Marçal não manda nos seus eleitores
O influenciador disse que 45% dos seus votos iriam para Lula e Boulos mas, segundo o Datafolha, foram só 4%
O influenciador e coach Pablo Marçal, que não conseguiu passar para o segundo turno em São Paulo, errou duas vezes ao fazer previsões para a eleição na cidade esta semana.
Primeiro, disse que 45% dos seus votos iriam para o Lula que "com humildade", iria "tomar de volta" esses eleitores. Segundo o Datafolha, míseros 4% dos eleitores de Marçal foram para Guilherme Boulos, o candidato do presidente petista.
Segundo, Marçal disse que Boulos, que até então ele chamava de "Boules", seria o vencedor do pleito. Ainda que faltem duas semanas para as eleições, o Datafolha aponta uma vantagem de mais de 22 pontos para Ricardo Nunes, o atual prefeito.
A questão é que nenhum político, nem mesmo Marçal, tem essa capacidade de direcionar o voto dos seus eleitores, como se fosse um rebanho obediente.
Uma prova de que isso não acontece está no que aconteceu com os eleitores de Tabata Amaral (PSB), que recomendou o voto em Boulos no segundo turno. Metade dos seus eleitores seguiram seu conselho. Outros 33% preferiram o prefeito da capital paulista, também de acordo com o Datafolha.
Por fim, há uma contradição óbvia na posição do candidato derrotado.
Marçal passou o tempo todo atacando Boulos de forma agressiva. Na véspera da eleição, ele divulgou nas redes sociais um laudo falso, em que um médico já falecido dizia que tinha atendido Boulos durante um surto psicótico por uso de cocaína.
Quando Marçal hoje declara que seus eleitores iriam para Lula ou para Boulos, ele dá uma reviravolta tão grande que até para os seus seguidores mais fanáticos fica difícil de entender.
"Ao liberar o voto em Boulos, Marçal cai em contradição. Ele dizia que se tratava de um consórcio comunista e atacou o Boulos como sendo um radical de esquerda", diz o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Prando entende que Marçal conseguiu estabelecer uma conexão profunda com seus eleitores, e que não é impossível que ele consiga direcionar alguns votos.
"O Pablo Marçal tem uma perspecácia e uma capacidade de comunicação muito acima da média. O discurso político dele conjuga o coaching, a teologia da prosperidade e um discurso antissistema. Ele ainda roteiriza e produz o seu próprio enredo de campanha. Então não é impossível que ele consiga alguns votos para o Boulos. Do jeito que as coisas estão, não duvido de mais nada na política brasileira", diz Prando.
As pesquisas, até agora, não mostraram uma transferência de votos de Marçal para Boulos.
Faltam mais duas semanas.
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