O PT existiria sem anistia?
Governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou que "se o PT existe hoje é porque houve anistia em 1979"

O governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (foto), buscou vincular a formação do Partido dos Trabalhadores (PT) à Lei da Anistia, de 1979.
O objetivo do governador, que incorporou abertamente a campanha pela anistia no domingo, 7, é dizer que esse expediente serve a todos os lados políticos, e não haveria motivo para os petistas reclamarem das articulações atuais para livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros envolvidos na trama golpista.
“A história tenta ser reescrita. A esquerda viveu de narrativa a vida toda. O tempo todo. A esquerda procurou reescrever a história. Vejam. Eles dizem que foram responsáveis pela luta pela democracia. Justamente eles que assaltaram bancos, que praticaram atentados terroristas, que cometeram assassinatos e que se beneficiaram da anistia. Aqueles que hoje falam em anistia foram beneficiados pela anistia no passado. Se o PT existe hoje é porque houve anistia em 1979, senão não existiria”, disse Tarcísio.
Mas há evidentes exageros na fala de Tarcísio.
O PT provavelmente teria sido criado se a lei da anistia não tivesse sido sancionada, durante a ditadura militar.
Só seria um PT diferente, sem a participação de pessoas que participaram da luta armada, como José Dirceu.
Outros petistas conhecidos, como Dilma Rousseff, José Genoíno e Antonio Palocci também realizaram funções na luta armada, mas em posições menos importantes.
Sindicalismo
A maior força do PT veio do sindicalismo, da região de São Bernardo do Campo e de Diadema, que mais tarde seria chamada de ABC.
Foi nas greves de 1978 e 1979 que Lula ganhou projeção na imprensa nacional e internacional.
Os militares, que já estavam comandando um processo de abertura sob o governo de Ernesto Geisel, foram coniventes com o sindicalismo de Lula, que se apresentava como uma alternativa ao varguismo (representado por Leonel Brizola) e ao comunismo (cujo irmão de Lula, Frei Chico, era adepto).
Lula apoiava a anistia nessa época, mas não era um de seus principais adeptos.
Quem mais empunhava a luta pela anistia eram políticos do MDB, o partido aceito pela ditadura para fazer oposição. Entre seus membros mais destacados estavam Fernando Henrique Cardoso e Ulysses Guimarães.
A luta por direitos humanos, contra a tortura e por liberdade de expressão era desses outros políticos engravatados.
Enquanto isso, Lula e os sindicalistas insistiam nos direitos dos trabalhadores e no padrão de vida.
Quando houve a liberação para a criação de outros partidos, além do oficial Arena e do MDB, foi natural que Lula lançasse a sua agremiação.
Isso foi feito em conjunto com membros da classe média, com intelectuais e com a ajuda da Igreja Católica, que cedeu vários dos lugares das primeiras reuniões para formar o novo partido.
E, claro, participaram dessa formação pessoas que, após a aprovação anistia, puderam retornar ao Brasil ou ter uma atuação aberta na sociedade.
Na formação do PT, portanto, participaram vários grupos, sendo que os ex-integrantes da luta armada eram apenas um deles, e não o mais importante.
Quanto à declaração de Tarcísio, fica claro que não é só a esquerda que tenta reescrever a história.
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