O que é o Insurrection Act, que Trump ameaça acionar?
No dia 10 de junho, Trump insinuou a possibilidade de acionar o Insurrection Act, uma legislação do século XIX

Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o envio de tropas militares em resposta à crescente mobilização de ativistas contra suas políticas de imigração.
Contudo, uma decisão de um juiz federal nesta quinta-feira, 12 de junho, classificou a intervenção como "ilegal".
Em resposta ao aumento das tensões, as autoridades federais intensificaram sua presença militar, com um gasto extraordinário estimado em 134 milhões de dólares pelo Pentágono.
Sem respaldo legal, Trump enviou 4.000 soldados da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais ativos para a região, ação que gerou forte reação dos democratas.
Em uma decisão preliminar, o juiz Charles Breyer do tribunal do norte da Califórnia declarou que a tomada de controle da Guarda Nacional pela administração federal era "ilegal".
O juiz também criticou a interpretação excessiva da lei por parte do presidente ao alegar uma situação que não atende aos critérios legais adequados; as manifestações ocorridas em Los Angeles, embora tensas, não configurariam uma rebelião sob a ótica jurídica.
Em resposta à decisão judicial adversa, Trump contestou imediatamente afirmando tratar-se de uma "interferência extraordinária" do Judiciário.
Os fuzileiros navais são impedidos de participar em atividades de controle civil a menos que o presidente invoque formalmente o Insurrection Act.
No dia 10 de junho, Trump insinuou a possibilidade de acionar o Insurrection Act, uma legislação do século XIX que confere ao presidente autoridade para mobilizar as forças armadas dentro do território americano com o intuito de manter a ordem, utilizando tropas normalmente designadas para operações no exterior.
Compreendendo o Insurrection Act
O Insurrection Act é, na verdade, um conjunto de três leis promulgadas entre 1792 e 1871, cada uma abordando situações específicas.
A Seção 251 permite que o presidente desloque tropas mediante solicitação do legislativo estadual quando uma insurreição local excede a capacidade das autoridades civis. Esta é a disposição mais antiga e frequentemente utilizada.
Por outro lado, as Seções 252 e 253 autorizam a intervenção sem necessidade de consentimento estatal, inclusive contra a vontade do estado.
A Seção 252 pode ser acionada para "fazer cumprir as leis" caso uma "rebelião" impossibilite a aplicação das leis federais por meios executivos convencionais.
A Seção 253 é ainda mais abrangente, permitindo ao presidente usar as forças armadas para reprimir "qualquer insurreição, violência doméstica ou conspiração" que impeça a execução das leis ou interfira no funcionamento da justiça federal.
Essas legislações servem como exceção ao Posse Comitatus Act de 1878, que proíbe normalmente o uso das forças armadas em questões civis.
Redigidas de forma ampla, elas conferem ao presidente uma considerável margem de manobra sem supervisão judicial rigorosa.
A História do Insurrection Act
Apesar de sua longa existência, o Insurrection Act foi utilizado apenas 30 vezes ao longo da história americana.
Exemplos notáveis incluem sua invocação por Abraham Lincoln durante a Guerra Civil em 1861, por Ulysses S. Grant para combater a violência do Ku Klux Klan em 1871 e por Dwight Eisenhower em 1957 para garantir a desagregação escolar no Arkansas.
Mais recentemente, em 1992, o presidente George H.W. Bush acionou a lei durante os distúrbios em Los Angeles após o veredito que absolveu policiais envolvidos no espancamento de Rodney King.
Limites jurídicos ambíguos
Uma das críticas mais contundentes dirigidas ao Insurrection Act reside na indefinição dos critérios legais para sua aplicação.
A lei sobre insurreição não estabelece claramente as condições para seu uso e concede um poder unilateral ao presidente.
Termos fundamentais como "insurreição", "rebelião" ou "violência doméstica" não são definidos com precisão, abrindo espaço para interpretações potencialmente abusivas.
A própria Suprema Corte reconheceu que a interpretação da lei cabe exclusivamente ao presidente sem necessidade de concordância do estado envolvido.
Entretanto, até o momento Donald Trump não invocou formalmente essa legislação.
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