Mundo teve "tsunami de antissemitismo" após o 7 de outubro
O advogado Fernando Lottenberg, comissário da OEA para monitoramento e combate ao antissemitismo, acredita que manifestações foram multiplicadas por "seis, oito ou dez"
O advogado Fernando Lottenberg, comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para monitoramento e combate ao antissemitismo, afirma que o mundo viveu um "tsunami de antissemitismo" após o atentado terrorista do Hamas no dia 7 de outubro de 2023. Lottenberg foi um dos entrevistados para a reportagem de capa da Crusoé, "Um ano sem paz". Eis a entrevista:
Como está o antissemitismo hoje, na comparação com o período anterior ao atentato de 7 de outubro?
O antissemitismo é algo que está sempre presente, com fases de maior ou menor intensidade. No dia 6 de outubro de 2023, o antissemitismo estava em um modo "padrão". Até então, havia posts atacando judeus nas redes sociais e judeus sendo atacados fisicamente, principalmente nos Estados Unidos, na França e no Reino Unido. Mas, quando olhamos os números hoje desses países, do Brasil, do Canadá e da Argentina, vemos uma realidade completamente diferente. Os atos antissemitas foram multiplicados por seis, por oito ou por dez. É outra coisa.
Como o antissemitismo evoluiu ao longo dos últimos doze meses?
Num primeiro momento, ocorreram poucas manifestações de solidariedade aos israelenses. Em seguida, mesmo antes de Israel esboçar uma reação, tivemos muitas manifestações de negacionismo. Teve gente dizendo que o ataque não tinha ocorrido, que o número de vítimas era menor do que o noticiado, que os israelenses eram os culpados ou que não havia provas das violências sexuais. A partir daí, tivemos um tsunami de antissemitismo pelo mundo. Em São Paulo, um professor chegou a dizer que quem matou as pessoas no dia 7 de outubro foram os soldados israelenses.
O que seria esse "tsunami de antissemitismo"?
Foram muitas manifestações, de várias maneiras. Primeiro, elas se deram nas redes sociais, que é o espaço em que esse ódio flui normalmente. Nos campi universitários dos Estados Unidos e no Canadá também foram organizadas manifestações claramente antissemitas. As mensagens dos que protestavam (foto) não se limitavam a criticar o Estado israelense ou defender a Palestina, o que seria legítimo, mas reciclavam antigos mitos antissemitas, aplicando-os para a situação atual. É o que se verifica quando um governante fala que os judeus matam crianças, ou comparam-se judeus aos nazistas.
Qual é a tendência a partir de agora?
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que não existe uma reação de causa e efeito entre o antissemitismo e a guerra. Não podemos achar que conflitos no Oriente Médio elevam o antissemitismo. Isso seria responsabilizar a vítima pelo atentado, resonsabilizar a mulher pela tentativa ou pelo estupro. O que tem acontecido é outra coisa. Os antissemitas estão por aí e se aproveitam de momentos de crise como esse para sair às ruas e usar isso como uma licença para as suas atitudes antissemitas. Essas pessoas só encontram nas crises a oportunidade para legitimar um comportamento que elas já tinham.
Leia em Crusoé: Um ano sem paz
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