Latitude#57: sem demonstrar neutralidade, Brasil não consegue ser líder
A incapacidade do Brasil em assumir uma posição de neutralidade em conflitos regionais, como na disputa entre a Venezuela e Guiana, impede que o país exerça uma liderança na América do Sul. "Desde os anos 90, eu ouvia os militares me contando que os equivalentes deles em outros países perguntavam quando é o que o...
A incapacidade do Brasil em assumir uma posição de neutralidade em conflitos regionais, como na disputa entre a Venezuela e Guiana, impede que o país exerça uma liderança na América do Sul.
"Desde os anos 90, eu ouvia os militares me contando que os equivalentes deles em outros países perguntavam quando é o que o Brasil assumiria a liderança da região. Nós teríamos tudo para fazer isso. Mas, para isso teríamos de buscar uma postura de não ideologização da nossa política externa. Eu concordo muito com o princípio que sir Winston Churchill defendia. Países não têm amigos. Países têm interesses", diz o cientista político Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM e entrevistado no podcast Latitude.
"Dar tanta preferência ao ditador que está na Venezuela cria problemas com a Colômbia e, agora, com a Guiana. Se tivéssemos mantido a nossa tradição de neutralidade, buscando exercer essa liderança como no governo de Fernando Henrique Cardoso. No comecinho do governo Lula parece que estava indo nessa direção... Mas aí descambou e aí fica difícil a gente conseguir uma liderança no momento em que a América do Sul está muito fragmentada, com países com sérios problemas internos", disse Rudzit.
Para o cientista político, caso o Brasil estivesse de fato com uma posição neutra, as negociações entre Maduro e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, estariam ocorrendo em território brasileiro. "O presidente Lula demorou para se colocar fortemente e eu acredito que foi por uma pressão muito grande dos militares para ele finalmente começar a se pronunciar contra essas intenções do Maduro", disse Rudzit. "O presidente Lula é um companheiro de Maduro. Ele já relativizou a ditadura venezuelana e por isso recebeu até né reprimendas, entre aspas, do presidente Gabriel Boric do Chile, que é de esquerda, e do Lacalle Pou, do Uruguai, que é de direita. Os dois reprimiram o Lula por dizer que que a Venezuela não é uma ditadura", disse Rudzit.
Rudzit também afirma que os tanques e mísseis brasileiros não estão à altura dos venezuelanos. "Com todo respeito às nossas Forças Armadas, em especial ao Exército, os blindados que estão lá, principalmente os Cascavéis que são da década de 1970, por mais que tenham sido modernizados, não são páreos para o T72 russos que a Venezuela tem", disse o cientista político. "A nossa sorte é que boa parte desses tanques russos não estão em condições de combate. Na verdade, as Forças Armadas venezuelanas não estão em condições de combate. E por isso a gente ainda tem um certo tempo para se preparar."
Latitude é um podcast semanal sobre os principais fatos da política internacional e da diplomacia brasileira que vai ao ar todos os sábados, às 18h.
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Comentários (1)
Odete6
2023-12-24 07:29:04Lógico!!!!! Como um país desgovernado desde há 2 décadas por mentecaptos ignorantes, atrasados, burros, incompetentes, perversos e marginais, pode liderar alguma coisa a não ser as quadrilhas de seus pares?????