O egocêntrico "Acordo de Paz de Trump"
Presidente americano colocou o próprio sobrenome ao batizar o acordo que acabou com a guerra na Faixa de Gaza

O site da Casa Branca divulgou na noite da segunda, 13, a "Declaração de Trump para a Paz Duradoura e Prosperidade".
O título já traz o nome do presidente americano (na foto, com o turco Recep Erdogan), mas o egocentrismo não fica só aí.
O texto começa com a frase: "Nós, abaixo assinados, saudamos o compromisso e a implementação verdadeiramente históricos de todas as partes do Acordo de Paz de Trump, encerrando mais de dois anos de profundo sofrimento e perda — abrindo um novo capítulo para a região definida pela esperança, segurança e uma visão compartilhada de paz e prosperidade".
Além da linguagem empolada ("verdadeiramente históricos"), o texto batiza o acordo com o sobrenome do presidente americano: "Acordo de Paz de Trump".
O republicano, assim, foge da regra não formalizada nesses acordos diplomáticos, que costumam usar a cidade em que as negociações ocorreram ou onde os documentos foram firmados.
Oslo, Versalhes, Camp David
Os Acordos de Oslo foram assinados na capital da Noruega, em 1993, sob a batuta do presidente americano Bill Clinton.
O presidente democrata saiu na foto do acordo mais importante até agora para a região da Palestina, ao lado do palestino Yasser Arafat e do israelense Yitzhak Rabin, mas não ousou batizar o acordo com seu sobrenome.
Outros exemplos com nomes de cidades são o Tratado de Versalhes, o Tratado de Vestfália, o Acordo de Camp David.
A opção de usar o nome da cidade é uma forma de dar neutralidade, valorizando mais a negociação do que uma ou outra pessoa.
Mas o ego de Trump não funciona desse modo.
O texto do documento ainda faz questão de colocar Trump à frente de todos os seus signatários: "Apoiamos e ficamos atrás ("stand behind") dos esforços sinceros do presidente Trump para acabar com a guerra em Gaza e trazer paz duradoura ao Oriente Médio".
O primeiro a assinar o texto, claro, é Trump.
Em seguida, assinam o presidente do Egito, Abdel Fattah Sisi, o emir do Catar Tamim bin Hamad Al-Thani, e o presidente da Turquia, Recep Tayyp Erdogan.
Conquista
O "Acordo de Paz de Trump", sem dúvida, foi uma conquista para todo o Oriente Médio.
O republicano conseguiu colocar o ditador do país mais populoso da região, o Egito, um parceiro estratégico de Israel, ao lado de dois antigos apoiadores do grupo terrorista Hamas: Catar e Turquia.
Duas dúzias de chefes de governo, incluindo vários europeus, foram ao Egito validar a iniciativa.
Mas o presidente americano podia ser menos egocêntrico, não?
Chamar de Acordo de Sharm el-Sheikh não ficaria tão ruim...
Leia em Crusoé: Trump entrega aquilo que falta a Lula
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)