O que esperar da relação entre papa Leão XIV e JD Vance
Cardeal Robert Prevost, eleito no Conclave, republicou artigos com críticas a uma interpretação do vice-presidente americano

O papa Leão XIV, escolhido hoje pelo Conclave em Roma, tinha uma conta no X, antigo Twitter, em que ele compartilhava mensagens escritas por outras pessoas e veículos.
Em fevereiro deste ano, ainda como cardeal Robert Prevost, ele repostou dois artigos comentando as desavenças entre papa Francisco e o vice-presidente americano JD Vance, que se converteu ao catolismo em 2019.
Para defender a política contra imigrantes ilegais do presidente americano Donald Trump, Vance citou o conceito Ordo amoris, de Santo Agostinho.
Ordo amoris
O Ordo amoris estabelece que o amor segue uma hierarquia. Deve ser dirigido, primeiro, a Deus, à família, à comunidade e depois à sociedade.
"Apenas busque na internet 'ordo amoris'", escreveu Vance no X no dia 30 de janeiro.
"Você ama sua família, depois ama seu próximo, depois ama sua comunidade e, por fim, ama seus concidadãos em seu próprio país. E depois disso, você pode se concentrar e priorizar o resto do mundo", afirmou Vance em uma entrevista para a Fox News.
Quem não gostou dessa interpretação foi o papa Francisco.
Em uma carta de 10 de fevereiro de 2025, endereçada aos bispos dos Estados Unidos, Francisco abordou a questão do Ordo Amoris, sem citar Vance diretamente.
Francisco disse que não há uma "expansão concêntrica de interesses".
Ele recomendou uma prática inspirada na parábola do Bom Samaritano, que "constrói uma fraternidade aberta a todos, sem exceção".
Francisco e Prevost
Considerando que o papa Francisco teve uma participação importante na ascensão de Prevost na hierarquia da Igreja Católica, é de esperar que os dois religiosos tenham visões parecidas, diferentes da de JD Vance.
Um dos artigos compartilhados por Prevost no X foi publicado na National Catholic Reporter e leva a assinatura de Kat Armas.
O título é "JD Vance está errado: Jesus não nos pede para hierarquizar o amor pelos outros".
Seguem lguns trechos do texto de Kat Armas:
"O argumento de Vance ecoa um conceito medieval conhecido como ordo amoris — a ordem da caridade, frequentemente atribuída a São Tomás de Aquino. A ideia é que o amor deve ser hierarquizado, que uma pessoa priorize corretamente seus afetos, com a família em primeiro lugar. De certa forma, parece prático, até razoável. O amor não deve ser uma abstração, flutuando em ideais sem envolvimento com o mundo real", escreveu a autora Kat Armas.
"Mas o problema com essa hierarquia é que ela alimenta o mito de que algumas pessoas merecem mais o nosso cuidado do que outras. É uma estrutura que faz sentido em um mundo governado pela escassez e pelo medo, onde a proteção vem às custas dos outros. Mas Jesus nunca fala do amor como algo a ser racionado. Ele fala do amor como abundância — uma mesa onde há o suficiente para todos."
"A ideologia colonial nos condicionou a pensar em binários e hierarquias — quem está dentro e quem está fora, quem é o primeiro e quem é o último. Temos dificuldade em compreender um amor que não seja hierarquizado, que não classifique as pessoas em categorias de valor. Mas Jesus parecia estar nos convidando para um mundo completamente diferente — um mundo onde o amor se move livremente e sem hierarquia, quebrando as fronteiras que fomos ensinados a construir", escreveu Kat.
Manifestação de JD Vance
Após a escolha do cardeal Prevost, JD Vance publicou a seguinte mensagem no X:
"Parabéns a Leão XIV, o primeiro papa americano, por sua eleição! Tenho certeza de que milhões de católicos americanos e outros cristãos rezarão por seu trabalho bem-sucedido à frente da Igreja. Que Deus o abençoe!."
Mas a relação entre os dois não começará do zero.
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