Enfim, uma direita para a Bolívia
O publicitário boliviano Andrés Ortega sempre foi um estranho no ninho. Assumidamente de direita e liberal, ele tinha dificuldade em encontrar colegas com o mesmo pensamento em seu país. Em 2014, Ortega abandonou seu posto de deputado pela Convergência Nacional, um partido de oposição ao presidente Evo Morales, e começou a lutar pela criação de...
O publicitário boliviano Andrés Ortega sempre foi um estranho no ninho. Assumidamente de direita e liberal, ele tinha dificuldade em encontrar colegas com o mesmo pensamento em seu país. Em 2014, Ortega abandonou seu posto de deputado pela Convergência Nacional, um partido de oposição ao presidente Evo Morales, e começou a lutar pela criação de uma agrupação de direita. Seu objetivo foi concretizado no último dia 9 de novembro, data que marca a queda do Muro de Berlim. A Aliança Liberal já conta com 150 integrantes, sendo que apenas uma dúzia tem experiência na política. Segue entrevista que ele deu a Crusoé, pelo telefone.
Como o sr. vê a posse de Jair Bolsonaro no Brasil? Para nós, que somos de direita e propomos o capitalismo de livre-mercado, a eleição de Bolsonaro foi um grande alívio. Na realidade, foram duas boas notícias nos últimos tempos. A primeira foi a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos. Com isso, deixamos de ter os democratas Barack Obama e Hillary Clinton como aliados de Evo Morales. Com a vitória de Bolsonaro no Brasil, recebemos a segunda boa notícia.
Obama era aliado de Evo Morales? Sim, e isso nos prejudicou muito. Na época de Obama, havia gente na embaixada americana que contava para os funcionários do governo do Movimento ao Socialismo (MAS) sobre as conversas que tinham com os opositores. Eles chegavam a esse ponto... Sei disso porque os membros do governo falavam conosco sobre isso. Eles nos diziam o que tinham ficado sabendo a partir das reuniões com os americanos. Era uma aliança muito clara. Além disso, a filha mais velha de Obama, Maila, veio para a Bolívia para um trabalho social em 2016, quando seu pai ainda era presidente. Não é o tipo de coisa que aconteceria se os americanos tivessem adversários em La Paz.
Há outros partidos liberais de direita na Bolívia? Não. É triste, mas somos o primeiro grupo que se apresenta como liberal na economia e conservador nos costumes desde 1921. Todos os outros são de esquerda. O Partido Liberal governou a Bolívia entre 1899 e 1920. Algumas pessoas me perguntam o que o governo fez nesse período. Eu respondo que não fez nada. O que o governo fez foi deixar que a população tomasse a iniciativa. Com isso, a pobreza caiu. A expectativa de vida pulou de 30 anos e foi para 45 anos nesse período. O PIB cresceu, em média, 10% ao ano. Os barões do estanho, Mauricio Hochschild, Carlos Aramayo e Simon Patino, empresários privados, desenvolveram o país. Tudo foi bem até que, em 1920, o Partido Republicano Socialista deu um golpe de estado e destruiu a economia. Desde então, não tivemos mais um partido de direita na Bolívia.
Por que não surgiu um partido de direita em todas essas décadas? O socialismo é muito violento. Quando se apresentava uma força mais ou menos divergente, ela era eliminada de forma cruenta. Não havia como tentar uma linguagem diferente. Além disso, governos de países vizinhos deram força a esses socialistas e a esquerda dominou o ambiente intelectual. Nos anos 1930, a esquerda tomou o controle total da educação no país. Há sessenta anos, não se ensina absolutamente nada sobre o capitalismo de mercado ou sobre qualquer teoria de direita, nem liberal nem conservadora, nas universidades bolivianas. Na Bolívia, não se fala de Friedrich Hayek ou de Ludwig von Mises e os melhores alunos do socialismo são os estudantes dos colégios particulares mais prestigiosos. Alguns dizem que isso aconteceu porque a população não queria outra coisa. É mentira. O ponto é que não era possível conhecer outra coisa.
Bolsonaro falou no discurso de posse que o Brasil começou a ser libertado do socialismo. É uma frase que eu festejo muito. A esquerda tem uma ideia equivocada da realidade. Este é o problema da Bolívia há mais de noventa anos. Se Bolsonaro diz que vai deixar o socialismo, então acho que é uma grande coisa, porque no Brasil também não existiu uma alternativa real ao socialismo.
É muito difícil explicar o liberalismo para os bolivianos? Na prática, os bolivianos são muito liberais e capitalistas. A maior parte do nosso povo é assim. Perto de La Paz, há uma zona na cidade de El Alto chamada Feira 16 de Julho. É um mercado a céu aberto enorme, com várias quadras. O que reina lá é o total e absoluto capitalismo de livre-mercado. Não há impostos, nem autoridades. Também não há desemprego nem delinquência organizada. Muita gente da Feira 16 de Julho conseguiu juntar dinheiro e hoje é milionária. A cidade de El Alto, atualmente, é como a antiga Berlim, dividida em duas. Metade da população depende do estado e é muito pobre. A outra parte é gente muito rica que fez dinheiro com o capitalismo de mercado, trabalhando duro e investindo. O cidadão boliviano comum acha que o trabalho é uma boa forma de sair da pobreza. O único problema é que ninguém disse a ele que o que ele faz é capitalismo de livre-mercado, a principal bandeira da direita. Nas escolas, o que se ensina é que o socialismo é bom e a direita é má. Que o socialismo dá tudo e a direita tira tudo. Mas quando falamos a verdade, que o que eles fazem é capitalismo, os bolivianos ficam encantados. É o que eles fazem todo dia.
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Comentários (7)
Silas
2019-01-09 11:54:08Boas sementes a esse pobre continente adulterado por ideologia e ações intoxicantes da esquerda
André
2019-01-07 21:49:43Que acabe com a miséria desse povo.
Bruno
2019-01-07 16:31:38Deus os abençoe.
Carlos
2019-01-07 14:11:54Maravilhosa notícia! Que venham os novos tempos.
Marlon
2019-01-07 13:29:23SOCIALISMO é uma utopia, e como toda utopia, não leva a lugar algum. e essa ideológica fracassada se distância da realidade. quando confrontam pessoas com a realidade dos fatos, percebe-se que a população é mais conservadora, liberal e capitalista que se imagina. sucesso aos Bolivianos engajados nessa luta para derrubar a esquerda na Bolívia!
Antonio
2019-01-07 12:17:03Ortega e Duda Teixeira parece que se esqueceram ou nunca souberam que houve ditadura militar na Bolivia e que saiba, não era de esquerda. Por sinal, foi lá que deram um metecido fim ao bandido sanguinário guevara
Alexsander
2019-01-07 12:14:46Boa iniciativa. Boa sorte na luta. Um dia conseguirão eliminar este estado, que parasita na vida dos indivíduos. Se chegarem ao poder armem sua população e realizem a abolição do Estado.