'O humorista deve ser um crítico do abuso de poder', diz comediante venezuelano
O humorista Laureano Márquez (foto) é um dos mais reconhecidos da Venezuela. No ano passado, ele teve uma peça cancelada dias antes da estreia, porque a Receita fechou o teatro. Este ano, com a pandemia do coronavírus, Márquez, de 57 anos, viajou para Madri, na Espanha. Ele se sustenta atualmente principalmente com apresentações nas redes...
O humorista Laureano Márquez (foto) é um dos mais reconhecidos da Venezuela. No ano passado, ele teve uma peça cancelada dias antes da estreia, porque a Receita fechou o teatro. Este ano, com a pandemia do coronavírus, Márquez, de 57 anos, viajou para Madri, na Espanha. Ele se sustenta atualmente principalmente com apresentações nas redes sociais. Márquez conversou com Crusoé pelo telefone.
Há humoristas em Cuba?
Existem, mas eles precisam se manter dentro dos limites e não podem fazer críticas contra o regime. Como eles não têm independência, não podem ser comparados com os comediantes de outros países. Um comediante magnífico de Cuba é o Virulo, mas seus temas nunca são políticos, porque isso seria muito difícil e complicado. Ele é um músico, que fala mais sobre os costumes. O comediante venezuelano Pedro León Zapata uma vez foi para Cuba e perguntou por que não havia humor político na ilha. A resposta que deram para ele é que isso não existia porque todos os humoristas eram admiradores da ditadura.
E na Venezuela?
Nos primeiros anos de Hugo Chávez como presidente, o humor, naturalmente, tornou-se crítico do poder. Como o presidente tinha 90% de apoio popular, isso era visto como algo gracioso, simpático. Lembro que ministros iam a nossas peças no teatro e nos parabenizavam. A situação mudou quando o governo começou a perder popularidade. A partir daí, qualquer sátira passou a ser muito mal vista pelas autoridades. Os ministros que antes assistiam a nossas peças passaram a fechar as portas dos teatros para nós. Nicolás Maduro, que rapidamente teve de lidar com uma ausência brutal de popularidade, foi ainda mais longe contra os humoristas. Ele apenas radicalizou algo que já vinha acontecendo com Chávez.
Em uma ditadura, alguns tipos de humoristas acabam sendo mais afetados que outros?
Os humoristas gráficos, que trabalham com cartuns e charges, sofrem uma perseguição mais aberta. Isso acontece porque basta uma olhada no trabalho deles para entender a crítica. Às vezes, nem é preciso usar palavras. Na comédia, é preciso gastar algum tempo no palco para conseguir passar uma mensagem.
Em geral, humoristas são de esquerda ou de direita?
O humorista deve ser um crítico do abuso de poder, porque a arbitrariedade tem como consequência a ausência de liberdade. E o humor é um ato de pura liberdade. O conceito de esquerda e direita não faz sentido nesse caso. O tema vai além. Para mim, como humorista, todos que se colocam contra a liberdade devem ser vistos como inimigos, seja de esquerda ou de direita. Eu creio na liberdade e na democracia.
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Comentários (5)
Marcelo
2020-08-26 13:35:22Humorista em países totalitários só podem contar anedotas de papagaio. Cuba parou no tempo. Quem vê vídeos de lá acha que se trata de um filme da década de 50.
Gustavo
2020-08-26 12:53:06Ser humorista no Brasil é facil.. quero ver fazer piada na Finlândia
SAID
2020-08-26 11:47:23Coitado do Marcelo Tas, cobriram o cara de pancada por falar a verdade!
Analfabento
2020-08-26 11:18:00A revista está muito engracada! Virando piada! Kkkkkkk
Jose
2020-08-26 10:41:41Difícil. Hoje os políticos competem com os comediantes. É difícil saber quem é quem! Apesar de que as piadas dos políticos sempre prejudicam a população, enquanto as dos comediantes não.