"Mercado clama por reviravolta fiscal", diz The Economist
Revista britânica diz que a desvalorização do real é reflexo do "comprometimento insuficiente com a disciplina fiscal"
O real foi a moeda que mais desvalorizou-se frente ao dólar em 2024, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta.
A empresa usou o ranking das 20 maiores economias do mundo.
Até a quarta-feira, 18, o deságio chegou a 24,30%, no dia em que a moeda americana fechou pela primeira vez a R$ 6,26.
No Brasil, a incapacidade de se propor um plano fiscal adequado fez com que os indicadores econômicos fossem ao chão.
The Economist
Uma reportagem da revista britânica The Economist nesta quinta, 19, aponta a descrença do mercado financeiro sobre o pacote de corte de gastos fiscais apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad:
"A queda é alimentada pelo pânico sobre os planos fiscais", diz a revista.
Para a Economist, "o nervosismo é compreensível" em um país com o déficit orçamentário de quase 10% do PIB, e a dívida bruta de quase 90% do PIB.
A revista lembra que Lula anunciou o tão aguardado pacote para conter gastos, incluindo limites a funcionários do setor público, mas que os investidores viram o anúncio final como "insuficiente":
Em novembro, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente de esquerda, anunciou um programa há muito aguardado para conter os gastos, incluindo limites de ganhos para trabalhadores do setor público. Ao mesmo tempo, porém, o ministro das finanças, Fernando Haddad, prometeu cortes extensivos de impostos para trabalhadores de baixa e média renda. Os investidores tomaram o anúncio como prova de comprometimento insuficiente com a disciplina fiscal".
A mesma revista, em novembro, exaltou as medida impopulares adotadas pelo presidente da Argentina, Javier Milei.
Milei acredita no livre comércio e no livre mercado, não no protecionismo; em disciplina fiscal, e não em empréstimos irresponsáveis e, em vez de inventar fantasias populares, diz a verdade de maneira crua", dizia trecho da reportagem.
Intervenções do BC
Tentando conter a alta do dólar, o Banco Central (BC) promoveu várias injeções da moeda no mercado.
Nesta quinta-feira, 19, a autoridade monetária vendeu US$ 8 bilhões, sendo o maior recorde desde 1999.
A revista retratou o esforço do BC, mas disse que "agressividade monetária não está dando conta":
"Mesmo que muitos bancos centrais de mercados emergentes tenham começado a cortar as taxas, seguindo o exemplo do Federal Reserve, os investidores esperam mais aperto monetário no Brasil no próximo ano.
Os títulos do governo de dois anos do país agora rendem mais de 15%, acima dos pouco menos de 10% no final de 2023."
Reviravolta fiscal
Para a Economist, o mercado financeiro está clamando por uma "reviravolta fiscal".
À revista, o chefe de pesquisa econômica para a América Latina, Alberto Ramos, disse que o Brasil precisa "andar para trás":
“Quanto mais você esperar, maior será o risco de que as coisas sejam feitas da maneira mais difícil, e o mercado forçará a correção. Os sintomas de uma crise estão aí", disse Ramos.
Enquanto o governo Lula (PT) diz que a alta do dólar é culpa da "indústria de fake news especulativa", o mercado e o país suplicam por mais responsabilidade fiscal.
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