Haddad na torcida contra a inflação
Depois de Lula dizer que não prevê "outra medida fiscal" para 2025, ministro da Fazenda aposta na safra brasileira deste ano e na "acomodação do dólar" para queda nos preços
Enquanto o Banco Central luta sozinho para controlar a inflação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (foto), torce para que a alta nos preços seja contida por fatores alheios ao governo Lula — que não demonstra intenção de conter seus próprios gastos para colaborar com a missão de Gabriel Galípolo.
Horas depois de Lula dizer que não haverá "outra medida fiscal" para equilibrar as contas públicas no que depender dele, Haddad disse em entrevista à Rede TV, na noite de quinta-feira, 30, que a redução da inflação deve depender de uma boa safra neste ano e da "acomodação do dólar".
"É um problema que está preocupando muito o presidente Lula, porque, em 2023 e até meados de 2024, nós vínhamos muito bem com a questão do preço de alimentos, estava caindo bastante, em função em função de vários fatores", disse o ministro ao começar a responder questão sobre o controle da inflação.
"Alguns problemas importantes"
"Primeiro, a produção. A produção agrícola brasileira em 2023 foi muito boa. Depois, nós tivemos uma queda do dólar, no começo do governo, bastante significativa. Começou o ano de 2023 em 5,30 [reais], 5,40 [reais], caiu para menos de 5 reais, chegou a 4,70 [reais] em 2023 ainda. E depois nós começamos a ter alguns problemas importantes", seguiu Haddad.
"O primeiro deles foi o comportamento do Banco Central americano, que tinha uma previsão de começar cortes significativos de juros a partir de março do ano passado. E, por razões domésticas, superaquecimento da economia americana, o Banco Central americano não cortou os juros como estava previsto. Isso fez com que o dólar se valorizasse no mundo muito fortemente", comentou o ministro, sem mencionar que o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo em 2024.
O segundo problema, de acordo com Haddad, foi interno: "Seca no Centro-Oeste, a tragédia do Rio Grande do Sul, que afetou produção agrícola".
"Então, nós imaginamos que, este ano, em função da safra, que vai vir muito boa, pelo menos é o que todas as projeções sugerem, e com uma acomodação do dólar num patamar mais baixo do que o previsto pelo mercado, os preços dos alimentos tendem a se acomodar, ainda num patamar elevado, até que a produção corrija essa distorção de preços e ele volte ao patamar mais adequado", seguiu.
"Aquecimento da economia brasileira"
"Além disso, a renda das famílias teve um aumento muito significativo em função do aquecimento da economia brasileira. O Brasil vem de um longo período de crescimento baixo. mas, nos dois primeiros anos do governo do presidente Lula, a economia cresceu, em dois anos, quase 7%, 3,2% em 2023, e as estimativas é de 3,5% a 3,6% em 2024. Então, a demanda por produtos agrícolas aumentou no Brasil, e, em virtude da abertura de mercados para a produção brasileira, também a demanda do mundo pelos produtos brasileiros aumentou", finalizou Haddad, omitindo mais uma informação importante: o governo Lula contribuiu para o aumento dos preços, aquecendo a economia com gastos irresponsáveis.
Após confirmar que não pretende tentar controlar a inflação da única forma que poderia — organizando as contas públicas —, mas que o governo continua estudando subterfúgios para conter a alta nos preços dos alimentos, Haddad partiu para o ataque contra o que chamou de "economistas de jornal", que estariam sendo injustos com os alegados esforços do governo Lula para controlar o gasto público.
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"Não consigo entender o argumento de que o governo não está fazendo a sua parte", reclamou o ministro, dizendo que os governos Temer e Bolsonaro "tiveram déficits muito inferiores ao que está sendo observado agora". Haddad fez a comparação em tom de desafio ao "chamado mercado", ignorando que o governo Lula expandiu muito a quantidade autorizada de gastos antes mesmo de começar, na PEC da Transição, e, mesmo assim, colheu déficits.
Os agentes econômicos desconfiam do governo Lula porque têm razões para desconfiar, e não por razões ideológicas, como sugeriu o ministro na entrevista. Pelo que se pôde ver nas entrevistas concedidas por Haddad e Lula na quinta-feira, o plano do ministro da Secom, Sidônio Palmeira, é fazer o governo errar com convicção.
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