'Esta é uma guerra infinita contra o imperador Xi Jinping', diz ativista de Hong Kong
Com apenas 20 anos, Joshua Wong (foto) acordava todos os dias na prisão de Pik Uk, em Hong Kong, para uma marcha matinal em que era obrigado a gritar a plenos pulmões: "Bom dia, senhor! Eu, Joshua Wong, preso número 4030XX, fui condenado por reunião ilegal!". O jovem estudante tinha pego seis meses de cárcere,...
Com apenas 20 anos, Joshua Wong (foto) acordava todos os dias na prisão de Pik Uk, em Hong Kong, para uma marcha matinal em que era obrigado a gritar a plenos pulmões: "Bom dia, senhor! Eu, Joshua Wong, preso número 4030XX, fui condenado por reunião ilegal!". O jovem estudante tinha pego seis meses de cárcere, em 2017, por ser um dos líderes do Movimento dos Guarda-Chuvas, em que milhares saíram às ruas em defesa da democracia na antiga colônia britânica.
Desde que se tornou um dos rostos mais conhecidos das manifestações, Wong passou a ser monitorado e perseguido pelas forças do Partido Comunista de Pequim. No início de julho, com a entrada em vigor da lei de segurança nacional, os livros escritos por Wong sumiram das bibliotecas públicas. Ele também teve a sua candidatura suspensa para a Assembleia Legislativa local. De Hong Kong, Wong, que aos 23 anos acaba de ter sua biografia Democracia Ameaçada lançada no Brasil, respondeu a perguntas de Crusoé por vídeo.
Como a nova lei de segurança nacional mudou a rotina dos moradores de Hong Kong?
A nova lei não mudou nosso comportamento. Só nos deu mais coragem. Confirmou que estávamos no caminho certo e aumentou nosso compromisso com a liberdade. Quando a lei entrou em vigor, no dia 1º de julho, centenas de milhares de habitantes de Hong Kong foram para as ruas. Em meados de julho, eles organizaram um referendo para mostrar o descontentamento com Pequim. Os partidos democráticos também fizeram uma eleição primária, em que mais de 600 mil pessoas participaram. Isso tudo mostra que não seremos silenciados. Mesmo que eles prendam o ativista Agnes Chaw ou o empresário das comunicações Jimmy Lai, mesmo que eles mandem carros ou agentes de bicicleta para nos perseguir, continuaremos lutando.
Como essa nova lei alterou sua vida?
Os livros que eu publiquei há alguns anos foram banidos das bibliotecas públicas. É uma evidência de que o Partido Comunista está tentando censurar meus textos. Além disso, os agentes de segurança nacional me seguem todos os dias. Obviamente, estou preocupado com o que pode acontecer comigo no futuro. Mas acredito que ainda não exista razão para a gente desistir. Não vejo razão para pararmos com nossos protestos. Mesmo que seja um pouco difícil para a gente mobilizar as pessoas neste momento com a pandemia do coronavírus, ainda acho que precisamos aproveitar o momento, apoiando a imprensa que é a favor da democracia, frequentando os restaurantes que são a favor da nossa causa e as organizações da nossa sociedade civil. Este não é o fim da democracia em Hong Kong. O jogo não acabou. Esta é uma guerra infinita contra o imperador Xi Jinping.
A China está usando a tecnologia para controlar a população de Hong Kong?
O Partido Comunista tem usado a mesma tecnologia que foi aplicada na província de Xinjiang, contra as minorias de uigures, em Hong Kong. Diversas companhias de tecnologia ao redor do mundo, incluindo uma firma israelense, forneceram equipamentos e tecnologia ao governo comunista para eles nos espionarem, infringindo os direitos de privacidade que todos nós deveríamos ter garantidos. Isso é terrível. E isso não é utilizado apenas para monitorar os que moram em Hong Kong, mas também pessoas que vivem em todo o mundo. Na China, especialistas são recrutados para exercer essa função em um centro de inteligência nacional.
O sr. tentou se candidatar para a Assembleia Legislativa em Hong Kong. O que aconteceu?
A ditadura não quer que críticos ao regime possam participar das eleições. Por isso, terminou cancelando o pleito. Eles querem uma Assembleia Legislativa em Hong Kong que apenas carimbe as decisões do Congresso Nacional do Povo, em Pequim. Isso não é algo bom para Hong Kong, assim como não seria bom para o Brasil. É importante que os brasileiros entendam que, mesmo que sejamos países diferentes, com histórias distintas, devemos atuar em solidariedade para defender os valores que todos nós respeitamos.
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Comentários (7)
Jenisvaldo
2020-08-24 17:22:33Me faz pensar no Brasil, em que a opinião está virando crime, jornalistas estão sendo presos
Natália
2020-08-24 11:42:11Me faz pensar no Ministério da Justiça, monitorando servidores que não aprovam o governo atual. Ditaduras partidária têem muitas faces.
Cecília
2020-08-24 11:21:12Muito tocante essa entrevista. Tão jovem. Que sejam abençoados nessa luta tão árdua Qto nobre. Fico horrorizada de imaginar que o Brasil possa perder essa liberdade.
Jose
2020-08-24 08:01:44A liberdade é um valor da humanidade somente apreendida por povos que escaparam da mediocridade ideológica dos séculos anteriores. Alguns ainda têm coragem de declarar que Deus é Socialista. É como Ele mesmo declara de si mesmo: ‘Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais
Odete6
2020-08-24 04:07:51É isso: ninguém deve ser e se manter colonizado de ninguém!!!! Jamais!!!!
Jose
2020-08-23 21:44:31Quando eram colônia da Inglaterra reclamavam! Depois que passaram para a China, reclamam também. A lição é a seguinte: a situação sempre pode piorar...Esta lição o Brasil deve saber de muito bem!
Gustavo
2020-08-23 19:05:41Bela entrevista..