Israelenses cercados em avião na Rússia disseram ter temido por suas vidas
No voo da Red Wings que chegou à cidade russa de Makhatchkala, neste domingo (29) vindo de Israel, havia 15 passageiros israelenses. Alguns deles disseram ter temido pela própria vida ao notar que eram o alvo da fúria de manifestantes que invadiram a pista e o terminal do aeroporto, localizado no sul da Rússia, para...
No voo da Red Wings que chegou à cidade russa de Makhatchkala, neste domingo (29) vindo de Israel, havia 15 passageiros israelenses. Alguns deles disseram ter temido pela própria vida ao notar que eram o alvo da fúria de manifestantes que invadiram a pista e o terminal do aeroporto, localizado no sul da Rússia, para tentar impedir a chegada de judeus no local— em um episódio que lembra os pogroms de outros séculos no país.
A um jornal israelense Yedioth Ahronoth, um desses passageiros explicou a situação. "Vimos pessoas correndo na pista e jogando pedras em nosso ônibus", disse o entrevistado, identificado como Shmuel. "Dentro do ônibus que nos tirou do avião havia crianças gritando e uma garota já estava machucada com estilhaços de vidro que voaram nela. Não sei se ela era israelense ou local, mas havia uma grande bagunça ali, era assustador"
Enquanto pessoas perseguiam o ônibus, garante o passageiro, um pequeno contingente da polícia assistia a cena, sem agir. Quando os manifestantes finalmente alcançaram o ônibus, eles já estavam em centenas. "Eles entraram e perguntaram um por um se éramos judeus ou muçulmanos. Eu disse que eu era um muçulmano, porque eu tinha medo de morrer", disse. "Felizmente eles me acreditaram e continuaram". Também ajudou o fato de alguns judeus falarem russo e terem passaporte de Moscou.
A cidade de Makhatchkala é a principal do Daguestão, uma república sob controle direto de Moscou na região do Cáucaso. Beirando o Mar Cáspio e vizinha ao Azerbaijão e à Chechênia (outra república parte da Rússia), o local historicamente tem maioria muçulmana — mas, até pouco tempo atrás, não prevalecia nesta população o sentimento antissemita.
Um cenário de domínio de Putin e aumento da desinformação (de controle estatal ou não) podem ter virado esse jogo radicalmente. "O que estamos assistindo no Daguestão - região que faz fronteira com o Azerbaijão e Geórgia e por onde passam os gasodutos e oleodutos que ligam a produção de hidrocarbonetos do Mar Cáspio à Federação Russa - pode ser fruto da radicalização das lideranças muçulmanas do Cáucaso", diz o historiador Heitor Loureiro, "tanto por conta da Guerra de Nagorno-Karabakh, quanto por uma percepção que o Kremlin não condenou com veemência os ataques israelenses a Gaza."
A perseguição a judeus também ecoa os pogroms, conceito que define a perseguição a um grupo étnico. O pogrom realizado pelo Império Russo entre 1881 e 1884, um dos mais relevantes em todos os tempos, levou a uma diáspora de judeus por todo o mundo, com efeitos perdurando até 1920.
O Departamento de Estado dos EUA chegou a defender que o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, aumentou a chama antissemita de Moscou. "O ecossistema de desinformação e propaganda da Rússia procurou então apoiar as falsas alegações das autoridades, atacando ainda mais Zelenskyy, alegando as supostas origens judaicas de Hitler e tentando desacreditar os líderes israelenses", disse o Departamento de Estado, sobre o tema.
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