Seis efeitos práticos do “Domingo Vermelho”
Manifestações de esquerda contra a PEC da Blindagem e contra projeto de anistia legitimam o STF e energizam Lula

As manifestações deste domingo, 21, não estavam no radar. A própria esquerda deve ter ficado surpresa com o sucesso de público após repetidos fracassos de eventos anteriores marcados em datas tradicionais, como o Primeiro de Maio.
No papel, o que estava nos cartazes dos presentes era uma pauta anticorrupção (PEC da Blindagem) e por outra antibolsonarista (anistia). Na prática, tratou-se de um forte movimento contra o Congresso, contra o Centrão, contra Donald Trump e contra a direita.
Isso significa que:
1. A PEC da Blindagem e o PL da anistia subiram no telhado.
2. O STF se sente fortalecido e legitimado. Ontem, o ministro Gilmar Mendes escreveu em uma rede social que “as manifestações de hoje contra a anistia dos atos golpistas são a prova viva da força do povo brasileiro na defesa da democracia. Em diferentes momentos, registraram-se demonstrações de apoio ao Supremo Tribunal Federal, que esteve, mais uma vez, à altura da sua história, cumprindo com coragem e firmeza a missão de proteger as instituições e responsabilizar exemplarmente os que atentaram contra o Estado Democrático de Direito.”
3. O ministro Flávio Dino será encorajado a seguir nas investigações de desvios de emendas parlamentares, talvez declarando a inconstitucionalidade das emendas impositivas e propondo o julgamento de membros do governo anterior por atos relacionados à pandemia da Covid-19.
4. Se, na semana passada, o problema do governo era limpar a pauta da Câmara para conseguir avançar nas agendas que lhe interessam, como a MP 1303 e a desoneração do IR — inclusive sinalizando positivamente para a PEC da blindagem e o PL da dosimetria —, nesta semana ele deve mudar de estratégia e tentar avançar sem ceder nessas agendas.
5. A quase um ano da eleição, Lula está totalmente energizado, recebendo de volta sua militância na rua, o apoio aberto da classe artística e até a oportunidade de falar de pautas éticas, coisa que não ocorria desde o mensalão. No domingo, Lula declarou que “o povo não quer impunidade”.
6. Lula, que ainda não desistiu de ter partes do Centrão no seu projeto de reeleição, intensificará acenos.
Erros estratégicos
Se o Congresso desejava de fato disciplinar o STF, poderia ter investido em outras agendas, como o fim das decisões monocráticas ou mandato fixo, temas que não despertariam uma oposição muito forte.
O “sequestro da pauta” pela PEC da Blindagem evidenciou, por outro lado, que, embora tenha ganho muito poder, o Congresso não consegue formular nem pensar de forma sistêmica e insiste em agir como sindicato, avançando em pautas próprias apenas quando o que está em jogo são interesses corporativos.
Os eventos de ontem foram claramente da esquerda. Ainda é cedo para saber se terão ou não capacidade de atrair o eleitor não alinhado ou de reduzir a rejeição do presidente Lula.
Leonardo Barreto é cientista político
Instagram: leobarretobsb
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Comentários (1)
Joaquim Arino Durán
2025-09-22 11:09:31Muitos na Paulista ficamos constrangidos pelo cântico; Lulaaa Lulaaa...