Groenlândia não pode ser usada para normalizar invasão da Ucrânia
Possibilidade de uma invasão americana só existe na cabeça do vice-presidente JD Vance e do ditador russo Vladimir Putin

Esqueça a declaração de Trump do presidente americano Donald Trump de que "vamos ter que tomar posse deste imenso território ártico".
Não existe a possibilidade de os Estados Unidos invadirem a Groenlândia, que pertence à Dinamarca, para "tomar posse".
O que existe é um esforço do vice-presidente americano JD Vance (foto) para normalizar a invasão russa da Ucrânia.
O raciocínio dele é: se os Estados Unidos podem invadir a Groenlândia, então por que reclamar da invasão russa da Ucrânia?
Não é por acaso que o ditador russo é quem mais tem dado crédito à possibilidade de uma invasão americana na Groenlândia.
"Esses planos têm raízes históricas", disse Putin nesta quinta, 27.
"É óbvio que os EUA continuarão a avançar de forma sistemática seus interesses geoestratégicos, militares, políticos e econômicos no Ártico", afirmou o ditador.
Raízes históricas
JD Vance e Putin tentam pinar um quadro dos EUA o mais parecido possível com a Rússia.
Mas as "raízes históricas" desses dois países são muito diferentes.
Os Estados Unidos, para começar, não são um império expansionista.
O país começou a ser criticado como imperialista depois da guerra contra a Espanha, em 1898.
O conflito, que começou com a explosão de um navio militar americano em Havana, Cuba, acabou com a vitória dos Estados Unidos.
O vencedor, então, ganhou vários países: Cuba, Filipinas, Porto Rico e as ilhas Guam no Oceano Pacífico.
Basta ver o que aconteceu com cada um deles em seguida para entender que os Estados Unidos não são um império expansionista.
Cuba e Filipinas tornaram-se independentes.
Porto Rico mantém-se uma colônia até hoje por desejo de seus habitantes.
Guam foi tomada pelos japoneses na Segunda Guerra Mundial. Depois da vitória dos aliados, tornou-se uma base militar americana. É insignificante sob qualquer outro aspecto.
Quando críticos falam que os Estados Unidos são um império, eles se referem principalmente à capacidade econômica americana, não ao domínio militar e político.
União Soviética
Apesar das vitórias americanas militares no Oriente, os Estados Unidos não incorporaram países como o Japão ou a Coreia do Sul.
História totalmente diferente ocorreu nos países europeus em que o Exército Vermelho, da União Soviética, venceu os nazistas.
A União Soviética assumiu vários países da Europa do Leste, interferindo em eleições e jogando rivais políticos pela janela (a conhecida defenestração, técnica também usada atualmente por Putin).
Os países que não foram incorporados pela União Soviética foram integrados militarmente pelo Pacto de Varsóvia, em 1955.
Esses países só ganharam a independência depois de 1991, com a implosão da União Soviética.
Putin é um saudosista que quer reconstruir a extensão territorial e o poder global que seu país já teve no passado.
Para tanto, invadiu a Geórgia em 2009 e a Ucrânia em 2014 e 2022.
Groenlândia
Trump não vai invadir a Groenlândia porque isso lhe traria enormes dores de cabeça.
Um dos motivos de os americanos terem votado nele no ano passado foi retirar os Estados Unidos de todas as "guerras inúteis" pelo mundo.
Não faria sentido iniciar uma guerra inútil agora.
Além disso, não seria fácil incorporar um novo território.
Os Estados Unidos são uma república federativa formada por 50 estados, em que todos disputam poder entre si e lutam para conter os avanços da União.
A Groenlândia teria direito a representantes na Câmara e no Senado em Washington? Quem aceitaria isso?
Essa é uma discussão tresloucada, que ignora o passado dos Estados Unidos e o funcionamento da democracia americana, mas que serve muito bem a Putin — e ao vice-presidente americano JD Vance, que já merece uma estátua no Kremlin.
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Comentários (1)
Silvana
2025-03-28 12:27:57Excelente análise .