Por que Bolsonaro venceu em Israel e Lula na Palestina
O presidente Jair Bolsonaro (na foto, na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém) venceu a eleição presidencial entre os brasileiros que vivem em Israel com 45% dos votos contra 38% de Lula. Nos territórios palestinos, o petista ficou à frente com 84%. A primeira explicação para esse resultado díspar é demográfica. "O perfil dos brasileiros...

O presidente Jair Bolsonaro (na foto, na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém) venceu a eleição presidencial entre os brasileiros que vivem em Israel com 45% dos votos contra 38% de Lula. Nos territórios palestinos, o petista ficou à frente com 84%.
A primeira explicação para esse resultado díspar é demográfica. "O perfil dos brasileiros que vivem em Israel é o de moradores de classe média das grandes cidades. É uma população que tende mais para a direita", diz o historiador Michel Gherman, professor da UFRJ. "Os brasileiros que vivem na Palestina, por outro lado, geralmente são de classe baixa, das pequenas cidades."
A maneira como israelenses e palestinos enxergam a diplomacia nos governos de Lula e Bolsonaro também influencia. Nos últimos quatro anos, o governo brasileiro votou a favor de diversas demandas de Israel na Organização das Nações Unidas, a ONU. Foi contra uma resolução que pedia investigações sobre direitos humanos contra o povo palestino e se absteve em outra que condenava os assentamentos israelenses. "Enquanto isso, o governo Lula, nos anos do PT, foi visto de forma positiva pelos palestinos devido ao apoio à implementação de um estado palestino", diz Gherman.
Outro ponto é que muitos dos brasileiros que se prontificaram a votar mantêm um vínculo estreito com o Brasil. "A maior parte deles, portanto, acredita na perspectiva de um judeu imaginário, que não necessariamente corresponde com a realidade de Israel. Esse personagem criado é branco, conservador e religioso. Com o tempo, muitos judeus brasileiros em Israel acabaram incorporando essa imagem e hoje votam em Bolsonaro", diz Gherman.
A vantagem de Bolsonaro em Israel, contudo, diminuiu consideravelmente. Neste domingo, 2, a diferença foi de apenas sete pontos percentuais. Em 2018, Bolsonaro teve 66% dos votos na disputa contra Fernando Haddad, do PT, que ficou com 7%. A vantagem foi de 59 pontos.
A apuração deste domingo mostra que o apoio a Bolsonaro em Israel tem declinado nos últimos quatro anos. Essa queda pode ter a ver com algumas promessas não cumpridas do presidente. "Bolsonaro prometeu transferir a Embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém e disse que classificaria o grupo libanês Hezbollah como terrorista, mas essas coisas não aconteceram", diz o cientista político Daniel Douek, diretor do Instituto Brasil-Israel. "Em alguns pontos, portanto, o apoio de Bolsonaro a Israel parece ter sido mais simbólico que prático."
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