Mesmo sem assumir autoria do ataque a Salman Rushdie, Irã é responsável
O secretário de estado americano Antony Blinken divulgou neste domingo, 14, uma declaração lamentando o atentado contra o escritor britânico Salman Rushdie e condenando o incitamento à violência por parte do regime iraniano. Blinken não afirmou que a teocracia dos aiatolás é a responsável direta pelo atentado contra o autor do romance Versos Satânicos, mas...
O secretário de estado americano Antony Blinken divulgou neste domingo, 14, uma declaração lamentando o atentado contra o escritor britânico Salman Rushdie e condenando o incitamento à violência por parte do regime iraniano. Blinken não afirmou que a teocracia dos aiatolás é a responsável direta pelo atentado contra o autor do romance Versos Satânicos, mas isso nem sequer é necessário.
"Nós nos juntamos àqueles em todo o país e em todo o mundo que estão mantendo Salman Rushdie em seus pensamentos após esse ataque hediondo. Mais do que um gigante literário, Rushdie defendeu consistentemente os direitos universais de liberdade de expressão, liberdade de religião ou crença e liberdade de imprensa. Enquanto as autoridades policiais continuam investigando o ataque, lembro-me das forças perniciosas que buscam minar esses direitos, inclusive por meio de discurso de ódio e incitação à violência", diz o texto de Blinken. "Especificamente, as instituições estatais iranianas incitaram a violência contra Rushdie por gerações, e a mídia ligada ao governo recentemente celebrou o atentado contra sua vida. Isso é desprezível."
Dois dias depois do ataque a facadas contra Rushdie, não foi veiculada uma evidência clara de que o autor do ataque, Hadi Matar, tenha alguma ligação com o governo do Irã ou com o grupo terrorista libanês Hezbollah, um de seus braços armados no exterior. Neste domingo, a revista Vice publicou uma reportagem dizendo que Hadi Matar entrou em contato com membros da Guarda Revolucionária do Irã pelas redes sociais, mas os jornalistas afirmam que "não há evidências de que o Irã tenha organizado o ataque".
Nesta segunda, 15, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, descartou qualquer conexão entre o seu país e o ataque a Rushdie. O Hezbollah também negou envolvimento.
A bem da verdade, isso não é necessário. Na maioria das vezes, os terroristas conhecidos como lobos solitários não têm vínculos diretos com organizações terroristas. Não foram admitidos como seus integrantes, não treinaram com seus membros ou não participaram da preparação de ataques.
Mas os lobos solitários compartilham das ideologias radicais e seguem as ordens dadas pelos seus líderes. Quando um terrorista jogou um caminhão contra pedestres em Nice, no sul da França, em 2016, matando 84 pessoas, ele estava obedecendo uma ordem. Dada a dificuldade de adquirir armas e de atuar na Europa sem chamar a atenção dos serviços de inteligência, o Estado Islâmico tinha mandado seus seguidores usarem métodos alternativos, como facas ou veículos, para espalhar o terror.
Quando uma ordem como essa é dada, qualquer desequilibrado pode cumpri-la. A fatwa do aiatolá Khomeini, primeiro líder supremo do Irã, pedindo que "muçulmanos zelosos" matassem Rushdie foi dada em 1989. Três décadas depois, ela foi cumprida.
No atentado com o caminhão em Nice, contudo, o Estado Islâmico assumiu sua autoria em seguida. Desta vez, isso não aconteceu. Talvez, o governo iraniano queira evitar represálias diversas.
Mas, mesmo que o governo do Irã ou o Hezbollah não assumam a responsabilidade, dois importantes objetivos do governo iraniano foram alcançados.
O primeiro, o de mostrar o poder do Irã e ajudar os aiatolás a ganharem influência no Oriente Médio. O segundo é o de amedrontar a própria população iraniana, que saberá mais uma vez que não poderá questionar suas lideranças políticas e religiosas sem ter de pagar um preço muito alto por isso.
A violência, portanto, é usada para fins políticos.
O Irã é um Estado patrocinador do terrorismo e, ainda que não assuma a autoria do ataque a Rushdie, tem toda a responsabilidade pelo que aconteceu.
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Comentários (4)
Marcelo
2022-08-16 15:14:28não há dúvida! o radicalismo islâmico resulta em terrorismo ciclicamente e o Irã incentiva o terrorismo abertamente. a bem da verdade outras potências também mas com mais discrição ( p. ex EUA, Russia, Inglaterra e Israel entre tantas outras. o caso é que não há pundonor politico no sec 21 ,pois qquer transparência que houvesse quanto ao tema, para a opinião pública, desapareceu.
Humberto
2022-08-16 11:02:46Perfeito, Duda.
ADRIANO ROGERIO TOLEDO
2022-08-15 10:27:15É a ordem que é repetida tacitamente ao longo das décadas pelos governos sustentados no fanatismo
Ary M do E Sto
2022-08-15 06:19:40Porque todo mundo resolveu se odiar ao mesmo tempo???? Dizem que o começo de todos os séculos e que acontecem, as mudanças que vão se desenvolver a partir daí . Se analisarmos , o que iremos esperar pelo cenário que se avizinha , morte e destruição ????????