Que falta faz Campos Neto
Cinco meses após indicado por Bolsonaro deixar o Banco Central, petistas ficaram sem ninguém para empurrar a culpa pela nova alta de juros

Roberto Campos Neto (à direita na foto) deixou o comando do Banco Central oficialmente em 31 de dezembro de 2024. Desde então, a taxa básica de juros subiu após todas as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, comandadas por Gabriel Galípolo (à esquerda na foto), nomeado por Lula.
A Selic chegou, na quarta-feira, 18, a 15% ao ano, ao maior patamar em 19 anos. Boa parte da culpa é de Lula, como destacou o Copom, ao dizer que "segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros".
"O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas", disse o Copom. Economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória traduziu: "A desancoragem das expectativas - que é reflexo da política fiscal expansionista e sem credibilidade - cobra um alto custo da política monetária".
Saudades?
Campos Neto já se foi há tanto tempo que os petistas nem se animam mais a culpá-lo pelas altas na Selic. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), reclamou, mas sem conseguir atribuir ao indicado por Jair Bolsonaro influência na decisão — como vinha fazendo após as últimas reuniões do Copom.
"Não dá pra aceitar como normal o novo aumento da Selic pelo Banco Central. A taxa de 15% é indecente, proibitiva e desestimula investimentos produtivos. É a transformação do Brasil no paraíso dos rentistas: quem vive de juros ganha, quem trabalha perde", protestou o petista.
"O Banco Central não pode ignorar o impacto fiscal de sua política monetária. Se dizem que a dívida preocupa tanto, por que a política de juros não considera o custo que ela própria impõe às contas públicas?", seguiu o deputado federal, sem apontar um culpado específico.
Ata de Gleisi
É um Lindbergh bem diferente do de dezembro de 2024, que celebrava a indicação de Galípolo dizendo que “agora a gente tem influência na política cambial, monetária e fiscal”. Para a sorte do Brasil, o governo Lula só tem influência sobre a política fiscal, e isso já é ruim o bastante.
Quem também reclamou sem apontar o dedo para ninguém específico foi a ministra das Relações Institucionais de Lula, Gleisi Hoffmann.
“No momento em que o país combina desaceleração da inflação e déficit primário zero, crescimento da economia e investimentos internacionais que refletem confiança, é incompreensível que o Copom aumente ainda mais a taxa básica de juros”, disse a petista em seu perfil no X, acrescentando que “o Brasil espera que este seja de fato o fim do ciclo dos juros estratosféricos”.
Os petistas perderam seu bode expiatório com a saída de Campos Neto do BC e seu trabalho de desviar o foco da política fiscal irresponsável de Lula ficou um pouco mais difícil. Não parece o bastante para fazê-los admitir suas responsabilidades, mas pelo menos aumenta o custo das mentiras.
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