O crime que distinguiu a ditadura militar da Argentina no continente
Este domingo, 24 de março, marca 48 anos do golpe de Estado que instalou a última ditadura militar da Argentina, de 1976 a 1983. O regime foi o mais violento da América do Sul na segunda metade do século 20. Enquanto se reconhece oficialmente 500 mortos e desaparecidos no Brasil do regime de 1964 e...
Este domingo, 24 de março, marca 48 anos do golpe de Estado que instalou a última ditadura militar da Argentina, de 1976 a 1983.
O regime foi o mais violento da América do Sul na segunda metade do século 20.
Enquanto se reconhece oficialmente 500 mortos e desaparecidos no Brasil do regime de 1964 e 3.000 no Chile de Augusto Pinochet, a cifra na Argentina é de 9.000.
Entidades argentinas de direitos humanos estimam que o número de desaparecidos, apenas, chegue a 30.0000.
Algo que distinguiu a ditadura argentina das demais no continente envolve justamente as desaparições forçadas.
Aqui, houve uma política sistemática de sequestro de bebês de pessoas consideradas adversárias do regime, em grande parte militantes de esquerda.
Sabe-se de, ao menos, 500 crianças que foram ou sequestradas com seus pais ou nascidas enquanto a mãe estava em cativeiro.
Uma daquelas crianças foi Juan Pablo Moyano (foto), hoje aos 47 anos.
Primeiro, ele teve o pai sequestrado dias antes de seu nascimento, em agosto de 1976. Depois, em janeiro de 1978, Moyano, então com 18 meses de vida, foi sequestrado com sua mãe.
"Levaram a minha mãe e me deixaram em uma casa com uma senhora. Disseram-lhe: 'Vamos deixar esse bebê agora e voltamos para buscá-lo'. E, bem, nunca voltaram", relata a Crusoé.
"Esta senhora não tinha nenhuma intenção de ficar com um bebê roubado", afirma Moyano com um riso. "Ela foi ao Juizado de Menores e me deixou lá", acrescentou.
Após um dia sob custódia do Juizado de Menores, ele foi entregue a uma outra mulher, a primeira a quem chamou de "mãe" e com quem viveu até os 6 anos de idade.
"Essa senhora é a primeira pessoa de quem eu me recordo, da minha infância. Para mim, era a minha mãe", diz Moyano.
Ele foi encontrado apenas em 1983, pela principal entidade de direitos humanos que busca crianças sequestradas pela ditadura, a Associação das Avós da Praça de Maio.
As Avós da Praça de Maio reencontraram Moyano através de uma foto.
"Como eu havia nascido meses antes de me sequestrarem, havia uma foto minha e uma certidão de nascimento com digitais. Aquela foto circulou em noticiários pelo país e pelo mundo. Isso ajudou a me reencontrar", diz Moyano.
A situação das crianças nascidas em cativeiro é completamente distinta.
Depois de ser reencontrado, Moyano passou a ser criado pela avó a partir de 1984. Até hoje, não se sabe o paradeiro de seus pais.
Testemunhos indicam que seu pai foi assassinado pela ditadura no centro de tortura da ESMA, em Buenos Aires, com base em testemunhos. Sobre sua mãe, não há nenhuma pista.
Sequestro de bebês em outros lugares
A última ditadura da Argentina não inaugurou o sequestro de bebês como uma política sistemática de repressão.
O regime de Francisco Franco, na Espanha, já havia implementado a prática ao final da década de 1930.
Não se sabe quantos bebês foram sequestrados; estima-se na casa de milhares.
No Chile do ditador Augusto Pinochet, também houve o sequestro em massa de recém-nascidos.
Entretanto, segundo investigação de comissão especial da Câmara dos Deputados chilena, tratou-se mais de um esquema lucrativo de profissionais da saúde corruptos com conivência de autoridades públicas do que uma política de repressão do Estado.
A investigação aponta a até 20.000 bebês chilenos foram vendidos a famílias dos Estados Unidos e da Europa.
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Comentários (1)
ANDRÉ MIGUEL FEGYVERES
2024-03-24 18:19:43Tragédias que se repetem mostrando que a humanidade não evolui em muitas partes do mundo...A maldade humana não tem limites! Todos os seres vivos são filhos de Deus. O respeito pela vida precisa constantemente ser ensinado para as nossas crianças. Vidas de seres e de plantas têm que ser respeitadas!