra arrasada (palavras de Eduardo Bolsonaro, diga-se).
Só que Lula também contribuiu para o atrito: foi ativo nas estocadas públicas contra Trump, os Estados Unidos e o dólar como moeda global. Ou seja, não se limitou ao papel de vítima.
Mas por que, afinal, a tarifa poderia até parecer boa para Lula — mesmo tirando empregos do Brasil? Por dois motivos.
O primeiro é que ela fortalece sua narrativa eleitoral de líder forte de um país sob ataque estrangeiro. Essa imagem tem, aos poucos, melhorado sua popularidade, ainda que discretamente, como nosso "Lulômetro" evidencia. Afinal, nenhum país aceita calado chantagens políticas ou judiciais vindas de outro.
O segundo dividendo eleitoral, menos óbvio, é que, com a tarifa em vigor, muitos produtos exportados aos EUA terão dificuldade para encontrar novos compradores no curto prazo. Outros países potenciais já têm seus fornecedores, e as empresas brasileiras precisarão enfrentar concorrência pesada, dar descontos, fazer malabarismos logísticos, buscar crédito, aprovações sanitárias etc.
Enquanto esse novo fluxo comercial não se estabelece, a produção excedente tende a se voltar para o mercado interno — o que pode derrubar os preços, agradando tanto à população quanto ao presidente.
Lula pode até ter feito esse cálculo político. O problema é que o cálculo econômico não fecha: o setor produtivo sai prejudicado, empregos são cortados, e a relação com os EUA, ainda nosso segundo maior parceiro comercial, pode se deteriorar de vez, ceifando os ganhos de popularidade que gostaria de estender até as eleições de 2026.
Assim, enquanto responsabiliza os Bolsonaro por uma crise em que, de fato, têm parte, Lula também dobra a aposta contra Trump. Desdenha o fato de o ex-presidente americano ainda não o ter procurado, como se o único interessado no acordo fosse ele, e não explica por que nunca buscou criar pontes com Trump desde sua eleição em novembro passado.
Agora, Lula parece querer conduzir as negociações com os EUA como se estivesse num jogo de truco. Só que, como todo mundo sabe, ele não tem as melhores cartas.
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