O vaivém de Trump sobre terceiro mandato
"Há muitas pessoas vendendo o boné de 2028. Mas isso não é algo que eu esteja procurando fazer", afirmou o presidente

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (foto), deixou no ar no dia 30 de março a possibilidade de tentar um terceiro mandato na Casa Branca.
"Existem métodos pelos quais se pode fazer isso. Mas ainda temos um longo caminho pela frente. Estou focado no atual [mandato]", disse Trump em entrevista para o programa Meet the Press, da rede NBC News.
No último domingo, 4, ele negou essa possibilidade de fazer uma campanha "Trump 2028" em uma entrevista para o mesmo programa Meet the Press, do canal NBC News.
As duas entrevistas ainda foram para a mesma jornalista, Kristen Welker.
"Sem permissão para fazer"
Kristen afirmou na conversa que a Organização Trump está vendendo bonés com os dizeres "Trump 2028".
Trump respondeu afirmativamente: "Sim".
Ela então perguntou: "O senhor está considerando seriamente um terceiro mandato, Sr. Presidente, mesmo sendo proibido pela Constituição? Ou isso se trata de permanecer politicamente viável?".
"Vou dizer o seguinte. Muitas pessoas querem que eu faça isso. Nunca recebi pedidos tão fortes quanto esse", respondeu Trump.
"Mas é algo que, até onde sei, você não tem permissão para fazer. Não sei se é constitucional que eles não permitam que você faça isso ou qualquer outra coisa. Há muitas pessoas vendendo o boné de 2028. Mas isso não é algo que eu esteja procurando fazer. Quero ter quatro ótimos anos e entregá-los a alguém, idealmente um grande republicano, um grande republicano para levar isso adiante. Mas acho que teremos quatro anos, e acho que quatro anos é tempo suficiente para fazer algo realmente espetacular", afirmou o presidente.
Kristen, então, falou o óbvio. Mesmo que Trump quisesse, não teria como ele tentar um terceiro mandato, porque a Constituição não permite isso. Mas comentou que alguns republicanos, aliados de Trump, seguem com esperanças de poderem emendar a Constituição.
"A Constituição proíbe isso. O senhor... alguns dos seus aliados levam isso muito a sério, Sr. Presidente. E eu conversei com eles. Eles dizem que estão apresentando possíveis soluções, obviamente a maior delas seria uma emenda constitucional", afirmou a jornalista.
"Isso porque eles gostam do trabalho que estou fazendo, e é um elogio. É realmente um ótimo elogio", respondeu Trump.
Nota máxima em testes cognitivos
A jornalista perguntou se alguém tinha abordado o presidente com "um plano concreto", para tentar um terceiro mandato.
"Bem, existem maneiras de fazer isso. Existem maneiras de fazer isso. E a senhora sabe a mesma coisa. E se você analisar a questão da vice-presidência, e ouvir diferentes conceitos e diferentes pessoas dizendo: 'Você pode ter uma votação por escrito'. Há muitas coisas diferentes. Dito isso, quero ser um grande presidente. Terei servido — espero que tudo corra bem", afirmou Trump.
O presidente, então, disse que estaria em condições físicas de mais quatro anos na Casa Branca. E retomou seus temas preferidos: a suposta aprovação em testes cognitivos e a comparação com o presidente democrata Joe Biden.
"Sinto-me muito bem. Acabei de fazer um exame físico. Fiz — ao contrário de todos os outros presidentes, fiz testes cognitivos e tirei nota máxima. Acertei 100%. E o médico, um médico disse — havia vários médicos assistindo. E eles disseram: 'Nunca vi isso antes'. Biden não fez um exame cognitivo — ele não poderia ter acertado a primeira pergunta. Mas eu me saí muito bem no exame físico, tanto física quanto mentalmente."
"Serei um presidente por oito anos, serei um presidente por dois mandatos", afirmou.
Sem chance
A possibilidade de Trump conseguir mais um mandato não existe.
Em 1951, os congressistas americanos aprovaram a 22ª Emenda, estabelecendo que "nenhuma pessoa será eleita para o cargo de presidente mais de duas vezes".
Foi uma maneira de conter o excessivo poder presidencial, depois que Franklin D. Roosevelt foi eleito quatro vezes seguidas.
Para Trump conseguir um terceiro mandato, ele teria de mudar a Constituição novamente.
E, para isso, teria de aprovar outra Emenda.
Essa chance não existe.
Para que uma Emenda à Constituiçao seja aprovada, é preciso que ela seja aprovada por dois terços da Câmara dos Representantes e do Senado.
O Partido Republicano hoje tem pouco mais de 50% nas duas Casas legislativas.
Obviamente, nenhum representante do Partido Democrata aprovaria tal coisa.
Além disso, três quartos das assembleias legislativas estaduais também teriam de sancionar o texto.
Ou seja, isso teria de ocorrer em 38 estados.
Dos 50 estados americanos, 27 têm governantes do Partido Republicano e 23 têm democratas.
Considerando que as assembleias legislativas tendem a seguir o partido do governador, então também seria complicado chegar aos três quartos.
203 anos de discussão
Aprovar uma emenda à Constituição americana nunca foi tarefa fácil.
Tanto é assim que isso só ocorreu 27 vezes em quase 250 anos.
A última emenda foi aprovada em 1992, sobre quando deve ocorrer uma mudança no valor dos salários dos funcionários do Congresso.
A mudança, contudo, foi proposta pelo pai fundador James Madison, o "pai da Constituição". Foram 203 anos de discussões.
Não é algo muito encorajador.
Steve Bannon
No dia 19 de março, Steve Bannon, que foi estrategista-chefe de Trump no primeiro mandato, disse que estava trabalhando em maneiras para Trump buscar um terceiro mandato.
"Trump vai concorrer e ganhar de novo em 2028", disse Bannon.
Mas a possibilidade de Trump concorrer novamente não existe.
Trump ainda poderia tentar um autogolpe, no estilo do peruano Alberto Fujimori, em 1992, ou do que quase ocorreu no Brasil em 2022, com Jair Bolsonaro.
A retrospectiva histórica nesse ponto também não ajuda.
Em 249 anos de independência, os Estados Unidos nunca tiveram uma quebra da ordem democrática.
Trump fala em terceiro mandato não porque acredite nessa chance, mas porque usa esse discurso para animar a base, expor a fraqueza dos rivais democratas e desviar a atenção para os problemas reais dos americanos, como o alto custo de vida.
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