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O que pode mudar na França com vitória de Marine Le Pen

01.07.24 11:39

O partido Reagrupamento Nacional, RN (Rassemblement Nacional, em francês), de Marine Le Pen e Jordan Bardella (foto), foi o grande vitorioso no primeiro turno das eleições parlamentares na França deste domingo, 30 de junho, com 33% dos votos. O segundo turno está marcado para o domingo, 7.

O resultado do primeiro turno, que já era previsto pelas pesquisas, suscitou reportagens na imprensa sobre os perigos dessa vitória, que seria “a primeira da ultradireita desde o governo colaboracionista” com os nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Há um claro exagero aí, como apontou Catarina Rochamonte em um artigo para O Antagonista. Desde 2015, Marine Le Pen promoveu uma reforma em seu partido, o antigo Frente Nacional, limpando-o dos traços de antissemitismo (até mesmo afastando seu pai, Jean Marie). Com isso, o ódio aos judeus se encontra muito mais hoje na esquerda radical europeia do que na direita. Também não se fala mais no RN em expulsar imigrantes ilegais ou em sair da União Europeia.

 

Leia em O Antagonista: França: triunfo nacional-populista e ameaça extremista à esquerda

 

Há ainda limites institucionais na República francesa e na União Europeia que impedem um governo extremista e que atenuam posições radicais ou muito indigestas.

Um exemplo é a conhecida proximidade de Marine Le Pen com o ditador russo Vladimir Putin. Seu partido já foi foi acusado de receber crédito de um banco russo, em 2018. Ela já falou em reduzir as sanções impostas ao Kremlin (algo que o governo Lula também defende) e sempre evitou criticar o ditador. Mas essa amizade já encontrou seus limites.

Desde a invasão russa da Ucrânia, em 2022, Marine tem se distanciado de Putin e da Rússia. Na segunda, 24, Jordan Bardella, o jovem presidente do Reagrupamento Nacional que pode se tornar o próximo primeiro-ministro francês, afirmou aos aliados europeus que, no caso de uma vitória de seu partido, a França manteria o apoio à Ucrânia.

Bardella prometeu enviar aviões e militares franceses para treinar soldados ucranianos, mas disse que não mandaria mísseis que podem alcançar a Rússia. Sua preocupação não é nova, porque países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, já evitam ataques diretos à Rússia, pois isso poderia escalar o conflito.

Não pretendo colocar em questão os compromissos assumidos pela França na cena internacional e prejudicar a nossa credibilidade num momento de guerra nas portas da Europa”, disse Bardella.

 

Qual seria a política externa?

Em um governo de “coabitação“, como o que está sendo vislumbrado, Bardella teria pouco a influir em política externa, que ficaria dividida entre a presidência e o Parlamento.

A França tem um sistema semipresidencialista em que o presidente escolhe o primeiro-ministro. Mas o chefe de Estado não pode escolher qualquer nome, sob o risco de ter seu mandato abreviado com um voto de desconfiança.

Então, espera-se que o presidente Emmanuel Macron escolha Bardella para o posto.

Macron, assim, teria um primeiro-ministro da oposição.

O que mudaria, se a “coabitação” se concretizar, é que Macron precisará do apoio do Parlamento para aprovar o próximo orçamento, e novos envios de armas para a Ucrânia teriam de passar por esse crivo.

Nesse ponto, Bardella já falou que quer aumentar os gastos militares. “Eu gostaria que a Ucrânia tivesse à disposição os equipamentos e munições necessárias para segurar o front“, afirmou ele, em junho.

 

Um novo chefe de governo

Caso a vitória do Reagrupamento Nacional se confirme no segundo turno, Macron perderia muito da sua capacidade de conduzir o governo.

Política de imigração, medidas econômicas e em relação ao meio ambiente mudariam de mãos.

O Reagrupamento Nacional é contra o Acordo Verde europeu, que busca reduzir o uso de pesticidas e pode elevar o custo dos transportes, ao elevar os custos dos combustíveis fósseis.

Ao mesmo tempo, o programa de Bardella promete retomar os investimentos em energia nuclear, a principal matriz energética da França, que não libera gases de efeito estufa.

Na economia, o destaque é para o protecionismo econômico, com a redução das importações de produtos de outros países — uma posição em linha com a de Macron e dos fazendeiros franceses.

 

Leia em Crusoé: O mundo vai para a direita

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