Quem vai socorrer Carla Zambelli?
Deputada espera que a Câmara suspenda ação penal e enfrente o STF, assim como ocorreu com o deputado Alexandre Ramagem

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou na quarta, 14, a deputada federal Carla Zambelli, do PL, a 10 anos de prisão por invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsificação de identidade.
O Partido Liberal emitiu uma nota em apoio à deputada, mas os políticos mais proeminenes da sigla permaneceram em silêncio.
A última vez em que o ex-presidente Jair Bolsonaro falou sobre Carla Zambelli foi em 27 de março, quando já havia maioria de votos no STF para condená-la por perseguição armada ao jornalista Luan Araújo, em outubro de 2022.
"[Foi] uma injustiça com a Carla Zambelli. Pelo que eu sei, ela tem porte de arma", disse Bolsonaro.
"Ela errou, no meu entender. Aquilo interferiu nas eleições. Ajudou a me desgastar. Um órgão de imprensa muito poderoso aí foi mostrando o dia todo aquela mensagem, dando a entender que quem defende armamento, defende uma situação como essa. Ela não devia estar armada. Aquilo foi excelente... para a Rede Globo e para quem não gostava de mim".
Dias antes, ao lado do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, Bolsonaro falou em uma entrevista: “A Carla Zambelli tirou o mandato da gente”.
Esse ressentimento do ex-presidente com a deputada inibe a manifestação de políticos aliados de Bolsonaro.
Grupo dos abandonados
Zambelli, assim, integra um grupo de ex-aliados que foram abandonados por Jair Bolsonaro quando deixaram de servir aos seus propósitos ou passaram a desgastar sua imagem.
Nessa turma também estão Gustavo Bebianno, Sara Giromini (Sara Winter), Daniel Silveira, Roberto Jefferson, Alexandre Frota, Joice Hasselmann e Abraham Weintraub.
Em uma entrevista para o jornal Folha de S. Paulo divulgada em abril, Zambelli afirmou que se sentia abandonada por Jair Bolsonaro.
"Eu esperava apoio, né? Durante tanto tempo... Desde 2013 eu apoio o Bolsonaro. Antes, como ativista. Nas causas dele... Ajudei na eleição de 2018, durante todo o governo eu acho que foi uma das pessoas de mais linha de frente dentro do Congresso para defender o governo e o presidente. Eu esperava ter algum tipo de retribuição em relação a isso. Ou seja, contar com a amizade dele neste momento difícil. Mas acho que não só eu, como outras pessoas, perderam a amizade do presidente no momento em que precisavam", disse Zambelli.
Diferença com caso de Ramagem
Na quinta, 15, Zambelli disse que tinha recebido "sinal verde" de que a Câmara dos Deputados tentaria suspender a sua ação penal no STF, assim como foi feito com o deputado Alexandre Ramagem.
Mas esse socorro dificilmente irá acontecer.
A deputada já foi condenada no caso da invasão do sistema do CNJ. Portanto, não há como suspender algo que já acabou.
Além disso, os casos de Zambelli não estão diretamente relacionados à trama golpista, que inclui Jair Bolsonaro.
Os crimes em que ela foi condenada (invasão de sistemas e falsidade ideológica) são diferentes das acusações aos envolvidos na trama golpista, como organização criminosa armada, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e deterioração do patrimônio público.
Na ação para sustar a ação penal de Ramagem, o objetivo final era blindar Jair Bolsonaro. Os dois respondem às mesmas acusações.
No caso de Zambelli, essa estratégia não faria sentido.
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