Para além do xamã chifrudo: as semelhanças entre os atos bolsonaristas e a invasão do Capitólio
De cocar verde-amarelo, com o corpo e o rosto pintados nas cores da bandeira do Brasil e dois grandes chifres pretos sobre a cabeça, um homem se destacou em meio às 125 mil pessoas que participaram dos atos do Sete de Setembro na Avenida Paulista. O bolsonarista (foto) conseguiu chamar atenção ao fazer uma clara...
De cocar verde-amarelo, com o corpo e o rosto pintados nas cores da bandeira do Brasil e dois grandes chifres pretos sobre a cabeça, um homem se destacou em meio às 125 mil pessoas que participaram dos atos do Sete de Setembro na Avenida Paulista. O bolsonarista (foto) conseguiu chamar atenção ao fazer uma clara referência à invasão do Capitólio -- no último dia 6 de janeiro, uma horda insuflada pelo ex-presidente Donald Trump invadiu o Congresso americano para tentar impedir a confirmação da vitória de Joe Biden. À frente dos radicais trumpistas estava Jacob Anthony Chansley, que ficou conhecido como o “Xamã QAnon” em razão de seu chapéu de pele animal com chifres de bisão. A versão tupiniquim do personagem que apareceu nesta terça-feira, 7, na Paulista foi apenas um das muitos pontos de contato entre as investidas antidemocráticas de Donald Trump e as do bolsonarismo.
Os atos do Sete de Setembro terminaram sem confrontos com a polícia e sem feridos, à diferença do que ocorreu na invasão do Capitólio, que deixou cinco mortos. Mas as pautas das manifestações e, sobretudo, as estratégias e o teor do discurso de Jair Bolsonaro deram aos atos daqui um caráter de prévia para um possível confronto em caso de derrota do capitão da reserva nas eleições do ano que vem -- ou mesmo antes disso, se ele vier a sofrer um processo de impeachment, por exemplo. Assim como Trump, Bolsonaro fala escancaradamente que não aceitará o resultado das eleições. Insiste na tese de que as urnas eletrônicas não são confiáveis, a despeito da decisão do Congresso Nacional de enterrar o voto impresso.
A semelhança das estratégias de comunicação é um dos pontos que mais chamam a atenção. Nos Estados Unidos, os apoiadores de Trump organizaram os atos abertamente nas redes sociais, sob a vista grossa de autoridades policiais, que menosprezaram as ameaças feitas por radicais republicanos. Lá, como cá, a multidão foi estimulada pelo presidente da República, em meio a teorias conspiratórias e lutas contra inimigos imaginários, como ameaças comunistas.
Por aqui, na véspera da manifestações, caminhoneiros romperam a barreira policial que deveria impedir tanto a entrada de veículos na Esplanada quanto o acesso de manifestantes sem a devida checagem para evitar a passagem de armas e explosivos -- nos Estados Unidos, descobriu-se que a inação de oficiais de segurança facilitou a invasão do Capitólio. As carretas seguem na Esplanada e os bolsonaristas já tentaram romper a barreira que ainda se mantinha intacta, destinada a impedir o avanço dos manifestantes para a Praça dos Três Poderes. Eles querem chegar ao prédio do Supremo -- ainda nesta terça, grupos ainda alimentavam a esperança de chegar lá. Nesta quarta, militantes invadiram o Ministério da Saúde. A matriz da estratégia dos trumpistas é a mesma, enfim, que está sendo utilizada por aqui pelos apoiadores do presidente.
O cientista político americano Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco político Eurasia, analisou os desdobramentos do Sete de Setembro e traçou paralelos com a invasão do Capitólio. Bremmer lembrou que Bolsonaro enfrenta queda de popularidade por causa das falhas no combate à pandemia, da crise energética crescente e dos escândalos de corrupção. Apontou ainda as declarações do presidente de que só sai “preso, morto ou com vitória”.
“O potencial para um 6 de janeiro no Brasil é real”, disse Ian Bremmer, em referência à data da invasão do Congresso americano. O cientista político disse que os riscos de violência no Brasil são ainda maiores, sobretudo pelo forte apoio que as polícias e setores das Forças Armadas garantem ao presidente brasileiro.
Jair Bolsonaro tem demonstrado que não pretende se manter apenas nas bravatas. As manifestações desta terça-feira exacerbaram a retórica golpista do presidente. As poucas horas que separaram os atos realizados em Brasília e na Avenida Paulista, no Sete de Setembro, são uma amostra. Na Esplanada, Bolsonaro atacou o Supremo, mas sem fazer referência nominal a ministros. Em São Paulo, inebriado pela multidão, elevou o tom, citou seu arquirrival Alexandre de Moraes e o chamou de “canalha”. O Dia da Independência foi fundamental para que lideranças políticas de centro se convencessem de que só o impeachment pode impedir atos extremos, como a invasão do Capitólio.
Nos Estados Unidos, mais de 570 pessoas foram presas este ano, por envolvimento nos atos de 6 de janeiro e 170 acabaram denunciadas. Segundo o Departamento de Justiça do governo americano, as investigações continuam. Jacob Anthony Chansley, o viking que monopolizou o noticiário, está na cadeia há oito meses e sua sentença deve sair no dia 17 de novembro. Na semana passada, ele se declarou culpado. Se o episódio de insurgência nos Estados Unidos serve de inspiração para os bolsonaristas, o exemplo de Chansley, o “Xamã QAnon”, deveria desestimular os golpistas brasileiros.
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Comentários (10)
Osvaldo
2021-09-10 11:03:30Jornalista bossal, medíocre e quase inteligente uma diferença salutar que vc esqueceu, não se sabe por desconhecimento ou estupidez mesmo, nas veias dos americanos corre sangue nobre, real.
João
2021-09-09 11:11:15Tanto a CRUSOÉ quanto O ANTAGONISTA continuam insistindo na falsa notícia , dada pela polícia do DÓRIA, em relação às 125 mil pessoas do dia 7. Dei um GOOGLE e verifiquei a nota do “imparcial “ G1 sobre o total de pessoas da MANIFESTAÇÃO , DE 2019 , DOS LGBTQIA+. SUPREENDENTEMENTE o número apontado era de 3 MILHÕES. Será que a Paulista encolheu ou o número de domingo é mentiroso? Certamente é a segunda hipótese ! Se falou em torno de 700 mil. OS “repórteres “ diziam não caber lá ! ESTRANHO
Wilmar
2021-09-09 10:30:12Esse representa Bolsonaro. O que os difere é que o genocida não assume os chifres.
Odete6
2021-09-09 01:12:49É Jose, mas foi o "leite condensado" que tornou parte deles """docinhos dóceis""".....
Odete6
2021-09-09 01:04:06Manifestação de """milhões""" como espalha o gado????!!!!...... Só rindo pra não chorar!!!!! Mas é pra chorar muiiiito mesmo, porque, além da gente assistir ao triste espetáculo do gado obtuso, cego, surdo, mudo e de nariz entupido por opção mugindo para o genocida e seus asseclas e ainda ☠ disseminando covid ☠, grande parte dos vendidos 🤑 tinha programação visual padronizada, exatamente como a da petralhada, o que demonstra """patrocínio""" na """espontaneidade""" financiada da gadolândia!!!!
NeutronLento
2021-09-08 19:59:37A diferença é que nos EUA as forças armadas estavam do lado da Republica. Aqui elas estão dando apoio ao candidato a ditador.
Humberto
2021-09-08 19:57:19Caro William, se tu analizar com a inteligência e não com o fígado, vai ver que aqui tem gente que pensa , NÃO TUCANO, NÃO PETRALHA ,NÃO TEMER e NÃO GADO por que a gente passou por todos e acabamos Amando os Bandidos do CENTRÃO, e nosso Amor só foi correspondido na DILMA, ENTENDEU??? Nenhum destes nós povo brasileiro nunca fomos o Prato Principal. Vocês são os IDIOTAS da Vez!!!
William
2021-09-08 19:44:49Aos LACRADORES e viúvas do PSDB, prefiro ser gado do que asno.
Márcia
2021-09-08 19:40:27é sério? KKKKK, é gostar de ser ridículo, kkkkkkk
William
2021-09-08 19:39:47Suposições: vão invadir, vão amados, vai ter violência, haverá mortes, vão quebrar tudo, a cinco anos ninguém acreditava nas urnas eletrônicas, gado, chifrudos, esquerdistas ameaçando o presidente em morte, 123 atos do STF contra o presidente, aliados para se eleger o traíram, congresso aparelhado com a esquerda, bandido, meliciano, facista, nazista. Nada disso tem problema, só não pode atacar quem não cumpre a constituição.