Histrionismo parlamentar só atrapalha acordo de livre comércio
Medidas de "reciprocidade econômica" no Parlamento vão contra os interesses nacionais e podem inviabilizar negociações
Um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia é do interesse de latino-americanos e de europeus.
Mas o desentendimento entre o Carrefour França, os frigoríficos brasileiros, o Ministério da Agricultura e a Câmara dos Deputados em nada ajuda aqueles que querem fechar esse acordo.
O problema, em si, é minúsculo.
Aqueles que o tornam grande só contribuem para prejudicar sua viabilidade, se é que ainda há alguma.
0,002%
O mercado francês consome apenas 0,002% da carne in natura exportada pelo Brasil.
Se o Carrefour França não quer comprar carne do Mercosul, o impacto econômico disso é mínimo.
O melhor seria ignorar a medida e tentar negociar, nos bastidores, a retomada do fornecimento.
A reação do Ministério da Agricultura e dos frigoríficos brasileiros provavelmente teve como motivo a preocupação com o dano à imagem do Brasil, uma vez que o comunicado do Carrefour França alegava razões sanitárias.
Mas vale notar que nenhuma outra empresa francesa ou europeia seguiu o caminho do Carrefour França.
Histrionismo parlamentar
Quando o Ministério da Agricultura, os frigoríficos e até parlamentares reagem de maneira exagerada, saem perdendo todos os brasileiros que querem o acordo Mercosul União Europeia.
Na Câmara dos Deputados, o presidente Arthur Lira disse que irá pautar "medidas de reciprocidade econômica" com a França.
A ideia é resgatar um projeto de lei do deputado Tião Medeiros, do PP.
O texto fala em vedar a participação brasileira em acordos "que possam representar restrições às exportações brasileiras e ao livre comércio, quando os outros países ou blocos de países signatários não adotarem em seu marco legal e regulatório instrumentos equivalentes".
Encontrar pretextos para o Brasil não assinar acordos comerciais vai contra os interesses nacionais, uma vez que acordos de livre comécio podem ser positivos para o país e são desejados há muito tempo pelas empresas exportadoras.
"Se de fato isso ocorrer por meio da votação do projeto que estabelece 'reciprocidade econômica', conforme mencionou o presidente da Câmara, entendo que é uma resposta irrazoável. Na prática, o projeto impede a participação em acordos comerciais que, de alguma maneira, contenham restrições comerciais. Mesmo acordos de livre comércio eventualmente possuem esse tipo de restrição. Então, ele pode prejudicar o Brasil, econômica e comercialmente", diz Thiago Vidal, diretor de análise política da Prospectiva.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)